Vereador do PT em Curitiba é cassado por participar de protesto em igreja
Com a decisão, ele perde os direitos políticos por oito anos. Ainda podendo recorrer da medida na Justiça, a oposição vê racismo na decisão
10:46 | Jun. 23, 2022
O vereador Renato Freitas (PT) teve seu mandato cassado na Câmara Municipal de Curitiba, no Paraná, devido a um ato na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no dia 5 de fevereiro deste ano. Na ocasião, Renato participou de uma manifestação dentro do templo religioso contra o assassinato do congolês Moïse Kabagambe e o racismo. A Arquidiocese de Curitiba repudiou a manifestação, entendendo que houve “agressividades e ofensas”. E que a ação caracterizou profanação injuriosa, e a “lei e a livre cidadania foram agredidas”.
Uma semana após o acontecido, a Câmara de Curitiba já havia admitido quatro representações contra o parlamentar petista, por meio dos vereadores Eder Borges (PSD), Pier Petruzziello (sem partido), Pastor Marciano Alves e Osias Moraes, ambos do Republicanos, além dos advogados Lincoln Machado Domingues, Matheus Miranda Guérios e Rodrigo Jacob Cavagnari.
Nesta quarta-feira, 22, com 25 votos a favor, a cassação do mandato de Renato foi aprovada pela Casa. Eram necessários apenas 20 votos, dentre os 38 parlamentares. Apenas cinco deles foram contrários à medida. Renato é parlamentar de primeira viagem e, com a decisão, ele perde seus direitos políticos por oito anos.
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Um dia antes, Renato comentou em uma rede social que foi “surpreendido” com uma notícia que circulava na mídia acerca da convocação de uma sessão plenária especial para decidir sobre a cassação do seu mandato. Segundo ele, “não houve interrupção de missa nem invasão de igreja. É o que diz o próprio relator do processo ético disciplinar no Conselho de Ética”, escreveu.
“Todos os integrantes que se declaram negros votaram contra a cassação e isso significa alguma coisa. Temos aliados na luta antirracista, mas a maioria dos vereadores que é branca votou a favor da cassação”, lamentou a vereadora Carol Dartora (PT). Ela identificou na decisão “um golpe contra a democracia, contra a pluralidade e contra o povo preto”.
O curioso é que tendo se passado um mês do ocorrido, a própria Arquidiocese de Curitiba encaminhou documento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Legislativo municipal, pedindo que o mandato de Renato Freitas não fosse cassado.
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Em uma audiência virtual feita em março, o padre Julio Lancellotti saiu em defesa do parlamentar ao se dirigir a assessores de vereadores do legislativo da capital paranaense. “Ficou claro é que vocês (Renato e os demais manifestantes) não contestaram a fé dos que estavam dentro da igreja. Não tocaram em nenhum objeto considerado sagrado dentro da igreja, não contestaram nenhum momento celebrativo, não interferiram em nenhuma celebração. A profanação tem de ter autoria e materialidade. Não há o fato e nem a autoria. Não foi abreviado o culto. Nós temos de abreviar a fome. Não podemos usar nada irrelevante, falso, fabricado por ódio, racismo, amor à mentira. Isso é inaceitável.”
Além de Lancellotti, o pastor Ariovaldo Ramos, o teólogo Leonardo Boff e o diretor executivo da Educafro (um projeto voltado para o movimento negro nas universidades), Frei David, saíram em defesa do parlamentar na época.
Com 5.097 votos recebidos em 2020, Renato Freitas foi o 16º candidato a vereador mais votado em Curitiba. Professor universitário e advogado popular, ele já havia disputado uma vaga na Câmara e outra na Assembleia Legislativa do Paraná, em 2018, quando teve mais de 15 mil votos.