Mortes de Dom e Bruno: o que se sabe, e o que falta esclarecer sobre o caso

Os "remanescentes humanos" achados pela equipe de buscas ao indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips no Vale do Javari chegaram nesta quinta-feira, 16, a Brasília

13:47 | Jun. 17, 2022

Por: Filipe Pereira
Forças-tarefa vão para o local onde os corpos do especialista indígena brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips seriam enterrados depois que um suspeito indicou o local, em Atalaia do Norte (foto: JOAO LAET / AFP)

O superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, confirmou, na última quarta-feira, 15, o achado de "remanescentes humanos" pela equipe de buscas ao indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips no Vale do Javari. Com a chegada em Brasília, nesta quinta-feira, 16, os fragmentos começarão a ser examinados pelo Laboratório de Perícia Técnica da Polícia Federal, nesta sexta-feira, 17, para que se confirme a identidade dos corpos, e detalhes de como eles foram mortos.

A corporação informou que os remanescentes estão sendo coletados e serão enviados para perícia para identificação dos corpos, nesta sexta. “Sendo comprovados que esses remanescentes são relacionados ao Dom Philips e ao Bruno Pereira, nós vamos restituir mais breve possível às famílias”, afirmou o delegado da PF ao G1. Pela avaliação dos investigadores, será possível realizar um teste de DNA para a identificação dos restos mortais.

No geral, a PF ampliou as investigações e, segundo informações coletadas até o momento, o caso possui três suspeitos de envolvimento direto na morte de Bruno e Phillips, um suposto envolvido na tentativa de ocultar os restos mortais, já recolhidos pela PF, que podem ser do jornalista e do indigenista. Confira todos os detalhes da investigação e o que ainda não se sabe sobre o caso:

Desaparecimento

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil, estavam desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas.

De acordo com a coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), as vítimas  chegaram na sexta-feira, 3, ao Lago do Jaburu, nas proximidades do Rio Ituí, para que o jornalista visitasse o local e fizesse entrevistas com indígenas.

Segundo a Unijava, no dia 5, os dois deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte, após parada na comunidade São Rafael, para que o indigenista fizesse uma reunião com uma pessoa da comunidade apelidada de "Churrasco". No mesmo dia, uma equipe de busca da Unijava saiu de Atalaia do Norte em busca de Bruno e Dom, mas não os encontrou e eles foram dados como desaparecidos.

Assassinato

Após dias de investigações, foi descoberto que os dois foram assassinados no Vale do Javari,  após um "embate" no qual os suspeitos fizeram "disparo de arma de fogo", segundo Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, pescador que confessou o crime em depoimento à Polícia Federal. O irmão de Amarildo, Oseney da Costa Oliveira, conhecido como Dos Santos, também está preso.

Um terceiro pedido de prisão pode ser expedido ainda nesta semana e o inquérito tenta esclarecer se o caso tem ligação com crimes anteriores desses mesmos suspeitos.

Motivo do crime

A motivação do crime ainda é incerta, mas a PF apura uma possível relação com a atividade de pesca ilegal na região. 

Como foram mortos?

Após confessar o crime, Amarildo da Costa indicou o local onde estavam os fragmentos de corpos. Ele foi ao local com uma equipe da PF. No entanto, na quinta-feira, a PF não achou, em novas buscas, o barco em que viajavam Dom e Bruno. A teoria é que a embarcação teria sido afundada por Pelado, com a ajuda de sacos de terra.

O superintendente da corporação afirmou que Pelado e os outros suspeitos primeiro tiraram o motor do barco e afundaram. Depois colocaram sacos de terra dentro da embarcação e fizeram com que ela afundasse.

Testemunhas ouvidas pelos investigadores afirmam ter visto Pelado perseguindo a lancha usada pelas vítimas. O suspeito teria alcançado Dom e Phillips nas proximidades da comunidade São Rafael, situada nas margens do rio Itaquaí. Pelado estaria em perseguição com alta velocidade e estaria acompanhado de outras quatro pessoas, que ainda não foram identificadas. 

Uma testemunha considerada chave afirmou que viu Pelado carregar uma espingarda e fazer um cinto de munições e cartuchos pouco depois que o indigenista e o jornalista inglês deixaram a comunidade São Rafael com destino à Atalaia do Norte.

O crime teve mandantes?

A Polícia Federal disse nesta sexta-feira, 17, que os assassinos “agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito". Segundo nota da PF, as investigações indicam que mais pessoas podem ter participado da execução do jornalista britânico e do indigenista brasileiros, que desapareceram no dia 5.

Em nota, a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) rebate a teoria da PF de que as mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips não tiveram um mandante. No documento, a Univaja defendeu que a posição da PF “desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021”. A organização diz que documentos indicam a existência de um grupo criminoso organizado atuando em invasões “constantes” à Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Os integrantes seriam caçadores e pescadores profissionais, supostamente envolvidos nos assassinato de Bruno e Philips.

Veja a íntegra da nota da PF

“O Comitê de crise, coordenado pela Polícia Federal/AM, informa que hoje, 17 de junho, as buscas pela embarcação utilizada por Bruno Pereira e Dom Phillips continuam, contando, inclusive, com o apoio dos indígenas da região e dos integrantes da UNIJAVA. Informa, também, que as investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito. Por fim, esclarece que, com o avanço das diligências, novas prisões poderão ocorrer.”