MPF aponta interferência ilegal de Bolsonaro em escândalo no MEC e caso volta ao STF
Procuradoria implica diretamente o presidente da RepúblicaO Ministério Público Federal pede que seja investigada "possível interferência ilícita" do presidente Jair Bolsonaro (PL) no escândalo de corrupção no Ministério da Educação (MEC), no qual são suspeitos o ex-ministro Milton Ribeiros e pastores próximos ao presidente. Pela possibilidade de chegar ao chefe do Poder Executivo federal, o juiz Renato Coelho Borelli, da 15ª Vara Federal Criminal, remeteu o inquérito da Operação Acesso Pago de volta ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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São encaminhadas, assim, ao STF gravações de interceptações telefônicas do ex-ministro. De acordo com o MPF, o áudio mostra indício de vazamento da operação policial, deflagrada na quarta-feira, 22.
Será investigado se Bolsonaro cometeu crime de violação de sigilo funcional com dano à Administração Judiciária e favorecimento pessoal. O procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes aponta envolvimento direto do presidente da República e considera haver "indícios de igual interferência na atividade investigatória da Polícia Federal quando do tratamento possivelmente privilegiado que recebeu Milton Ribeiro."
O delegado Bruno Calandrini apontou que Ribeiro teria tido tratamento privilegiado, "com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília." O ex-ministro não foi conduzido ao Distrito Federal e nem levado a unidade penitenciária para ser interrogado pela autoridade policial que conduz a investigação. A Procuradoria destaca que havia "farta estrutura disponível" para isso, e ainda assim não foi feito.
"Nesse ponto, destaque-se que a ausência de Milton Ribeiro perante a autoridade policial foi prejudicial ao livre desenvolvimento das investigações em curso, além de ferir a isonomia que deve existir no tratamento de todos os investigados", registra a procuradoria.
O inquérito será encaminhado ao gabinete da ministra Cármen Lúcia, relatora na época em que Milton Ribeiro ainda era ministro. Ele foi demitido em março. Ela decidirá se a investigação continuará na 15ª Vara Federal da Justiça Federal do Distrito Federal ou se haverá desmembramento.