Exército diz que prótese peniana mais cara evita constrangimento na hora de usar sunga ou andar de ônibus

Tribunal de Contas da União investiga o uso de dinheiro público pelo Exército na aquisição de próteses penianas em 2021. Militares argumentam ainda que prótese inflável garante melhor ereção

17:14 | Mai. 30, 2022

Por: Marcelo Teixeira
O valor médio das próteses é de R$ 60 mil por unidade (foto: Divulgação)

Dois hospitais das Forças Armadas informaram ao Tribunal de Contas da União (TCU) que compraram R$ 3,5 milhões em próteses penianas infláveis porque são mais parecidas com a “ereção fisiológica”. Conforme os militares, as próteses maleáveis, 33 vezes mais baratas e autorizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), fariam o paciente ter que “dobrar o pênis para vestir uma roupa”.

As informações foram repassadas na última semana ao órgão que investiga o uso de dinheiro público pelo Exército na compra de próteses penianas no ano passado. A apuração, relatada pelo ministro Vital do Rêgo, foi solicitada no mês passado pelo deputado Elias Vaz (PSB) e pelo senador Jorge Kajuru (Podemos).

Nos últimos dois anos, o Ministério da Defesa efetuou a aquisição de no mínimo 170 próteses maleáveis por R$ 267,5 mil, e 60 infláveis, por R$ 3,5 milhões. A prótese maleável, autorizada pelo SUS e pela Agência Nacional de Saúde (ANS), custa 3% do que foi desembolsado pelos militares. Segundo os hospitais militares, as próteses maleáveis custaram de R$ 1.535 a R$ 1.700, ao passo que as infláveis vão de R$ 50.150 a R$ 60.717 a unidade. As informações foram divulgadas pelo jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles

Dois hospitais repassaram explicações ao TCU. O Hospital Militar de Área de Recife,
em sua defesa, argumentou que fez a implementação da prótese em dezembro de 2021 em um paciente, militar ou dependente de um militar, com diabetes e disfunção erétil grave. O indivíduo teve preferência pelo modelo mais caro. A Comissão de Ética concordou e o hospital deu aval para a aquisição.

“A prótese inflável é a prótese que mantém maior semelhança com a ereção fisiológica, pois há um mecanismo para fazer o pênis ficar ereto e voltar ao seu estado normal”, escreveu o diretor do Hospital Militar de Área de Recife, Hailton Antonio Casara Cavalcante. E continuou, referindo-se às próteses autorizadas pelo SUS:

“As demais próteses penianas, por sua vez, deixam o pênis em permanente ‘estado de ereção’, tendo o paciente que dobrar o pênis para vestir uma roupa. Tal situação pode gerar constrangimento quando o paciente for usar roupas de banho ou quando se aproximar de familiares e/ou amigos, além de outras situações de possível embaraço em aglomerações, tal qual no uso de transportes públicos”, afirmou.

O hospital Militar de Área de Campo Grande, com um discurso quase que semelhante, disse ao Tribunal que “o contexto extrapola a questão financeira (preço), sexual ou estética, preponderando a qualidade de vida da pessoa no sentido psicológico, social e de autoestima”, declarou a diretora do hospital militar em Recife, coronel Claudia Lima Gusmão Cacho.

Neste caso, o paciente tinha disfunção erétil depois de passar por uma cirurgia de câncer de próstata. A Comissão de Ética Médica do hospital também autorizou o uso do tratamento mais caro.