1/5 se declara de direita no País; para 54%, família influencia opção política

No Brasil, mais pessoas se declaram de direita do que de esquerda, apontam dados da pesquisa Panorama Político, realizada pelo Senado. Atualmente, 21% dos eleitores no País se dizem de direita, praticamente o dobro dos que afirmam ser de esquerda, 11%. O maior grupo, porém, segue sem se identificar com nenhum dos lados da polarização, tampouco com o centro.

A mais recente edição da pesquisa, realizada em dezembro do ano passado com 5.850 entrevistados pelo Instituto DataSenado, mostra um crescimento dos eleitores "nem de direita, nem de esquerda, nem de centro". Esse grupo passou de 50% para 55%, entre o levantamento anterior e o mais recente.

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A tendência de queda dos eleitores que se diziam de direita se estabilizou. Em 2019, eram 29%; em 2021, 20%; agora, são 21%. Já os que declaram ter posicionamento de esquerda permanecem em redução. Eram 18% em 2019, 15% em 2021 e 11% agora.

O contingente dos que se consideram de centro também tem caído, mas em menor ritmo. Em 2019, 32% se consideravam de centro, taxa que no ano passado foi para 11% e, agora, marca 9%, uma variação dentro da margem de erro.

Para o cientista político Antônio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais, a guinada à direita na sociedade brasileira começou a ser percebida há dez anos e pode ser ainda maior. "O Brasil está avançando para a direita desde 2012, cresceu muito o conservadorismo. Nosso rechaço ao aborto e ao uso de drogas é maior do que nos Estados Unidos", afirmou Lavareda.

PROTAGONISMO. A diretora da Secretaria de Transparência, Elga Mara Teixeira Lopes, disse que a presença de um governante de direita no poder faz com que mais pessoas se assumam com esse perfil ideológico. "É a ideologia mais presente, com protagonismo. O representante maior desse eleitor está no governo, então ele enche mais o peito para dizer que é de direita", observou.

Além da orientação ideológica, a pesquisa abordou temas que estão na ordem do dia e têm a ver com a pauta do governo Jair Bolsonaro (PL). Os assuntos passam por proteção ambiental, acesso a armas de fogo, homofobia, aborto, religião, auxílio emergencial, desinformação, entre outros.

A pesquisa inclui temas-padrão, desde 2008, relacionados à democracia e ao próprio Senado, mas alguns assuntos foram incluídos nas rodadas mais recentes por sugestão da equipe responsável e a pedido dos próprios senadores.

Segundo Elga, o aprofundamento nos quesitos sobre religiosidade se deve ao crescimento da população evangélica e seu maior protagonismo político, sem que o Censo do IBGE tenha sido realizado - a última rodada foi em 2010, deixando um vácuo nos dados disponíveis oficialmente.

"Resolvemos ir a fundo por causa do aumento expressivo de evangélicos. Como pensam politicamente, quantos de nós somos evangélicos e que peso vai ter na eleição?", disse Elga. "Queríamos conhecer realmente o perfil do eleitor, que está mais politizado, mas está muito beligerante, nem sempre tem muita coerência com o conhecimento de assuntos diversos. Quisemos fotografar o nível de amadurecimento político do eleitor hoje."

RELIGIÃO. A ampla maioria dos brasileiros (82%) diz que a religião é muito importante na própria vida, mas dá mais peso à família na formação das escolhas políticas do que à religião - 54% declaram que a família tem influência nas escolhas políticas, enquanto 58% afirmam que a religião não influencia. A religião pesa nas decisões para 40% dos entrevistados.

O envolvimento do clero em cargos públicos, por sua vez, não é aprovado pela maioria. Pouco mais da metade das pessoas (52%) discorda de que seja bom para o País líderes religiosos assumirem cargos políticos; 43% veem essa participação de forma positiva. E há uma divisão quando a questão é: "Na hora de fazer leis, os políticos devem levar em conta o que dizem as tradições religiosas" - 52% dos entrevistados concordam, ante 45% que discordam, dentro da margem de erro do levantamento.

Essas percepções mudam quando há uma estratificação entre católicos e evangélicos. Entre evangélicos, 65% acham que as tradições devem ser consideradas na elaboração de leis, 55% afirmam que a religião influencia suas escolhas políticas e 56% entendem como positiva a ocupação de cargos por líderes religiosos.

No Brasil, o movimento de candidaturas evangélicas data da década de 1980, com a eleição dos primeiros pastores para cadeiras no Congresso. Desde então, há uma tendência de ampliação da presença de parlamentares ligados à cúpula de igrejas protestantes no Brasil.

As igrejas evangélicas desenham estratégias próprias para eleger mais congressistas a cada pleito, muitas delas indicando nomes da hierarquia como o "candidato oficial". Já as candidaturas de integrantes do clero católico são mais dispersas e não costumam seguir uma diretriz da Igreja.

URNAS. Outra questão abordada na pesquisa foi o sistema eleitoral brasileiro, que se tornou alvo preferencial de Bolsonaro. O resultado demonstra falta de aderência do discurso contestador da segurança das urnas eletrônicas, adotado pelo presidente. Os entrevistados foram confrontados com a seguinte frase: "Confio no resultado das urnas eletrônicas em eleições. Concorda ou discorda?". Ao todo, 66% disseram confiar no resultado das eleições realizadas com o equipamento, enquanto 32% declararam não confiar. O resultado indica estabilidade em comparação à pesquisa anterior, na qual 67% disseram confiar, ante 31% que declararam não confiar nas urnas eletrônicas.

A percepção majoritária da população se choca com ideias defendidas pelo presidente e adotadas pelo governo, em assuntos sociais. Para 69%, facilitar o acesso a armas de fogo não vai aumentar a segurança da população e 72% não veem o meio ambiente bem protegido no Brasil. Os homossexuais sofrem muita discriminação no Brasil, de acordo com 76% dos entrevistados. Essas três visões estão consolidadas, quando se compara o resultado atual com os dos dois levantamentos anteriores. Houve variações apenas dentro da margem de erro.

Um dos quesitos que registraram mais mudança foi o que envolve o aborto. O porcentual de pessoas que não concordam que as mulheres devem ter o direito de interromper a gravidez, caso queiram, passou de 52% para 58%.

A pesquisa também revela uma afinidade de pensamento do eleitorado de direita com bandeiras de Bolsonaro. Quem se declara de direita vai contra a percepção majoritária no País em quase todos os temas consultados, à exceção do direito ao aborto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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