Eduardo Giannetti: 'Único nome a ser testado é o de Simone Tebet'

Eleito em dezembro membro da Academia Brasileira de Letras pela obra na qual faz reflexões sobre os caminhos do Brasil, o economista e escritor Eduardo Giannetti disse ao Estadão que esperava que forças políticas se unissem para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Não viu o movimento acontecer. Na terceira via, Giannetti vê dificuldade de encontrar um nome com capacidade de diálogo com o eleitor suficiente para quebrar o cenário polarizado. Entre os nomes que se apresentam, avalia que Simone Tebet (MDB-MS) leva vantagem por ser mulher e ainda não ter sido testada em disputa majoritária. A seguir os principais trechos da entrevista.

Há alguém na terceira via que pode se tornar competitivo até outubro?

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Os ingleses têm um ditado que diz "uma semana é um tempo longo na política". A política tem uma dinâmica e uma temporalidade muito acelerada e, portanto, é perfeitamente possível. Agora, quanto mais a gente se aproxima da eleição, mais remota parece essa possibilidade. Principalmente diante da ausência de um nome que seja realmente capaz de catalisar a parte ponderável do eleitorado que preferiria ter uma alternativa à polarização de Bolsonaro e Lula. A dificuldade é encontrar um candidato que consiga galvanizar esse eleitorado que não deseja repetir em 2022 a polarização raivosa que houve em 2018 e que está se anunciando mais uma vez.

Qual é o problema da disputa entre Lula e Bolsonaro?

Ambos dividem o Brasil, cada um à sua maneira e por distintas razões. Não é bom ter uma eleição em que os candidatos representam um País rachado ao meio e despertam rejeição do outro lado, em níveis muito altos. O perigo disso descambar para um cenário de violência e de conflito é grande.

O fiasco das manifestações de 1º de Maio é reflexo do cansaço com a política?

Nenhum político brasileiro hoje consegue mobilizar a população para a rua. Bolsonaro que pareceu erroneamente, em 2018, ser alguém que vinha de fora, um outsider, na verdade nunca o foi. Ele estava havia 30 anos no Congresso, onde não fez absolutamente nada, exceto propor a autorização da pílula do câncer. É preciso colocar o Bolsonaro dentro de um contexto mais amplo. Não é algo isolado de um processo que está ocorrendo em escala planetária, que é a ascensão de uma direita populista. Esse fenômeno se reflete em muitos países com características distintas, mas com substrato comum.

Por que os outros candidatos não conseguiram conquistar o eleitor?

A alternativa não surge por uma série de razões que vão de fogueiras das vaidades até falta de lideranças que consigam se comunicar com o brasileiro comum. Esse é um fenômeno muito sério na política brasileira. Gostemos ou não, só dois líderes brasileiros fazem com que o brasileiro comum sinta que estão falando com ele: Lula e Bolsonaro.

João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) têm apelo que fale com o brasileiro?

O único nome que ainda está por ser testado é a Simone Tebet e o fato de ser uma mulher do Centro-Oeste é um ativo. Mas precisaria ter um vice com um perfil muito forte e popular e com penetração na Região Nordeste para ter uma chapa competitiva.

Em tempos de redes sociais, qual a influência do relacionamento entre as lideranças econômicas e os candidatos?

O efeito é mínimo. Em alguns casos é até contraproducente. As lideranças tradicionais dos partidos, quando falam, parecem estar se dirigindo à zona sul do Rio, aos Jardins, ao câmpus universitário. Não estão falando com o brasileiro comum. Isso não é uma coisa que se improvisa ou um golpe publicitário. É uma experiência de vida, que dá à pessoa a condição de se fazer entender. O eleitor brasileiro é altamente movido por afeto, por sentimento, por emoção. Não é movido por ideias e planos de governo. É um eleitor profundamente emocional, que muda de opinião. Muita gente que votou no Bolsonaro tinha votado no Lula. E agora possivelmente vai votar no Lula, tendo votado em Bolsonaro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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