"Cadê os Yanomami": Mobilização que denuncia desaparecimento de indígenas viraliza nas redes

O caso tomou maiores proporções nas últimas semanas, a partir das denúncias de que uma criança de 3 anos foi jogada no rio e do estupro e morte de uma menina de 12 anos, ambas do território indígena, em Roraima

16:30 | Mai. 04, 2022

Por: Filipe Pereira
Comunidade indígena Aracaçá, o local onde teria acontecido os crimes (foto: (Foto: Divulgação))

A polêmica envolvendo o desaparecimento de integrantes da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, vem chamando a atenção de artistas, influencers e políticos nas redes sociais. Articulada por povos indígenas, a campanha "Cadê os Yanomami" tem sido amplamente compartilhada e debatida após investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) constatarem a ausência dos indígenas em Aracaçá. A comunidade estava vazia, com uma das casas queimada.

O caso tomou maiores proporções nas últimas semanas a partir das denúncias de que uma criança de 3 anos foi jogada no rio e do estupro e morte de uma menina de 12 anos, ambas do território indígena, em Roraima. O episódio foi denunciado no dia 25 de abril. Na comunidade viviam, aproximadamente, 25 pessoas.

O autor da denúncia, também presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanamomami, alega que a menina ianomâmi foi estuprada e morta por um integrante de garimpo ilegal na região. Ao saber do caso, ele encaminhou uma denúncia à PF, ao MPF, ao Ministério da Saúde (MS) e à Fundação Nacional do Índio (Funai)

Júnior defende ainda que os indígenas são vítimas de ameaças dos próprios garimpeiros para que não denunciem os seus crimes. Ele defende que garimpeiros procuram dificultar qualquer investigação. 

Na última sexta-feira, 29, o Condisi emitiu nota detalhando o caso: "Ao chegar ao local, avistamos a comunidade em chamas e sem a presença de moradores indígenas no local, que só apareceram 40 minutos após pousarmos, somente para resgatar materiais de garimpeiros. Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 5g de ouro dos garimpeiros para manter o silêncio".

Hekurari, no entanto, reuniu-se com outras lideranças indígenas e constatou que o incêndio da aldeia poderia também ter sido causado pelos próprios indígenas, devido às tradições e costumes do povo Yanomami.

"É costume dos yanomami, após a morte de um ente querido, queimar a aldeia em que residiam e se locomover para outro local. Contudo, os indígenas Palimiú, que residem próximo à aldeia, nos afirmaram que os ianomâmis estão perambulando pela floresta, na altura do rio Uraricoera, buscando um local seguro, com medo de novo ataque do garimpo", declarou o indígena. 

Na última quinta-feira, 28, a PF informou não ter encontrado indícios de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento na Terra Indígena Yanomami. Um dia antes, agentes da corporação seguiram na manhã para a comunidade localizada na região de Waikás, para investigar a morte e o desaparecimento que envolve o caso.

Redes Sociais

Nesta semana, celebridades, políticos e influenciadores usaram suas redes sociais para compartilhar a tag “Cadê os Yanomami”, em referência ao ocorrido. Entidades como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) organizam as postagens e campanhas para pressionar por justiça para a comunidade. 

#MassacresNoCampo | Povo Yanomami alerta para genocídio e denuncia risco de extermínio dos indígenas isolados Moxihatëtëma

"Classificamos em nossas denúncias que é um genocídio sim", relata @Dario_Kopenawa

Confira: https://t.co/MFhug1ScDv pic.twitter.com/YBVE77aXkI

— CPT Nacional (@cptnacional) May 4, 2022

MAIOR tesouro do país? A gente devia era ter vigia 24h pra PRENDER essa gente e fazerem eles conhecerem a lei. Uma menina de 12 anos foi estuprada por garimpeiros e faleceu. Após a denúncia feita pelos Yanomami, a aldeia foi incendiada e o povo desapareceu. 25 pessoas!

— Anitta (@Anitta) May 3, 2022

Cadê os Yanomami? https://t.co/ntF626oKrU

— Alok (@alokoficial) May 3, 2022

Isso é um absurdo! Uma comunidade indígena inteira sumiu. Porque a mídia não está falando sobre isso? Onde estão os 25 Yanomami? https://t.co/qNC1b2Fvlp

— LUDMILLA  (@Ludmilla) May 3, 2022

Uma criança Yanomami de 3 anos foi jogada no rio.Uma menina Yanomami de 12 anos foi estuprada até a morte e a comunidade onde moravam foi queimada.Não podemos nos calar diante dessas atrocidades. Pedimos proteção e justiça para o povo yanomami. #cadeosyanomami #danielamercury pic.twitter.com/Qi0kVTtYJG

— Daniela Mercury (@danielamercury) May 3, 2022

Câmara dos Deputados e STF

Nesta terça-feira, 3, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a criação de um grupo de trabalho para acompanhar a situação dos povos indígenas Yanomami. O grupo se propõe a acompanhar o caso, fazer diligências e sugerir providências para reverter a situação de violências e violações de direitos a que estão sendo submetidas crianças, adolescentes e mulheres da comunidade Aracaçá.

Na última quinta, os ministros Cármen Lúcia e Luiz Fux (presidente), do Supremo Tribunal Federal (STF), comentaram sobre o episódio durante sessão da Corte. A ministra cobrou uma apuração rigorosa a respeito do estupro e morte da adolescente de 12 anos e afirmou que as mulheres indígenas são “massacradas”.

“As mulheres indígenas são massacradas sem que a sociedade e o Estado tomem as providências eficientes para que se chegue à era dos direitos humanos para todos, não como privilégio de parte da sociedade. Não é mais pensável qualquer espécie de parcimônia, tolerância, atraso ou omissão em relação à prática de crimes tão cruéis e graves”, defendeu Cármen Lúcia. 

Fux avaliou o fato como “gravíssimo” e sugeriu medidas para que situações semelhantes não venham a acontecer. Ele disse que os fatos “destroem o trabalho que temos feito de combate ao feminicídio, de proteção às mulheres”.

Políticos brasileiros também comentaram sobre o caso:

Cadê os Yanomami?
O governo Jair Bolsonaro é responsável pelas barbaridades que garimpeiros ilegais estão praticando contra o povo Yanomami em Roraima. Em vez de combater os criminosos, o presidente da República usa o cargo para estimular as ações de bandidos.

— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) May 3, 2022

Dia após dia continuam a surgir denúncias de massacre aos Yanomamis. Uma comunidade com mais de 20 indígenas sumiu. Não acredito que fugiram, não é do feitio do bravo povo originário. Cobro uma forte investigação sobre esse caso e pergunto: CADÊ OS YANOMAMI?

— Arthur Virgílio Neto (@Arthurvneto) May 3, 2022

CADÊ OS YANOMAMI?
Após denúncias de estupro e morte de uma menina de 12 anos e do desaparecimento de uma criança de 3 anos, a comunidade Aracaçá está desaparecida e as casas foram queimadas. Exigimos respostas!

— Alessandro Molon  (@alessandromolon) May 3, 2022

Uma adolescente de 12 anos morreu após ser estuprada por garimpeiros na região de Waikás, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O caso foi denunciado por Júnior Hekurari Yanomami, líder indígena e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana. pic.twitter.com/sUTxAfBMXc

— Humberto Costa (@senadorhumberto) April 27, 2022

A Procuradoria da Mulher do Senado Federal emitiu nota manifestando "com imenso pesar" e apreensão a denúncia de Júnior Hekurari Yanomami: 

NOTA DE PESAR

A Procuradoria da Mulher do Senado Federal recebe com imenso pesar e apreensão a denúncia do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, de que uma menina indígena Yanomani, de 12 anos. pic.twitter.com/rG8hgaHI1C

— ProcuradoriadaMulher (@SenadoMulher) April 26, 2022