Ronivaldo volta à Câmara, pede desculpas e nega tentativa de feminicídio

Ronivaldo se desculpou com "todas as mulheres", com as vereadoras e vereadores, com a população de Fortaleza à família e à vítima. Ele chamou o episódio de "acidente lamentável"

10:02 | Abr. 28, 2022

Por: Redação O POVO
RONIVALDO foi expulso após votação apertada: 27 a 26 (foto: Thaís Mesquita)

O vereador Ronivaldo Maia (PT) retornou à Câmara Municipal de Fortaleza nesta quinta-feira, 28. Ele discursou no início da sessão e pediu desculpas. Ele disse que não quis matar a mulher que foi vítima de agressão. Disse ainda que episódio foi "infortúnio" e isolado na trajetória dele.

"Jamais tentei matar a Fernanda. A acusação de tentativa de feminicídio foi um erro", defendeu-se o parlamentar.

Ronivaldo se desculpou com "todas as mulheres", com as vereadoras e vereadores, com a população de Fortaleza à família e à vítima. Também se desculpou com o PT.

O vereador definiu o episódio como "infortúnio" e "momento isolado" na relação com a vítima. "Todo ser humano pode ter um momento de descontrole emocional do qual se arrependerá para sempre, mas nunca tive a intenção de machucá-la." Ele ainda citou a trajetória nas Comunidades Eclesiais de Base, para falar sobre perdão.

O crime

Ronivaldo foi preso em 29 de fevereiro, acusado de avançar com o veículo contra uma mulher. Ele ficou preso até o início de fevereiro. Denunciado no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar, ele teve o processo arquivado.

O vereador falou pela primeira vez sobre o episódio. "Infelizmente, num momento de discussão no qual os ânimos se acirraram, dei partida no veículo, acabando por atingir inevitavelmente a F*. Eu não a atropelei e não a arrastei do modo como foi noticiado. Trata-se de um acidente lamentável."

Ele acrescentou: "Ela não estava na frente do carro, estava ao lado do veículo e quando saí, não a vi segurar o limpador, de modo que ela ficou com a mão presa nele e foi isso que a fez cair. Se naquele momento tivesse percebido que a mão dela estava presa, jamais teria saído de lá, pois nunca foi minha intenção machucá-la. Tenho certeza e a consciência tranquila de que não atentei contra a vida dela, em nenhum momento joguei o carro em sua direção."

Confira a íntegra do discurso:

Primeiramente eu gostaria de lamentar profundamente toda essa situação e antes de mais nada, gostaria de pedir desculpas a todas as mulheres! Estendo e enfatizo o meu pedido de desculpas a cada uma das minhas colegas e meus colegas vereadores; a cada moradora e morador da cidade de Fortaleza; a minha
família; e, principalmente, desculpas à F*, a quem sempre tive e ainda tenho muita estima e respeito.

Peço desculpas também ao meu partido, no qual milito há 34 anos. O PT foi o único partido que militei e nele aprendi a importância da organização para a emancipação da classe trabalhadora. Graças a ele fui gestor público, parlamentar e, acima de tudo, militante socialista.

Diferentemente do que imediatamente me acusaram e do que foi veiculado de modo ostensivo pela mídia sem que antes apurassem os detalhes do fato, jamais tentei matar a F*. A acusação de tentativa de feminicídio foi um erro e eu sei que isso será sentenciado em breve pela competência do Poder judiciário.

Infelizmente, num momento de discussão no qual os ânimos se acirraram, dei partida no veículo, acabando por atingir inevitavelmente a F*. EU não a atropelei e não a arrastei do modo como foi noticiado. Trata-se de um acidente lamentável.

Para esclarecer, ela não estava na frente do carro, estava ao lado do veículo e quando saí, não a vi segurar o limpador, de modo que ela ficou com a mão presa nele e foi isso que a fez cair. Se naquele momento tivesse percebido que a mão dela estava presa, jamais teria saído de lá, pois nunca foi minha intenção machucá-la. Tenho certeza e a consciência tranquila de que não atentei contra a vida dela, em nenhum momento joguei o carro em sua direção. Como disse e reafirmo, ela estava ao lado e não na frente do carro e é ela própria, com lealdade aos fatos, quem afirma isso. Como disse, estou certo que o desenrolar do processo judicial confirmará que não pratiquei tentativa de feminicídio. Dizer o mais ou o menos que isso é faltar com a verdade. Não me eximo das minhas responsabilidades, na exata medida delas.

Peço perdão por todo esse transtorno causado, mas preciso dizer que esse fato foi um infortúnio, um momento isolado na minha relação com a F* que sempre foi pautada no acordo, no afeto, no respeito e na cumplicidade. Todo ser humano pode ter um momento de descontrole emocional do qual se arrependerá para sempre, mas nunca tive a intenção de machucá-la. Assim que percebi o que houve, voltei à casa dela e sugeri levá-la ao hospital imediatamente. Eu jamais a deixaria sem assistência.

Minha formação nas Comunidades Eclesiais de Base CEBS, me ensinou que perdoar tem a ver com o processo de reconstrução. Trata-se de reconhecermos o mal que houve com honestidade de seu impacto em nós mesmos e no outro, admitindo nossa fragilidade e a fragilidade do outro. Por isso, peço perdão publicamente e confesso o meu mais absoluto arrependimento.

Espero que esse acidente não apague minha trajetória de conquistas que começou como presidente da UMES (1988), de todos os dias dedicados à luta dos trabalhadores e das causas populares. Como militante de esquerda, reafirmo os valores humanistas e socialistas que sempre me nortearam, a defesa da igualdade social, de gênero, de raças e de credos. Continuarei na luta contra toda forma de opressão, violência e discriminação.

Tenho certeza e a consciência tranquila de que não sou um agressor, não é isso que me define e que eu não tentei matar a Fernanda. Eu jamais faria isso contra ela ou contra qualquer outra pessoa.

Confio e acredito na Justiça, neste parlamento e na Democracia Brasileira.

Muito obrigado.

* O POVO opta por preservar o nome da vítima