Relator diz que há indícios de participação de associações em motins no Ceará

Deputado Elmano de Freitas afirma que dados e informações obtidos pela CPI corroboram com tese de que associações militares tiveram papel em motins. Parlamentar pondera que depoimentos podem levar a outros entendimentos

19:04 | Mar. 29, 2022

Por: Carlos Holanda
ELMANO Freitas é o relator da CPI do Motim na Assembleia Legislativa (foto: JÚLIO CAESAR)

Estava marcado para esta terça-feira, 29, aquele que seria o primeiro dia "quente" da CPI do Motim, com o depoimento do policial Cleyber Barbosa Araújo, presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS). Mas ele faltou sob alegação de que teve problemas de saúde e apresentou atestado médico.

A reunião remarcada para a próxima terça-feira, 5, às 9 horas. Cleyber comparecerá à comissão de inquérito na condição de convidado, seguido do vereador Sargento Reginauro (UB), na quarta-feira, 6, às 14h30min. Reginauro é ex-presidente da mesma APS. A CPI quebrou sigilos bancários de associações militares.

De posse destas informações, a expectativa é de que deputados confrontem os depoentes sobre o modo como o dinheiro foi manejado para abastecer ou não as paralizações de 2011-2012 e 2020. Segundo o relator dos trabalhos, deputado Elmano de Freitas, os indícios são de que houve participação. 

"O que eu tenho é análise de documentos, análise de dados e esses dados e informações que nos chegaram nos apontam indícios de que esses recursos podem ter sido utilizados de maneira indevida. De que é possível — e sobre isso é que queremos esclarecimentos — uma demonstração de que efetivamente uma entidade ou mais entidades participaram e chegaram a financiar os motins realizados pelos policiais", apontou o relator em breve coletiva após o encerramento da sessão.

"Dificultar, dificultou", disse Elmano sobre a ausência de Cleyber, "porque nós hoje queríamos iniciar a ouvida do presidente da Associação. Lamentamos muito ele ter a coincidência de na noite anterior ter tido esse problema de saúde, né?" Ele completa: "Mas ainda vamos tentar recuperar no tempo na próxima já ouvindo dois, então espero que ele possa estar aqui na terça-feira, na quarta-feira ouvir o Sargento Reginauro, que também foi presidente da mesma entidade. Nós temos questões a pedir esclarecimentos." 

O parlamentar afirmou que Cleyber seguirá como convidado — não como convocado, o que significaria uma imposição da CPI para que comparecesse — porque os membros da CPI avaliam que a impossibilidade de ir nesta terça não foi uma alegação falsa.  

Ainda segundo o petista, os depoentes serão questionados sobre "muitas coisas", na perspectiva de que os parlamentares entendam se estão trilhando o caminho correto de apuração, se de repente eles os que serão interrogados podem "ter um esclarecimento que nos faça pensar de maneira diferente". 

Depois da sessão encerrada, a maioria dos membros da comissão, formada por deputados da base do governador Camilo Santana, se reuniu no gabinete de Salmito Filho (PDT), que preside o colegiado. O pedetista não atendeu a imprensa.

A CPI investiga o destino dos recursos recebidos pelas associações ligadas à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará nos períodos em que foram realizados os dois últimos motins de profissionais da segurança pública, em 2011-2012 e 2020.

Em agosto de 2021, matéria do O POVO revelou que o Ministério Público do Ceará (MPCE) conseguiu na Justiça quebrar sigilos fiscais e bancários de entidades e pessoas físicas suspeitas de envolvimento no motim de parte da PM do Ceará ocorrido em 2020.

Bastou para que a discussão sobre a abertura de uma CPI para elucidar o episódio retornasse ao debate no plenário da Assembleia Legislativa. Um pedido para abertura de investigação, do deputado estadual Romeu Aldigueri (PDT), foi aproveitado. As assinaturas foram colhidas e a comissão foi instaurada.