Após mandar manifestantes "para cima", deputado nega ter instigado grupo contra TV e ataca O POVO

Em tom de ameaça, o deputado Delegado Cavalcante (PTB) publicou uma nota em que usa expressões como "eu sei o que vocês fizeram no verão passado" e acusa o jornal de reproduzir fake news

O deputado estadual Delegado Cavalcante (PTB) negou, nesta quarta-feira, 23, ter instigado os trabalhadores presentes no ato de representantes das empresas provedoras de internet, na segunda-feira, 21, a intimidar profissionais de TV afiliada da Globo que estavam realizando cobertura jornalística no local. Em resposta ao O POVO, o parlamentar disse ser vítima de calúnia e que a reportagem é um "factoide".

Em tom de ameaça, Cavalcante publicou nota em que usa expressões como "eu sei o que vocês fizeram no verão passado" e acusa o jornal de reproduzir fake news. Afirma ainda que a matéria tenta tirar o foco "do problema que a Enel criou".

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"O vídeo está público no meu Facebook pra vocês verem a fake news contra mim. Fica claro do vídeo que, enquanto conversava com os manifestantes, uma grande rede de TV apareceu no local, e imediatamente chamei a atenção para os líderes irem neles, e o intuito era de ir conceder entrevistas", diz trecho da nota. Ele afirma ainda que, em matéria publicada pelo portal G1, não foi relatado qualquer tipo de agressão ou intimidação. 

No entanto, em vídeo reproduzido nas redes sociais, o deputado é visto se aproximando de profissionais de provedoras de internet ao mesmo tempo em que verbaliza xingamentos aos jornalistas presentes. O primeiro momento pode ser visualizado entre os segundos 0'03'' - 0'10''. "A Globo está ali. Vão para cima, vão. Vai, vai!", diz o parlamentar, enquanto aborda algumas pessoas. Ele reforça: "Pra cima, que eles fizeram covardia com a gente". Entre 0'40'' - 0'45'', Cavalcante chama outro grupo enquanto diz: "Globo bosta"

Outra inverdade a ser esclarecida é que O POVO teria tirado o foco da manifestação. Na última terça-feira, 21, a reportagem explica o contexto dos atos e aborda as críticas feitas à Enel Distribuição Ceará após a divulgação da nova tarifa de postes. 

O protesto começou por volta de 9 horas próximo a Arena Castelão e seguiu em direção à Praça Portugal As prestadores de serviços estimam um reajuste de 70% e até possíveis falências com a nova cobrança. No mesmo dia, em outra matéria, o jornal explica e traz fontes que detalham o caso

No mesmo dia, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) publicaram nota de repúdio ao ato do deputado  de instigar manifestantes a intimidar profissionais da imprensa que estavam realizando cobertura jornalística.

O Sindjorce e a Fenaj alertam para o perigo das intimidações aos profissionais que visam, invariavelmente, cercear a liberdade da informação jornalística. A crítica, muitas vezes legítima, não pode ser confundida com um pretenso “direito à violência”, ainda que verbal.

Sindicato e FENAJ prestam sua solidariedade aos profissionais e conclamam a sociedade a repudiar toda e qualquer forma de agressão aos jornalistas. Cidadãos e cidadãs têm direito à informação e o Jornalismo é a atividade profissional por excelência que torna efetivo esse direito.

Nas redes sociais, em resposta ao vídeo publicado pelo Jogo Politico, um grupo de provedores de internet afirmou repudiar "toda e qualquer agressão verbal e física". "Nós, provedores do Ceará, não defendemos nenhuma bandeira política, sendo assim repudiamos toda e qualquer agressão verbal e física. Estamos apenas manifestando nosso direitos de reivindicar nosso direitos! Queremos redução das taxas abusivas da Enel!", escreveu a página da empresa de internet Fibra Óptica Turbonet. 

Em seu art. 220, a Constituição Federal garante que a "manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição. Em seu inciso 2º, é "vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística". 

No entanto, o Brasil teve recorde de casos de violência contra jornalistas em 2021, segundo o relatório “Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil”, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas. A pesquisa aponta que foram 430 episódios, dois a mais do que os 428 casos registrados em 2020.

O levantamento, realizado com base nas denúncias recebidas pela Fenaj e pelos sindicatos de Jornalistas, mostrou ainda que a maior parte das vítimas de ataques relacionados ao exercício da profissão era do sexo masculino.

NOTA DA REDAÇÃO

O relato do deputado Delegado Cavalcante não corresponde ao que mostram claramente as imagens. Dizer que ele chamou atenção dos líderes para concederem entrevistas não condiz com o flagrante do parlamentar dizendo: "Pra cima, que eles fizeram covardia com a gente". Admira um delegado da Polícia Civil do Estado do Ceará e detentor de vários mandatos como representante do povo do Ceará não reconhecer e assumir seus atos mesmo quando filmados de forma inequívoca. O POVO repudia que, para não assumir as próprias atitudes, o parlamentar classifique fatos filmados de fake news e faça insinuações vagas de saber "o que vocês fizeram no verão passado". O POVO tem 94 anos de trajetória que está gravada na história do Ceará. Reconhecemos, assumimos e nos orgulhamos do nosso papel.

 

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