Rússia: ex-chanceler do PT defende visita, ex-chanceler de Bolsonaro critica

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores nos governos Lula, e Ernesto Araújo, que ocupou cargo sob Bolsonaro, discordam sobre visita do presidente à Rússia

Os ex-ministros das Relações Exteriores Celso Amorim, que atuou nos governos Lula, e Ernesto Araújo, que ocupou o cargo sob Bolsonaro, expressaram, nessa terça-feira, 15, discordância sobre a visita do presidente da República à Rússia. O inesperado está nas posições: Amorim é favorável ao encontro, enquanto Araújo se mostrou crítico ao movimento.

Segundo a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, o ex-chanceler petista defendeu a viagem como uma mostra de independência perante os Estados Unidos. A visita de Bolsonaro já estava agendada desde 2021, e, para Amorim, recuar do encontro seria "sinal de submissão" aos interesses estadunidenses, considerando o impasse diplomático sobre a Ucrânia.

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Ele pontuou, ainda, que, sob outros governos, o Brasil poderia atuar, juntamente com outros países, como mediador do conflito. Nos governos de Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2016), a política externa do País teve grande foco no desenvolvimento de laços internacionais e atuação como conciliador em confrontos diplomáticos.

Para Amorim, porém, Bolsonaro não está em posição para atuar no atual conflito. "Viagem certa, no momento certo, com a pessoa errada, mas é a pessoa que tem, né", disse.

Ex-chanceler de Bolsonaro critica visita à Rússia

Ernesto Araújo, por sua vez, tem opinião contrária. Para ele, manter a viagem, considerando o cenário atual, indicaria preferência pela Rússia e posição contrária aos Estados Unidos. Na visão de Araújo, o movimento significa que o Brasil não está adotando uma postura neutra.

Defensor de posições conspiratórias, como a existência de uma ideologia chamada "globalismo", Araújo afirmou que, mantendo a viagem, o Brasil está mostrando apoio a um "projeto euroasiático russo chinês".

Entenda o conflito entre Rússia, Estados Unidos e Europa, envolvendo a Ucrânia

Nas últimas semanas, tensões crescentes se acumularam na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia. O governo de Vladmir Putin tem aumentado a presença militar na região, ao mesmo tempo que adota políticas protecionistas contra a exportação de gás natural para a Europa - o continente tem forte dependência do combustível fornecido pela Rússia.

O conflito remonta a protestos que começaram no final de 2013, em Kiev, capital da Ucrânia. O então presidente do país, Viktor Yanukovych, recuou da assinatura de um tratado de cooperação econômica com a União Europeia, e passou a se aproximar União Econômica Euroasiática (UEE), comandada pela Rússia.

Protestos contrárias à posição do governo aconteceram por mais de três meses, incluindo a ocupação de praças e prédios públicos pelos manifestantes. Em fevereiro de 2014, Yanukovych foi removido do cargo pelo Congresso ucraniano. Ao mesmo tempo, milícias de extrema-direita começaram a exercer poderio militar no país.

A pedido do presidente deposto, e considerando a atuação dos grupos paramilitares, a Rússia enviou tropas para realizar uma intervenção na Ucrânia. Logo em seguida, o governo de Putin declarou que a Crimeia, uma província ucraniana à beira do Mar Negro, havia sido anexada ao território russo.

Desde então, toda a área tem sido palco de constantes tensões diplomáticas. Em 2021, a Rússia passou a adotar medidas mais rígidas na situação, com grande aumento da presença de forças armadas na região. O governo de Putin também tem regulado a exportação de gás natural à Europa como pressão econômica para evitar retaliações aos movimentos militares.

Desde o ano passado, tropas russas têm se posicionado e realizado exercícios militares na fronteira com a Ucrânia. Devido a isso, os países que compoem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em especial Estados Unidos, França e Alemanha, passaram a fazer declarações solicitando a retirada das forças armadas russas da região.

A principal razão do movimento russo foi uma pressão diplomática para que a Ucrânia passasse a integrar a Otan. O acordo internacional permitindo a integração foi assinado em 2008, mas apenas em 2021 ações concretas a este respeito passaram a ser realizadas. Em novembro do ano passado, navios estadunidenses realizaram exercícios militares no Mar Negro. No mês seguinte, o atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participou de reunião com o secretário-geral da Otan.

Com isso, parte das tropas russas que havia deixado a fronteira com a Ucrânia voltou ao local. O conflito escalou nas últimas semanas, ao ponto de que um confronto armado parecia iminente. Na última segunda-feira, 14, o Ministério da Defesa russo afirmou que o contingente, que havia se deslocado à região para exercícios militares, estava voltando aos quartéis.

No momento, o risco de confronto aberto na região parece estar diminuindo. Ainda há riscos, porém, a depender das ações militares que sejam realizadas, e dos diálogos entre os chefes de Estado dos países envolvidos.

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