Queiroga quer ser lembrado como "o homem que acabou com a pandemia da covid-19"
Ministro ressaltou a importância das vacinas e se mostrou contrário a tratamento sem eficácia defendido pelo presidente Bolsonaro, como a cloroquina. "Ele é o chefe", justifica
17:03 | Jan. 30, 2022
Há dez meses ocupando o cargo de ministro da saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, de 56 anos, disse que quer ser lembrado pela história como "o homem que acabou com a pandemia da Covid-19". A declaração foi dada em entrevista ao jornal O Globo.
Para ele, o pior momento foi quando o Brasil atingiu a marca de 4 mil mortos por dia, durante a segunda onda, no início de 2021. No dia 8 de abril daquele ano o Brasil registrou o recorde de 4.249 óbitos causados em decorrência do novo coronavírus.
Queiroga negou a possibilidade de deixar o ministério, e afirmou ter recebido apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL). "Desde o começo, o presidente sempre me apoiou. A questão política é ele que decide, porque ele é o chefe do governo. A minha função é de subsidiar com dados técnicos para que ele tome as melhores decisões," afirmou.
Segundo Queiroga, as declarações do presidente Bolsonaro questionando a eficácia da vacina não têm sido um empecilho para o avanço da imunização da população. "A mim mesmo nunca fez nenhum tipo de movimento de resistência à vacina. Atuamos absolutamente alinhados. O presidente Bolsonaro já sabe qual é a nossa posição. Dos requisitos que ele colocou para mim foi: 'Queiroga, eu acho que a vacina não deve ser obrigatória. Nós não podemos obrigar as pessoas a se vacinar'. Isso é um ponto de vista dele, e eu concordo," disse o ministro.
Quando indagado se Bolsonaro deveria tomar a vacina contra o covid-19, a exemplo de outros líderes mundiais, Queiroga culpou a "pressão" que o mandatário vem sofrendo para se imunizar. "Talvez se não houvesse essa pressão toda em cima dele, ele já tivesse tomado uma decisão em sentido contrário. Mas o presidente Bolsonaro, a mim, me cobra diariamente a respeito do ritmo da campanha de vacinação," declarou.
Contrariando Bolsonaro, que costumeiramente questiona a eficácia da vacina, Queiroga disse ser "defensor ferrenho" da vacinação, mas negou a obrigatoriedade dos pais terem que vacinar os filhos.
Queiroga também defendeu a consulta pública promovida pelo Ministério após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter aprovado a imunização de crianças de 5 a 11 anos em 16 de dezembro de 2021. "Tenho certeza de que a consulta pública que foi feita diminuiu a resistência das pessoas à vacinação, mesmo dos que são contra, porque antes eles estavam restritos às redes sociais e foi dada a eles a oportunidade de trazer os seus argumentos, concordando ou não," falou.
O ministro da Saúde também afirmou que está sendo realizado um estudo para a inclusão da vacina contra a covid-19 no Plano Nacional de Imunização (PNI).
Ele voltou a negar a eficácia de medicamentos como cloroquina contra a covid-19. A fala contraria posicionamento do presidente Bolsonaro, que desde o início da pandemia vem afirmando, sem provas científicas, que o medicamento ajuda no combate à doença. "Se tivesse que escolher uma coisa só? Vacina. Para que vou ficar discutindo questões que não são fundamentais? A prioridade, hoje, é avançar na segunda e terceira doses, a dose de reforço".
O ministro também exaltou o cientista Carlos Chagas, responsável por descobrir a cura para a doença de Chagas no início do século XX. "Eu quero que (a história) me defina como o homem que acabou com a pandemia da Covid-19. Tanto que eu coloquei aqui o Carlos Chagas", afirmou, fazendo referência a um quadro do médico que está em seu gabinete. "Admiro muito o Carlos Chagas. Não que eu seja nem um décimo do que ele foi. Deveria ter recebido o Prêmio Nobel de Medicina pelas pesquisas em relação à doença de Chagas. Então eu quero ser lembrado dessa forma", concluiu.