Deputados cearenses repercutem postura de Bolsonaro em momento de tragédia na Bahia
Parlamentares de partidos como PT e PDT manifestaram indignação nas redes sociais com as férias do presidente
12:56 | Dez. 31, 2021
O presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu tirar férias com a família em Santa Catarina, para passar a virada do ano, contudo o momento de “folga” do mandatário – como ele mesmo intitulou – vem sendo alvo de críticas pela opção dele de realizar a viagem enquanto o estado da Bahia enfrenta uma realidade trágica causada pelas fortes chuvas na região.
Parlamentares cearenses, entre deputados federais e estaduais, repercutiram o assunto por meio das redes sociais. Além de críticas e indignação em relação à postura do chefe do Executivo de tirar férias, os parlamentares também reclamaram da decisão do governo de negar ajuda humanitária da Argentina e classificaram a postura de Bolsonaro como “cruel”, “lamentável” e “irresponsável”.
Até a terça-feira, 29, as enchentes no estado da Bahia já haviam vitimado 24 pessoas e segundo dados da Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), ao todo, 91.258 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas.
Repercussão
O deputado federal André Figueiredo (PDT), foi um dos políticos a se manifestar nas redes sociais sobre a recusa presidencial do auxílio argentino. A chancelaria do país vizinho havia oferecido assistência de dez “capacetes brancos”, agrupamento especializado em resgate, para ajudar em ações de enfrentamento às enchentes, serviço negado pelo presidente.
Para Figueiredo, Bolsonaro foi “tirano sádico” e “cruel”, por recusar a ajuda da Argentina.
Bolsonaro é um tirano sádico, cruel.
Tem sorte de viver numa democracia, pois senão teria a sorte daqueles.
Famílias na Bahia tem suas vidas e propriedades expostas à destruição.
O que Bolsonaro faz pra ajudar?
Nada! E ainda proíbe ajuda de fora! https://t.co/EcTVnbalhj
Em entrevista ao O Povo, o pedetista complementou seu posicionamento e reiterou que encara como “irresponsabilidade com os destinos do Brasil”, as férias do mandatário, não somente por coincidir com os transtornos que o povo baiano enfrenta, mas também por, segundo ele, desrespeitar o momento em que o Brasil ainda passa por conta da pandemia.
“O Bolsonaro ficar andando de jet ski, ficar postando fotos demonstrando enorme euforia, num momento de extrema tristeza que o povo da Bahia vem passando, mostra o perfil que ele sempre, desde que tomou posse, teve: de completa irresponsabilidade com os destinos do Brasil. Então é lamentável! Como presidente da República, ele não poderia, em absoluto, tirar férias num momento de dificuldade que a Bahia passa e num momento em que a gente chora mais de 620 mil mortes por conta da Covid. É verdadeiramente inadmissível essa postura de um presidente da República”, disse Figueiredo.
Quem também repercutiu a postura do presidente nas redes sociais foi o deputado José Guimarães (PT). Em seu Twitter, o parlamentar questionou a recusa do auxílio argentino e disparou: “Bolsonaro tem compromisso firmado com o sofrimento do povo, só pode”.
Como pode o governo federal recusar a ajuda humanitária da Argentina à Bahia?
Bolsonaro tem compromisso firmado com o sofrimento do povo, só pode.
Quanto mais o povo padecer, mais ele estará alinhado ao seu propósito cruel de nos destruir dia após dia!
Ao O POVO, Guimarães classificou a atitude do chefe do Executivo como “criminosa”. De acordo com o parlamentar, a postura de Bolsonaro “agride a consciência humana”, uma vez que, enquanto o “país é solidário” e vem se mobilizando para “ajudar o povo baiano”, o presidente “está curtindo lá em Santa Catarina, andando de Jet Ski, zombando, humilhando e cruelmente atentando contra a vida”, argumentou.
“É inaceitável, é uma postura criminosa, porque a Bahia sob uma tragédia, são famílias, brasileiros e brasileiras que estão morrendo, desamparados e que no mínimo, ele devia ter um pouco de alma e coração para ajudar as famílias que estão sofrendo com a tragédia. Ele deveria imediatamente chamar o governador Rui Costa, sentarem, e colocar o governo federal à disposição do governo da Bahia para as ações preventivas, de solidariedade e de reconstrução de todas as cidades que estão sendo destruídas com essa tragédia”, disse, em complemento.
Entre os pedetistas, o deputado federal Leônidas Cristino também usou o Twitter para criticar as ações federais em relação à tragédia baiana. O parlamentar frisou que Bolsonaro está em momento de “lazer”, enquanto o governo da Bahia “reclama” que o auxílio federal é “insuficiente”.
Entre um passeio de jetski e outro lazer nas férias Bolsonaro recusou ajuda humanitária da Argentina às vítimas das enchentes na Bahia. Na maior chuva em 32 anos, já morreram 24 e 37,3 mil estão desabrigados. A ajuda do governo federal é insuficiente, reclama o governo da Bahia.
— Leônidas Cristino (@joseleonidas) December 30, 2021Na esfera estadual, o deputado Renato Roseno (PSOL) foi um dos que também criticou Bolsonaro, e afirmou que o mandatário tem “desprezo pessoal pelo sofrimento das vítimas das enchentes”. Roseno chamou de “negligência criminosa" a recusa de auxílio da Argentina pelo Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro.
Não bastasse o desprezo pessoal do presidente pelo sofrimento das vítimas das enchentes na Bahia, o Ministério das Relações Exteriores impede o envio de ajuda humanitária por parte do governo argentino para a região. Trata-se de mais uma negligência criminosa de Bolsonaro
— Renato Roseno (@renatoroseno) December 30, 2021Em contrapartida, o representante da base bolsonarista, deputado estadual André Fernandes (Republicanos), saiu em defesa do presidente. Também por meio do Twitter, o parlamentar atacou a imprensa por noticiar que Bolsonaro havia recusado ajuda humanitária.
Argentina não mandou barco, avião, suprimento, nem nada, mas queria enviar 10 pessoas com alto custo aos cofres públicos do Brasil pra “ajudar” na Bahia. Com esse valor o exército brasileiro fará bem mais!
Mas a imprensa disse que Bolsonaro recusou ajuda humanitária.
CANALHAS!
Já o senador Eduardo Girão (Podemos) afirmou em entrevista ao O POVO, que acredita que “o Governo Federal está fazendo a sua parte” e frisou a liberação de recursos e a visita de ministros de pastas responsáveis na região afetada.
Na terça-feira, 28, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da Saúde, Marcelo Queiroga visitaram a Bahia, e se juntaram ao ministro João Roma, da Cidadania que já estava vistoriando cidades baianas impactadas pelas chuvas.
“O Governo Federal está fazendo a sua parte, não apenas com a presença dos Ministros responsáveis mas, sobretudo, com a liberação imediata de recursos. Já foram enviados 20 milhões e chegarão mais 80 milhões”, afirmou o senador.
Girão também lamentou a “politização” durante o momento trágico, “como o que está acontecendo com as chuvas torrenciais na Bahia que já afetam mais de 400 mil brasileiros, a maioria pobres”. “É hora de integrar de forma emergencial os governos municipais, estadual e federal. Nessas horas deve imperar a solidariedade sem partidarismos. Também deve ser bem recebida qualquer ajuda vinda de outros países”, pontuou.
Explicação de Bolsonaro
O presidente explicou o motivo pelo qual recusou a ajuda da Argentina. Em uma série de publicações em sua conta oficial nas redes sociais, ele explicou que auxílio semelhante ao oferecido pelo país vizinho já estava sendo fornecido pelas Forças Armadas e Defesa Civil do Brasil.
De acordo com o presidente, por essa razão “a ajuda argentina não seria necessária naquele momento”.
Contudo, reforçou que, em caso de “agravamento” da situação do Estado, o auxílio poderá ser acionado novamente, ressaltando também que o governo brasileiro segue disponível para receber “ajudas e doações internacionais". Segundo Bolsonaro, o Itamaraty aceitou doações da Agência de Cooperação do Japão (JICA), na terça-feira, 29.
- Em contato com o @ItamaratyGovBr , a Chancelaria Argentina ofereceu assistência de 10 homens ("capacetes brancos") para trabalho de almoxarife e seleção de doações, montagem de barracas e assistência psicossocial à população afetada pelas enchentes na Bahia.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) December 30, 2021%MCEPASTEBIN%