Comunismo: por que o brasileiro ainda tem medo da ideologia?
Entenda o que é comunismo e saiba por que esse conceito ainda é relevante no debate público.A pesquisa mais recente do Instituto Datafolha revelou que 44% dos brasileiros temem que o Brasil possa virar comunista após as eleições de 2022. Embora a maioria de 50% dos entrevistados tenha afirmado discordar desse cenário, a parcela que acredita na possibilidade demonstrou-se expressiva.
O levantamento, divulgado no último sábado, 25, mostra que o receio de um País governado sob a égide do pensamento de Karl Marx e Friedrich Engels é ainda maior entre os que declararam voto no presidente Jair Bolsonaro (PL), totalizando 61% neste segmento.
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Dentro desta perspectiva, O POVO ouviu especialistas em ciências políticas para entender por que ainda tantas pessoas no Brasil têm medo de que a nação se encaminhe para um futuro comandado por essa teoria política.
Entre as questões avaliadas, os cientistas políticos destacam a crescente influência bolsonarista nos discursos políticos, a construção de um imaginário coletivo a respeito da ideologia comunista, a consolidação de valores conservadores e até a necessidade de um “inimigo” comum a ser combatido pelos governos.
O que é o comunismo?
Muitos associam o comunismo somente às ideias dos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, contudo os pilares do conceito vão além disso. A discussão sobre essa ideia de mundo se baseia em pensamentos antigos, até mesmo dos escritos de Platão.
Passou então por debates pavimentados por utópicos como Thomas More e Charles Fourier para, então, chegar ao seu modelo moderno, como concebido pela dupla de alemães.
A grande questão acerca da ideologia comunista é a insatisfação acerca das condições atuais do mundo, principalmente focando a desigualdade. É uma ideologia e um modo de produção que busca trazer maior igualdade e justiça, de modo que trabalhadores tenham também uma vida digna.
Com o surgimento da burguesia como classe e as chamadas revoluções burguesas, cresceu-se esse clima de tensão com as classes que não pertenciam a esse nicho. A revolução industrial trouxe interesses bem claros e conflitantes: a dos donos dos meios de produção e dos trabalhadores.
Em suma, o pensamento comunista é uma ideologia que busca analisar a história com foco na desigualdade entre as pessoas e tenta lidar com isso. Uma das suas principais bandeiras é a abolição da propriedade privada e dos meios privados de produção.
Com a revolução industrial, se percebeu que a produção aumentava bastante em escala, o que favorecia os detentores dos meios de produção. Contudo, os trabalhadores ainda desfrutavam de condições desumanas de trabalho.
Os especialistas e estudiosos comunistas percebiam que os trabalhadores viviam à margem, até mesmo das chamadas conquistas sociais. Então, preconizavam um modelo de sociedade mais justo, que partisse da ação dos próprios trabalhadores.
Principais características da ideologia comunista
Uma das características do pensamento comunista como ideologia é a noção de luta de classes. Essa ideia é muito distorcida no debate atual, principalmente no Brasil. Quando se fala de luta de classes, se pensa logo em revolução ou em luta armada. Há de considerar e esclarecer que a revolução é também outra das características do comunismo, contudo não é uma característica comum a todos os tipos de teoria comunista.
Até porque, como veremos com mais detalhes adiante, existiu um socialismo que pregava por ações mais graduais, menos abruptas e revolucionárias. Isso existia antes de Marx e Engels e voltou à tona depois também.
Então, a luta de classes, dentro do espectro do socialismo, consiste em uma contradição de interesses entre classes conflitantes, algo que sustenta o capitalismo, modelo econômico predominante.
Enquanto os ricos e detentores dos meios de produção querem enriquecer ainda mais e se manter em sua condição privilegiada, os pobres precisam sobreviver e não conseguem. Segundo os socialistas, os donos dos meios de produção vivem às custas dos trabalhadores, inclusive tomando parte do que lhes é devido na produção. Então, instaura-se uma luta de classes sem fim. Segundo os teóricos, essa luta se mantém como uma contradição que sustenta e alimenta o mundo moderno e pós-moderno.
Para solucionar ou lidar com isso, há algumas saídas. No socialismo revolucionário de cunho marxista, o mais famoso e contundente dos últimos séculos, a revolução é a saída. A partir da revolução, o mundo caminharia para um estado comunista, em que o estado seria abolido e não existiriam mais classes. Sem classes, não há desigualdade entre as pessoas, nem luta entre diferentes interesses.
Aliás, a noção de estado é muito interessante também. Há socialistas que defendem que o estado deve ser abolido quando se chega ao último estágio, o comunismo, porque ainda é uma instituição burguesa. Uma vez abolido, o poder seria de fato entregue aos trabalhadores e distribuído igualmente entre todos.
Como o comunismo surgiu?
O pensamento comunista sempre existiu, em formas diferentes. Alguns teóricos até defendem que o cristianismo primitivo era uma sociedade relativamente comunista, porque se baseava no combate à usura e na divisão de bens.
Por muito tempo se imaginou uma comunidade em que se distribuía tudo igualitariamente, sem os problemas da civilização moderna. Contudo, o comunismo ganhou forma como ideologia e inclusive alcançou as vias de fato depois do surgimento da modernidade.
Com a revolução francesa, o iluminismo e a revolução industrial, as discussões sobre desigualdade, fome, problemas do imperialismo e colonialismo se acirraram, dando voz a esses ideais.
Quem é o fundador do comunismo?
Essa é uma pergunta que não tem resposta fácil. Como falamos, Thomas More idealizou uma forma de sociedade comunista utópica; assim como Charles Fourier e outros franceses são conhecidos por pensarem suas formas.
Quando se fala em ideário comunista hoje, no entanto, é comum pensar na versão de Marx e Engels, que foi chamada de socialismo científico. Então, nesse caso, o próprio Friedrich Engels pode ser considerado fundador dessa versão moderna e revolucionária que influenciou revoluções e ações ao longo do século XX.
Símbolos do comunismo
Alguns símbolos que se mostraram relevantes ao longo dos anos são: a cor vermelha, em bandeiras e em peças; e o machado e a foice, símbolo de países comunistas ao longo dos séculos e símbolo maior da União Soviética.
O que significa ser comunista?
Ser comunista é basicamente lutar por um mundo mais justo para pessoas de classes inferiores. É lutar contra desigualdades, contra fome, contra opressão contra pessoas.
É buscar um modelo de mundo ideal, que pode ser alcançado a partir da mobilização social. É também pensar em melhores formas de manter esse mundo futuro, aproveitando o que se tem no mundo hoje (como as tecnologias usadas nos meios de produção).
Claro que essa concepção evoluiu bastante desde o século 19, quando Engels e Marx pensaram o conceito. Hoje, é ter ressalvas com relação ao estado burguês, a noção de democracia que, segundo os teóricos comunistas, é falha em muitos aspectos e buscar reformas sociais contundentes que tragam resultado real na luta contra o poder estabelecido.
É, sobretudo, ser contra o conservadorismo, das reformas graduais e lentas. É buscar mudanças profundas, radicais, que tragam resultados reais.
Qual a diferença entre socialismo e comunismo?
A real diferença é que o socialismo tende a ser uma versão mais branda do comunismo. O socialismo é considerado por muitos teóricos como uma transição para um estado comunista.
Nessa transição, o governo ainda é relevante e é usado como meio para atenuar desigualdades, reduzir a propriedade privada dos meios de produção e favorecer os interesses da classe trabalhadora.
Ao passo que a ideologia comunista preconiza o fim do estado, concessão do poder aos trabalhadores e o fim da propriedade privada.
Qual é a diferença entre capitalismo e comunismo?
O comunismo é, basicamente, uma grande forma de se opor ao capitalismo. Se o capitalismo é fincado em propriedade privada dos meios de produção, produção assalariada, mercados livres e democracia liberal, a ideologia comunista busca mudar vários desses valores.
O ideário comunista difere, pois pensa que a propriedade de produção deve ser coletivizada, em busca do bem comum. Também que pensa que modelos de democracia que predominam na sociedade capitalista são ineficazes e não representam, de fato, o que buscam prometer: o poder dado ao povo.
Outra diferença crucial é com relação ao combate a desigualdades. O capitalismo é um sistema que convive com desigualdades e até mesmo se alimenta delas. Há defensores do capitalismo que entendem que a desigualdade é importante em um contexto de concorrência, etc. O capitalismo busca nutrir a livre concorrência em um mercado que domina as diversas esferas da vida cotidiana. A ideologia comunista, por sua vez, pensa que desigualdades são prejudiciais e que devem ser abolidas completamente. Afinal, segundo os teóricos, a desigualdade é fundamentada em uns vivendo às custas dos outros.
O socialismo revolucionário marxista encara o capitalismo como uma fase da humanidade, a mais avançada até então. Então, Engels e Marx, influenciados pela dialética de Hegel, entendem o capitalismo como um estágio moderno e avançado, mas contraditório em essência. Essa contradição tem a ver com a luta de classes; com o fato de que, enquanto a sociedade enriquece e avança, muitos ainda passam fome e lutam para sobreviver.
Segundo os comunistas, essas contradições são a própria razão da derrocada do capitalismo, que dará lugar ao comunismo. Então, em escritos mais tradicionais, o capitalismo é visto com um estágio que deverá ser superado para alcançar o comunismo.
Apesar da contradição, Marx ainda via com bons olhos, por exemplo, avanços sociais das revoluções burguesas e as revoluções tecnológicas que o capitalismo trouxe. A ideia é manter uma tecnologia eficiente no futuro modelo comunista de sociedade para viver melhor, com condições mais justas e igualitárias.
O comunismo moderno
Como falamos, desde que Marx e Engels idealizaram e de que as ideias revolucionárias foram postas em práticas em vários países, o pensamento comunista mudou bastante. Saiu um pouco da esfera teórica e ganhou a prática, com mobilização de partidos e movimentos e ação direta em mudanças reais na sociedade.
Hoje, vemos os comunistas atuando fortemente até dentro dos estados capitalistas. Tentam mobilizar, organizar a luta e se coordenar para uma eventual revolução e tomada de poder. A luta não é somente contra os capitalistas, no entanto; boa parte da luta é contra socialistas que defendem mudança gradual, como os social-democratas (que estão em maior número).
A social-democracia é uma forma branda de socialismo que busca mudanças graduais e evolutivas dentro do seio do capitalismo. É também chamado de socialismo evolucionário, em uma clara alusão às ideias de Charles Darwin.
Quais os países comunistas atualmente?
Hoje, temos Cuba, que passou por revoluções e grandes movimentos relacionados com o socialismo. A China, que é uma grande potência mundial, é conhecida por ter um governo do Partido Comunista. Também pode-se citar a Coreia do Norte e o Vietnã.
Comunismo no Brasil
Mesmo com a temática em pauta, os especialistas afirmam, contudo, que ao analisar a história política do País, desde o início do período republicano, o Brasil nunca esteve nem ao menos próximo ao comunismo.
Conforme Rodolfo Marques, doutor em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a discussão sobre essa ideologia teve destaque em terras tupiniquins em momentos específicos, como nas décadas iniciais do século XX e durante o período de ditadura militar (1964 - 1985).
“O Brasil teve o Partido Comunista, mais forte e mais atuante, ali nos anos 20, nos anos 30, e mais à frente, com a figura de Luís Carlos Prestes e sua esposa, Olga Benário Prestes. Também houve aquele momento em que o Jânio Quadros renuncia [...] E na sequência, João Goulart assume e aí ele era considerado também uma ‘ameaça comunista’. Durante o período autoritário militar, a repressão ficou associada também ao combate ao comunismo, como se os ventos cubanos pudessem se espraiar aqui pela América do Sul”, explica Marques.
O cientista político complementa que no caso do período mais recente, tem-se um reforço do movimento de “combate ao comunismo”, a partir do pleito de 2018, com a eleição do presidente Bolsonaro. Marques salienta, porém, que o país nunca esteve nem ao menos próximo ao real comunismo, como teme parte dos brasileiros.
“Dentro da retórica bolsonarista, em 2018, houve esse movimento de combate ao comunismo, muito reforçado pela perspectiva ideológica do Olavo de Carvalho, que foi um dos idealizadores desse movimento que nós estamos vivendo hoje. Então, o Brasil, na prática, nunca chegou perto do comunismo, embora existam os partidos comunistas, e existam também as pessoas que são ideólogas desse modo de produção, desse sistema de pensamento, dessa perspectiva ideológica”, afirma.
A jornalista e doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Deysi Oliveira Cioccari, concorda com a visão de Marques, e destaca haver falta de “conhecimento histórico” de parte da população a respeito do significado do comunismo na prática.
“O Brasil não esteve à beira do comunismo. Isso já foi refutado por diversos historiadores. Mesmo o golpe de 64 precisou de mecanismos autoritários para se manter no poder, se derrotada a ameaça do comunismo que entregassem o poder aos civis. Mas não foi isso, obviamente, que aconteceu. Goulart pretendia fazer reformas, o que poderia fortalecer a esquerda, mas isso jamais colocaria o Brasil à beira do comunismo. Falta um pouco de conhecimento histórico aí sobre o que é realmente o comunismo”, destaca cientista política e jornalista.
Por que o brasileiro ainda tem tanto medo do comunismo?
Porém, se o Brasil nunca esteve próximo ao comunismo, como pode a população brasileira ter medo dessa ideologia? Para Marques, os expressivos 44% que responderam à pesquisa afirmando acreditar que o País possa virar comunista em 2022, têm estreita relação com a eleição de Bolsonaro em 2018.
O que é corroborado também pelos 61% de seus eleitores que temem um Brasil comunista. O especialista explica que o combate a essa ideologia faz parte da retórica de Bolsonaro.
“Tem muito a ver ainda com o pleito de 2018, ali o Bolsonaro se elege numa lógica antipetista [...] Ele era integrante do baixo clero, e ele bate muito nessa tecla de combate ao comunismo. ‘A nossa bandeira jamais será vermelha’. Ele bate nas teclas do ‘Deus, pátria e família’, a questão do conservadorismo, do aspecto religioso, do patriotismo, do nacionalismo. Então, esses aspectos passam a predominar dentro da retórica bolsonarista em 2018 e continuam ressoando em 2022. E um dos eixos mais importantes do governo Bolsonaro, que ainda permanece, é exatamente essa questão do anticomunismo, como uma maneira de manter as suas bases alicerçadas dentro de um movimento”, disse o cientista político.
Já Cioccari destaca que discursos anticomunistas estão no imaginário coletivo dos brasileiros desde a época do golpe militar contra João Goulart. Conforme a especialista, a aversão ao comunismo atravessa diferentes governos, afinal de contas, “todo governo precisa criar um inimigo comum para sobreviver”, destaca.
“Na época do golpe alguns setores da sociedade apoiaram o golpe e próprios setores da imprensa foram a favor de narrativas contra Goulart, o que reforçou o imaginário coletivo. Esse não é um recurso exclusivo desse governo. Lula, por exemplo, penou em eleições presidenciais para provar que não era comunista. Todo governo precisa criar um inimigo comum para sobreviver. Um dos maiores fatos históricos da sociedade brasileira é o golpe. Nada ‘melhor’ do que reviver esses medos para reiterar suas narrativas. Alguns setores da sociedade também reagem com valores da esquerda, como a própria Igreja, que vê a esquerda discutindo aborto, igualdade entre casais do mesmo sexo, e reage fortemente com valores conservadores”, explicou.
Marques também reforça a ideia de "inimigo comum” analisada por Cioccari. Para o cientista político, o comunismo é visto por muitos conservadores como “inimigo do capitalismo, inimigo das liberdades”, e, em sua opinião, justamente pelo País ter um modo de produção capitalista, o Brasil não deve “se tornar comunista”. Ou seja, os 44% dos entrevistados deveriam, assim, respirar aliviados.
“Não acredito que o Brasil possa se tornar comunista, nosso modo de produção é o capitalismo. Não vejo nenhum tipo de movimento em relação, isso, claro, um governo mais ideologicamente à esquerda, ele vai focar em programas sociais, em processos de redistribuição de renda, eventualmente, a taxação das grandes fortunas, as pessoas mais ricas. São movimentos que podem acontecer, a questão da tabela do imposto de renda, mas não identifico comunismo. Embora sejam alguns ideais que, tanto no modo de produção comunista, como na ideologia socialista, existem”, pontuou.
Bolsonarismo x comunismo
A pesquisa Datafolha ouviu 3.666 pessoas em 191 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Dentre os segmentos entrevistados, os brasileiros que têm intenção de votar no atual presidente foram a maioria a se afirmar receosos quanto ao comunismo no Brasil. Ao se aprofundarem nesta questão de bolsonarismo x comunismo, para os especialistas, os 61% do eleitorado do mandatário, que temem essa realidade, já analisada como nada provável, é resultado do próprio movimento “bolsonarista” em si, como afirma Marques.
“O Bolsonarismo é um movimento que vai continuar, independentemente do Bolsonaro se reeleger em 2022. É um movimento mais conservador, defensor de determinados padrões, a questão da bancada ruralista, parte das camadas evangélicas, principalmente, os líderes das igrejas evangélicas, também os militares, você tem esse movimento consolidado. [...] Se você observar em grupos de WhatsApp, ou em redes e mídias sociais, você vê esses grupos falando da 'ameaça vermelha', falando de todos aqueles que são contrários ao governo Bolsonaro são comunistas, críticas à mídia, críticas a determinados líderes religiosos que defendem uma sociedade mais igualitária. Então, há uma discussão em relação a isso, e aí você tem essa permeabilidade maior junto a esse grupo bolsonarista”, disse o especialista.
Segundo Cioccari, além de segmentos mais conservadores, e o uso das mídias sociais, citados por Marques, existem também outras questões que contribuíram para essa aversão ao comunismo que precisam ser ressaltadas, como uma tentativa de militares, base de apoio bolsonarista, de “recuperar as memórias do golpe”.
“Vale lembrar que o golpe teve apoio de alguns setores da sociedade (Marcha com Deus e a Família) e esse lado da narrativa vai se perpetuando ainda mais numa sociedade onde não há mais o controle das informações. Com as redes sociais cada um se tornou porta-voz da sua versão. A gente não divide mais uma mesma base de fatos. Setores da Igreja, a Lava Jato que expôs a esquerda como nunca… Tudo isso solidificou o surgimento de uma direita com valores mais conservadores. São eleitores de Jair Bolsonaro”, explicou a cientista política.
Para Marques, o motivo dessa ideia de “ameaça comunista” continuar sendo alimentada, principalmente pela direita, se associa ao fato do governo de Jair Bolsonaro trazer consigo o repúdio a essa ideologia política ao poder, sendo “o primeiro governo oficialmente de direita” na Presidência.
E dentro dessa perspectiva, passam a ser taxados de “comunistas” todos aqueles que apresentam qualquer contrariedade, ou oposição ao governo bolsonarista.
“A ‘ameaça comunista’ é bem, entre aspas, alimentada pela direita como uma forma de ter um inimigo comum, como já disse, e uma forma de tentar aleijar uma discussão sobre uma igualdade social. [...] Essa questão da 'ameaça comunista' passa a ser combatida também por uma questão retórica, como um reforço na comunicação política, nas mídias e redes sociais e como uma forma de consolidar aquilo que nós chamamos de status quo. Como a direita chegou ao poder através do Bolsonaro, desde a redemocratização, é o primeiro governo oficialmente de direita que assume o cargo, ele bate muito nessa tecla, então qualquer contrariedade, ou oposição ao bolsonarismo, ou ao governo Bolsonaro é taxada de comunistas e, com isso, a base apoiadora do Bolsonaro continua sempre mobilizada", explicou.
Já Cioccari destaca que a "ameaça comunista” ainda é utilizada, justamente para sustentar o medo. Sendo assim, não é à toa que a pesquisa, recentemente divulgada, mostra que de fato a estratégia de amedrontar parece estar dando certo.
“O medo é o principal propulsor para manter a sociedade unida. A capacidade humana de destruir o que é desconhecido é uma das maiores ferramentas para os políticos explorarem. O medo é desinformado. Os homens se associam pelo medo e a direita tem usado essa ferramenta”, conclui a jornalista e cientista política.
Conclusão
A ideologia comunista é uma das mais relevantes ideologias dos últimos séculos. É a base de inúmeras revoluções e conquistas sociais e foi testado em vários países ao longo das décadas. No Brasil, sempre foi uma ameaça, que, segundo especialistas que entrevistamos, não condiz com a realidade.
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