Vacina contra Covid para crianças vira nova guerra política no Brasil; entenda

Em Fortaleza, por exemplo, parlamentares conservadores na Câmara Municipal reforçam o discurso do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga

13:37 | Dez. 27, 2021

Por: Filipe Pereira
VACINAÇÃO de crianças contra Covid-19 já começou em alguns países. Na foto, menina recebe dose da Pfizer em Paris (foto: GEOFFROY VAN DER HASSELT / AFP)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou na quinta-feira, 16, o uso da vacina da Pfizer em crianças brasileiras de 5 a 11 anos. O primeiro imunizante contra a Covid-19 a ser liberado no país para essa faixa etária, no entanto, tem sido motivos de mais uma guerra política um ano antes das eleições gerais de 2022. 

Com histórico polêmico em relação ao apoio aos programas de vacinação, nesta sexta-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a demonstrar sua oposição em relação à vacinação infantil contra a Covid-19. Ele reforçou que não existem razões para uso emergencial da dose pediátrica.

"Estão morrendo crianças de 5 a 11 anos para justificar algo emergencial? É pai que decide, em primeiro lugar", disse, ao reafirmar a fala do ministro Marcelo Queiroga. Na última quinta-feira, 23, o titular da Saude afirmou, durante entrevista a jornalistas sobre a campanha da vacinação em 2022, que a vacinação contra a Covid-19 para crianças será feita somente para quem apresentar prescrição médica e um “termo de consentimento livre declarado”.

O embate reforça o discurso proferido por bolsonaristas de que a vacinação em crianças seria de caráter "experimental" e sem eficácia efetiva. Em Fortaleza, por exemplo, um movimento encabeçado pela vereadora Priscila Costa (PSC), apoiadora de Bolsonaro, tem se manifestado contra o passaporte vacinal e a imunização obrigatória para crianças. 

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Junto aos manifestantes na Câmara Municipal, a vereadora já chegou a afirmar que a vacina seria "experimental" e possivelmente nociva a adolescentes de 12 anos. Pautado pela Comissão de Saúde da Casa, um requerimento para debater o passaporte contou com forte adesão da bancada religiosa da CMFor, entre eles o vereador Jorge Pinheiro (PSDB).

A Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) aprovou nesta quarta-feira, 1°, requerimento para realização de uma audiência pública que discutirá a obrigatoriedade do passaporte vacinal. Manifestantes se concentram no local e protestam contra a vacinação obrigatória. pic.twitter.com/HrianOlGC8

— Jogo Político (@jogopolitico) December 1, 2021

Crítico ao movimento, o governador Camilo Santana (PT) já manifestou posição contrária à tomada pelo Ministério da Saúde e afirmou que o Ceará irá vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 conforme a posição do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Na última sexta, entidade lançou nota pública afirmado que os Estados não irão exigir receita médica para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19.

Informo aos cearenses que nosso estado irá vacinar nossas crianças de 5 a 11 anos contra a Covid, assim como vêm fazendo vários países. Seguiremos sempre a Ciência, respeitando o trabalho sério da Anvisa e a posição responsável do Conass(Conselho Nacional de Secretários de Saúde)

— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) December 24, 2021

Até o último sábado, 25, um total de 13 estados informaram que não seguirão a indicação de Queiroga: Paraíba, Rio de Janeiro, Bahia, Ceara, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Espirito Santo, Pará, Acre, Paraná e Goiás.

Apesar do ano terminar com a boa notícia sobre a eficácia da Pfizer para crianças, o presidente termina o ano com o mesmo tom de negacionismo e confrontação, é o que defende o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. "Obviamente que o governo continuou dentro daquilo que tenho chamado de presidencialismo de confrontação. A vida para ele é escolher inimigos externos e externos, reais ou imaginários, e combatê-los", disse. 

Segundo Prando, uma nova guerra sobre as vacinas é retomada pelo presidente no sentido de tentar manter um determinado eleitorado mais radical. "Ele termina o ano como foi praticamente todo o seu mandato, ideologicamente orientado para o confronto e assumindo um negacionismo que mantém uma base de bolsonaristas bastante ativas nas ruas e redes sociais. Isto posto é bastante coerente a sua determinação negacionista e obviamente que isso traz prejuízos que são sentidos pela sociedade brasileira", concluio o cientista.