Bolsonaro afirma que jornalistas agredidos na Bahia não sofreram ataques: "Cascata"
Em declaração aos apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) negou as acusações e chamou o episódio de "cascata"
17:20 | Dez. 15, 2021
O presidente Jair Bolsonaro (PL) negou as acusações de que seu segurança teria agredido jornalistas em evento na Bahia. A declaração foi feita aos seus apoiadores no Palácio da Alvorada na terça-feira, 14 de dezembro, quando o chefe do Executivo chamou o episódio de “cascata”. No domingo, 12 de dezembro, jornalistas das TVs Bahia e Aratu, afiliadas da Rede Globo e do SBT, respectivamente, foram agredidos por seguranças e um apoiador do presidente em Itamaraju.
A declaração aconteceu enquanto ele comentava que "de vez em quando" é sem educação. "Sou mesmo, mas não com o povo", disse Bolsonaro, que em seguida comentou o episódio de domingo. "A mulher da Globo deu uma pancada num colega meu lá da segurança...[A jornalista] Fez corpo de delito? Não fez nada. Só cascata", declarou o presidente aos apoiadores.
De acordo com comunicado da TV Globo, as agressões ocorreram no estádio Juarez Barbosa, onde o helicóptero utilizado pelo presidente pousou para uma visita do chefe do Executivo à região atingida pela chuva no extremo sul baiano. O comunicado informa, ainda, que a repórter da TV Bahia foi vítima de uma "espécie de mata-leão" por um segurança da Presidência quando Bolsonaro caminhava pelo campo de futebol.
Outro foco de confusão ocorreu quando o presidente subiu na caçamba de uma picape em que desfilou na cidade. As imagens da TV mostram um segurança do presidente ameaçando o repórter da TV Aratu após o microfone resvalar em seu braço. "Se bater de novo vou enfiar a mão na sua cara", disse ele. Em seguida, um apoiador do presidente puxou os microfones das duas equipes.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota repudiando as agressões e afirmando que as autoridades precisam orientar a equipe de segurança do presidente para que respeitem o trabalho dos jornalistas, "pois lamentavelmente esse tipo de agressão vem se repetindo".
Ataques do Governo Bolsonaro aos jornalistas
O caso de agressão a jornalistas durante a passagem do presidente pelo sul da Bahia é o mais recente de uma série de ataques a profissionais da imprensa desde a posse do mandatário, em 2019.
Relembre alguns episódios:
Perseguição na cobertura do Caso Queiroz (março de 2019)
A jornalista Constança Rezende, então profissional do jornal Estadão, tornou-se alvo de um violento ataque digital devido às suas reportagens sobre o Caso Queiroz, em março de 2019. O próprio presidente da República compartilhou os ataques em seus perfis nas redes sociais, dando amplitude à onda de xingamentos e ameaças.
Ataques misóginos (fevereiro de 2020)
A jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, foi alvo de insultos com conotação sexual do presidente e seus filhos. O chefe do Executivo fez piada com o termo jornalístico "furo" para se referir à repórter. "Ela queria dar um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim", declarou. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse não duvidar que a repórter "possa ter se insinuado sexualmente" para ter acesso às informações de uma reportagem.
Ofensas no "cercadinho"
Receber insultos e xingamentos tornou-se parte da rotina dos jornalistas que realizavam a cobertura política das declarações de Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada. Em maio de 2020, os principais veículos de imprensa do País decidiram suspender a cobertura no local.
Agressão na Itália (outubro de 2021)
Os jornalistas brasileiros que acompanhavam Jair Bolsonaro em Roma, onde ele participou da Cúpula de Líderes do G-20, relataram agressões por parte da equipe de segurança do presidente. Segundo relatos, as hostilidades aconteceram antes e durante uma caminhada improvisada do mandatário. Enquanto esperavam pelo presidente, profissionais da imprensa foram empurrados por seguranças e hostilizados pelos manifestantes.