Ex-funcionário associa ex-mulher de Bolsonaro a fraudes no seguro DPVAT

Ana Cristina Valle é investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelo esquema de rachadinhas, ou seja, recolhimento de salário de servidores no gabinete parlamentar

11:14 | Dez. 08, 2021

Por: Alice Araújo
Ana Cristina Valle, ex-mulher do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). (foto: Reprodução/Reginaldo Teixeira)

Um ex-funcionário da família Bolsonaro, Marcelo Luis Nogueira dos Santos, associou a ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-chefe de gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, Ana Cristina Valle, a um esquema de fraudes envolvendo o seguro DPVAT, que é pago às vítimas de acidente de trânsito. A declaração foi dada em entrevista concedida ao "Jornal Nacional" da TV Globo, nesta terça-feira, 7.

De acordo com o ex-assessor, que trabalhou no gabinete do então deputado federal Flávio Bolsonaro e também foi funcionário doméstico de Ana Cristina, a ex-esposa do presidente usava o esquema com o seguro como “uma forma de lavagem de dinheiro” dos recursos que obtinha por meio das rachadinhas, ou seja, através da prática de desvio ou recolhimento de salário de servidores no gabinete parlamentar.

Ana Cristina já é investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) pelas rachadinhas no período em que trabalhava no gabinete de Carlos, seu filho, na Câmara Municipal do Rio. Conforme Marcelo Luis Nogueira, o esquema com o Seguro DPVAT, por sua vez, era comandado pelo advogado Marcelo Morgado, que também já chegou a ser alvo de investigações da Polícia Civil por fraudes envolvendo o seguro.

As apurações sobre o esquema das rachadinhas identificaram que na época em que a advogada trabalhava no gabinete do ex-enteado, ela teria sido sócia de um escritório de advocacia, o Valle Ana Advogados, e de duas seguradoras, registrados em endereços próximos à Câmara.

Levantamentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram que mais da metade dos débitos na conta bancária de uma das empresas de seguro, entre 2008 e 2015, aconteceu por meio de saques em dinheiro, um total de R$ 1,1 milhão.


Em seu escritório de advocacia, Ana Cristina tinha como sócia a mulher de Morgado, Lidiane Castro Morgado, e relatórios da Polícia Civil indicam que o local era usado para a prática de estelionato contra as vítimas. As apurações apontam que as pessoas que eram prejudicadas pelo esquema recebiam adiantamentos em espécie para pagar despesas de funerais de familiares. Contudo, Marcelo Morgado usava procurações concedidas pelos clientes para sacar o valor indenizatório e retinha parte da quantia, o que foi endossado pelo ex-funcionário de Ana Cristina.

“Ele (Marcelo Morgado) que acionava as famílias quando tinha acidente, oferecia todo o custo do funeral. Só que tudo era superfaturado. Ele tirava um percentual (do seguro), e esse percentual era revertido para a Valle Advogados, porque era quem dava esse dinheiro para poder oferecer à família todo o processo”, afirmou o ex-funcionário Marcelo Luis Nogueira.

De acordo com a reportagem, a ex-mulher de Bolsonaro atuou enquanto advogada em 54 ações judiciais envolvendo indenizações do DPVAT, entre 2007 e 2010. Pelo menos quatro dos clientes de Ana Cristina, ouvidos pelo jornal, alegaram não ter recebido a quantia do seguro à qual teriam direito.

O veículo de imprensa procurou a defesa de Ana Cristina Valle, que não se manifestou a respeito das acusações.