Veja que outros locais, além do Ceará, resistem em realizar festas de Réveillon e Carnaval

Em estados como Bahia, Paraíba e Réveillon ainda há divergências entre governos estaduais e municipais quanto a realização destas celebrações tradicionais.

15:36 | Nov. 24, 2021

Por: Alice Araújo
FORTALEZA, CE, BRASIL, 31-12-2017 : Reveillon - Milhares de pessoas reunidas no Aterro da Praia de Irecema para a passagem de ano. (Foto: Fco Fontenele/O POVO). (foto: Fco Fontenele)

A realização das tradicionais festas de Réveillon e Carnaval segue em debate nos estados e municípios brasileiros. Enquanto alguns governos já bateram o martelo quanto à liberação das celebrações, ainda que com restrições, em alguns locais, governadores e prefeitos se manifestam contra a realização destes eventos, por conta do aumento do número de casos de Covid-19 em várias regiões do mundo.

As festas, que já não tinham sido realizadas no ano passado por conta da segunda onda da pandemia, deixam saudade no calendário dos brasileiros. Contudo, mesmo com o atual número de mortes em queda no Brasil, a imprevisibilidade do cenário pandêmico pede cautela na deliberação da realização de eventos que promovem aglomerações.

Quem já se pronunciou contra a realização das festas de Ano Novo e Carnaval, argumentando não relaxar quanto ao controle da doença, foi o governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Em manifestações nas redes sociais, neste domingo, 21, o petista se declarou contrário aos eventos “neste momento”.

Camilo, no entanto, não é o único governador que vem avaliando com cautela a realização das festas que marcam a virada do ano e começo de 2022. Estados como Bahia, Paraíba, Minas Gerais e Pernambuco também apresentam entraves entre prefeituras e governos estaduais quando à liberação das festas e às restrições necessárias para que essas ocorram.

Bahia

O baiano Rui Costa, também do PT, chegou a afirmar em entrevista, no começo deste mês, que ainda não é possível definir se os festejos de Réveillon e Carnaval irão acontecer na Bahia.

Na ocasião, o governador apelou que quem tivesse interesse em passar a virada do ano no estado, viesse vacinado. "Você que quer ir para a virada do ano, você que quer ir para o Carnaval, por favor, se vacine", pediu o governador em entrevista ao programa Papo Correria.

No último dia 18, o petista reclamou da pressão que sofre para liberar o famoso Carnaval baiano. Além de citar o crescimento dos casos de Covid no mundo, o governador cobrou medidas restritivas e cumprimento do decreto do governo, tanto das prefeituras, quanto de organizadores de festas particulares.

No decreto atual do estado, estão permitidas festas com público de até 3.000 pessoas, mas, em caso de celebrações que descumpram a medida, Costa reiterou que o estado não deve contribuir com a realização destes eventos irregulares.

"Eu não tomarei medida de liberação de Carnaval ou qualquer outro evento público e estou informando as prefeituras. Quem fizer atividade de rua, desrespeitando o decreto, não terá a participação do estado e da Polícia Militar. Quero avisar a toda a população que não se coloque em risco, porque nós não apoiaremos esse tipo de eventos que não respeitam a vida humana e a saúde do próximo", informou Rui Costa.

Contudo, há um impasse entre estado e Salvador. Embora o governo estadual não tenha confirmado as festas de Carnaval, o Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) da prefeitura da Capital fez uma assembleia, no último dia 11, e a maioria votou a favor de retomar a festa no próximo ano.

Enquanto isso, Rui Costa vem reafirmando a necessidade de cautela quanto à pandemia. “Não colocarei a população baiana em risco dando uma definição sobre o Carnaval agora, quando estamos com 2,5 mil casos ativos na Bahia e com o coronavírus voltando com força em diversos países. O Carnaval não pode estar acima da vida das pessoas”, disse em entrevista.

Minas Gerais

Em Minas Gerais, também há divergências no que diz respeito à realização das festas de Réveillon e Carnaval. O prefeito da capital Belo Horizonte, Alexandre Kallil (PSD), afirmou recentemente que não irá patrocinar o Carnaval na cidade, e estendeu sua preocupação quanto à situação da pandemia que, para ele, também interfere no acontecimento das festas de Ano Novo.

“Depois que vem a praia, que vem o Réveillon e que vem o Carnaval, é chamar o azar para o nosso lado. E eu não quero dar sopa para o azar”, disse o prefeito, em entrevista a TV Globo, no último dia 19.

Prefeituras de outras cidades menores do estado, como as do Sul de Minas, também já anunciaram o cancelamento, tanto das festas de Réveillon, quanto das festas de Carnaval, justificando a necessidade de prevenção a contaminação de Covid-19.

Por outro lado, o governador de Minas Gerais, Arthur Zema (Novo), tem se manifestado a favor da realização do Carnaval, por exemplo. Em entrevista no mês de outubro, Zema afirmou estar pensando estratégias para que a festa ocorra com os devidos protocolos. “Tudo indica que nós teremos um Carnaval pelo menos ao ar livre, que já traz uma segurança adicional. Talvez em ambientes fechados ainda seja prematuro falar. Mas tudo indica que sim, as grandes prefeituras de todo Brasil já sinalizaram que o ano que vem nós teremos o Carnaval”, falou.

Paraíba

Na Paraíba, João Azevedo (Cidadania) defendeu a redução de público nas festas de Ano Novo, se posicionando contrário a realização de comemorações públicas que, segundo ele, são mais difíceis de controlar. Em entrevista nesta terça-feira, 23, ao programa Arapuan Verdade, Azevedo deu destaque a municípios paraibanos que vêm suspendendo o Réveillon.

"Há uma certa tendência de alguns municípios do litoral de evitar essa festa do Réveillon. Temos que entender que ainda não vencemos a pandemia", afirmou.

Para o governador, não é possível abrir margem para um relaxamento das restrições, quando o estado ainda não atingiu a meta de vacinação das duas doses contra a Covid-19. "Nós ainda não atingimos um patamar de sistema vacinal completo com as duas doses, que nos dê essa possibilidade de relaxar. Eu acho que ainda é cedo se discutir réveillon e carnaval", pontuou.

Quanto ao Carnaval 2022, o secretário executivo de Saúde da Paraíba, Daniel Beltrammi, comentou em participação num programa de TV paraibano, em outubro, que embora o país esteja vivenciando uma diminuição nos casos, discorda da realização. Para Beltrammi, abandonar os cuidados agora pode resultar, justamente, num novo aumento de contaminação da doença.

“Nós podemos ser otimistas de que nós estamos vendo a situação melhorar, isso é fato, é inquestionável, porém esse otimismo não pode se transformar em euforia. (...) Não é momento ainda, o vírus circula com uma imensa força entre nós”, explicou.

Pernambuco

Embora o governo de Pernambuco, por meio da secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado, Ana Paula Vilaça, tenha confirmado a realização do Réveillon do estado na ilha de Fernando de Noronha, as deliberações quanto ao Carnaval ainda não estão definidas.

Em coletiva de imprensa, na quinta-feira, 18, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, destacou que atualmente "não há segurança sanitária" para a realização de grandes eventos que provoquem grandes aglomerações no estado.

"Neste momento, ainda é cedo para tomarmos decisões acerca desses eventos, especialmente do Carnaval, que se realiza de forma concomitante - este ano é no final de fevereiro - com o período de sazonalidade de ocorrência de doenças respiratórias. Então, nosso planejamento é independente da realização do Carnaval, nós precisamos chegar em fevereiro com as melhores condições sanitárias possíveis e segurança sanitária", afirmou.

Em contrapartida, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), propôs, no último dia 19, a criação de um comitê com gestores de outras capitais para discutir condições sanitárias que possam balizar a realização do Carnaval em 2022.

Outras situações

No Paraná, o vice-líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Cobra Repórter (PSD) pediu o cancelamento da realização do Carnaval no estado. O parlamentar enviou requerimento ao governador Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD) e ao secretário estadual de Saúde, Beto Preto.

“Estamos vivendo um momento muito importante para a manutenção da queda da taxa de mortalidade e de contaminação no Paraná, que não pode ser interrompida”, justificou no documento.

Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) confirmou, no mês de outubro, que no atual contexto de avanço da vacinação na capital, não via motivos para barrar a realização do Réveillon da Paulista e do Carnaval. De acordo com o portal Poder 360, Nunes afirmou que as festas poderiam acontecer sem medidas de restrição “se a questão sanitária estiver da forma como está”.

Contudo, esse otimismo não se aplica a outros gestores paulistas. Até o dia 23 de novembro, pelo menos 27 cidades de São Paulo afirmaram que não vão realizar celebrações de Carnaval de rua em 2022.