Em Fortaleza, ministro da Educação nega interferência no Enem e ataca servidores do Inep
O ministro atribuiu os pedidos de exoneração a um problema com gratificações de um de "grupo pequeno" de servidores "altamente politizado"O ministro da Educação, Milton Ribeiro, participou de culto na manhã deste sábado, 20, na Igreja Apostólica Novidade de Vida, no bairro Sapiranga, em Fortaleza, e negou interferência do governo federal nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Há 10 dias, o ele enfrenta uma série de problemas desde que funcionários do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela realização do Enem, pediram exoneração em massa, diante de denúncias de influência política na prova.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
O ministro, no entanto, atribuiu os pedidos de exoneração a um problema com o recebimento da chamada Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso (GECC) pelos servidores que elaboram as provas do Enem. Segundo Ribeiro, um "grupo pequeno" e "altamente politizado" da instituição ficaram incomodados com "uma questão de governança".
De acordo com o ministro, esses servidores recebem salário, gratificação por Direção e Assessoramento Superior (DAS) e a GECC. Ribeiro defendeu que existem alguns servidores cuja função e descrição dos cargos que exercem já contempla a montagem da prova. Segundo ele, em média, esses servidores ganham R$ 36 mil anuais de GECC, mas alguns chegaram a receber R$ 70 mil ao ano.
"Esses funcionários que ganham 70 mil reais a mais só de gratificação, fora o DAS, fora o salário. Eles que venham falar a mim que eu estou errado. Nós temos que respeitar os tributos, os impostos, o Brasil não aguentava mais tanta corrupção e tanta coisa errada. Quem merece vai receber, mas quem não merece vai deixar de receber. Sendo assim eu estou muito tranquilo", criticou o ministro.
Segundo informação do jornal Folha de S.Paulo, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), teria pedido a Milton Ribeiro que o Enem abordasse o golpe militar de 1964 como revolução. Desde o início do governo Bolsonaro, há pressão para que sejam evitados, no exame, temas como Ditadura, questões de gênero e racismo. Procurado no evento para comentar o assunto, o ministro não quis responder.
Em Fortaleza, Milton negou alguma possível interferência. "As regras são claras, existe uma sala sigilosa e eu não tenho acesso. Poderia ter, pois eu posso até contratar um camarada que escolhe a pergunta, mas eu não posso ter acesso a pergunta, é um absurdo. Mas, esse é o motivo? Eu me retiro. Eu não sei hoje quais são as perguntas. Se me perguntar hoje 'qual o tema da redação que amanhã vamos ter no Enem?', não sei e não quero saber. Eu quero deixá-los livres", disse.
O ministro disse ainda não entender a polêmica e afirmou que o exame não deve ter "nenhuma interferência ideológica nem de direita nem de esquerda". "Então, quero confirmar para você que tem filho e parente, as provas foram impressas há três meses atrás. Porque todo esse barulho?", disse.
Desde sua eleição, em 2018, o presidente da República vem tentado aplicar estratégias para regular e controlar o conteúdo das questões do exame, entre elas o uso de comissão externas e impressão antecipada das provas. Na segunda-feira, 15, Bolsonaro afirmou que as questões do Enem começavam a ter a “cara do governo”. Dois dias depois, ele também negou ter visto detalhes das provas. Servidores relacionados ao Enem declararam temer possíveis perseguições e punições caso o exame não cumpra as expectativas do chefe do Executivo.
Durante a celebração na capital cearense, apesar das polêmicas, o ministro da Educação, participou de um culto com pastores, parlamentares conservadores do Ceará e o reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque. Após seu pronunciamento, o ele recebeu uma "benção" especial dos lideres religiosos presentes no local.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente