Governo Bolsonaro segurou divulgação de dados de desmatamento recorde obtidos antes da COP 26

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados na última quinta-feira, 18, mostram que o desmatamento na Amazônia, entre agosto de 2020 e julho deste ano, foi o maior registrado desde 2006, com 13,235 mil km² desmatados

11:31 | Nov. 19, 2021

Por: Vítor Magalhães
Amazônia (foto: Divulgação Imazon)

O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segurou dados sobre o desmatamento no País enquanto a Conferência Climática das Nações Unidas (COP 26) ocorria. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados na última quinta-feira, 18, mostram que o desmatamento na Amazônia, entre agosto de 2020 e julho deste ano, foi o maior registrado desde 2006, com 13,235 mil km² desmatados no período supracitado.

A nota técnica que informa o resultado foi produzida em 27 de outubro e inserida, no mesmo dia, no sistema eletrônico, permitindo assim a consulta de dados consolidados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal feito por satélites do Inpe. A COP 26 ocorreu em Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, começando, portanto, quatro dias após os dados já terem sido liberados pelo órgão brasileiro.

Ambientalistas afirmam que o governo federal segurou a divulgação dos dados na tentativa de evitar novos desgastes internacionais durante a realização da conferência onde os países fecham acordos ambientais que perpassam por questões econômicas e comerciais. Participantes da COP teriam pedido o número atualizado à comitiva brasileira em Glasgow, capitaneada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, mas sem resposta.

O Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (Sindct) divulgou nota onde acusa o governo federal de esconder, propositalmente, o relatório durante a conferência climática. “O resultado do PRODES (sistema do Inpe que realiza o inventário de perda de floresta primária, através do uso de imagens de satélite de observação da Terra) é aguardado com interesse pelos governos, cientistas do clima e sociedade civil organizada. Este ano, em particular, eram números muito aguardados”.

E seguiu: “Mas, neste evento em Glasgow (COP 26), os números do Brasil não apareceram. Jornalistas especializados buscaram informações com membros do Governo Brasileiro e foram informados que o PRODES ainda não tinha concluído o seu relatório anual. Pura mentira!”, diz a a nota do Sindct.

Nesta semana, Bolsonaro afirmou em reunião com autoridades e empresários árabes que a Amazônia, por ser uma floresta “úmida”, “não pega fogo”. Na última quinta-feira, o ministro Joaquim Leite afirmou que os números são inaceitáveis e prometeu atuação “contundente”. Questionado sobre a data da elaboração dos dados (27 de outubro), ele alega só ter tido acesso à informação na data de divulgação pelo governo (18 de novembro).