Ministro sugere que caminhoneiros se reinventem e acirra clima de greve na categoria

Descaso do ministro diante da mobilização vem reforçando a realização dos atos no dia 1º de novembro em todo o Brasil

13:02 | Out. 29, 2021

Por: Filipe Pereira
Protestos dos caminhoneiros em apoio à falas antidemocráticas de Bolsonaro afeta fluxo de cargas no Brasil, mas risco de desabastecimento é minimizado com corredores logísticos (foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O pronunciamento do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, na tarde de quarta-feira, 27, de que os caminhoneiros precisam se reinventar e procurar empregos em empresas de transporte, em vez de continuarem como autônomos, não foi bem recebida pelos membros da categoria. Os motoristas estão com atos marcados para próximo dia 1º de novembro. 

“O ministro estabeleceu um clima de confronto com os caminhoneiros autônomos, inclusive, alguns se sentem traídos pelo governo”, afirmou o deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas a Veja. 

“Os caminhoneiros estão mobilizados, muito mais que em 2018”, completou o parlamentar. Também ao jornal, Wallace Landim, o Chorão, um dos líderes da greve de 2018 e presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), afirmou que os caminhoneiros já estão mobilizados para a paralisação. 

Nesta quarta, Tarcísio usou um exemplo pessoal, da sua época de militar, para defender que os caminhoneiros precisam se organizar melhor em busca de soluções para a situação de dificuldade vivida pela categoria, com os sucessivos aumentos dos combustíveis, e sugeriu que autônomos busquem outras formas de trabalhar.

"São coisas nas quais uma hora você para para pensar. Quando achei que estava ganhando mal no Exército, eu sai do Exército", afirmou o ministro, que é formado em engenharia de construção pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).

O ministro disse não acreditar numa paralisação de grandes proporções e disse que o governo tem mantido diálogo constante com a categoria para a busca de outras saídas. Contudo, ele alega que o principal problema é a falta de organização dos próprios caminhoneiros, que reclamam da alta do diesel, mas não repassam o aumento do combustível para o frete, por exemplo.

"Eles precisam aprender a gerir o negócio deles. Pegar como exemplo setores mais organizados, como os tanqueiros", disse, sugerindo também a formação de cooperativas em busca de preços mais baixos para pneus e combustíveis, por exemplo.

Segundo Crispim, foram canceladas duas reuniões que estavam marcadas para acontecer entre o governo e as lideranças na tarde desta quinta-feira, 28. Ele afirma que não houve explicação por parte do Planalto. 

Por meio de WhatsApp, o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) vem convocando motoristas a aderirem ao movimento. Em vídeo que circula entre a categoria, o ministro afirma que a chance como a greve de 2018 é zero. Na época, segundo o ministro, houve adesão de empresas de transporte e que “essa turma está fora agora”.

A categoria protesta diante da atual política de preços da Petrobras e das sucessivas altas no preço dos combustíveis. O diesel acumula alta de 65,3% no ano. Nesta segunda-feira, 25, a Petrobras anunciou um novo ajuste nos preços, de 7% na gasolina e de 9% no diesel.