Bolsonaro diz que beneficiários do Bolsa Família "não sabem fazer quase nada"

Em entrevista a programa de apoiador do governo, o presidente voltou a criticar pessoas que dependem do benefício, prática que era comum ao mandatário antes da eleição

17:09 | Out. 28, 2021

Por: Rose Serafim
O presidente Jair Bolsonaro em entrevista ao apresentador e apoiador do governo Sikêra Jr, no programa Alerta Nacional, da TV A Crítica. (foto: Reprodução YouTube)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a desdenhar de pessoas que recebem o programa Bolsa Família na noite desta quarta-feira, 27. Em entrevista ao apresentador bolsonarista Sikêra Jr., no programa Alerta Nacional, da TV A Crítica, o ocupante do Planalto disse que os beneficiários “não sabem fazer quase nada”.

“Não tem como tirar o Bolsa Família do pessoal, como alguns querem. São 17 milhões de pessoas que não têm como ir mais para o mercado de trabalho. Com todo o respeito, não sabem fazer quase nada. O que a juventude aprendeu com quase 14 anos de PT? Tendo o ministro [Fernando] Haddad lá na educação”, disse o mandatário.

Durante o programa, Bolsonaro também comentou a imagem de pessoas pegando restos de ossos de um caminhão no Rio de Janeiro para se alimentarem, e disse sofrer críticas por querer aumentar o valor do Bolsa Família.

“Você viu há poucos dias aí a fotografia de um pessoal pegando osso em um caminhão. Bateram em mim: 'olha o povo com fome'. Daí eu falo que vou dobrar o Bolsa Família — que está em R$ 192 em média para R$ 400 — [e dizem] 'olha, ele é irresponsável'”, argumentou o presidente.

“Se eu fico quieto, eu estou matando o povo; se quero aumentar — que tem como aumentar —, dependo de o Parlamento votar a questão do tal dos precatórios, que já passou em comissão especial da Câmara. Eu acho que na Câmara não vamos ter problemas, não sei no Senado — a gente dá um paliativo", continua.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, citada pelo presidente, deve ser votada ainda nesta quinta-feira na Câmara, após adiamento nesta quarta.

Se aprovada, a proposta permitirá o parcelamento no pagamento de precatórios a partir de 2022. O termo precatório se refere a dívidas da União com pessoas físicas, jurídicas, estados e municípios reconhecidas em decisões judiciais definitivas, ou seja, que não são mais passíveis de recursos e que devem ser pagas pelo governo.

Com o parcelamento, há abertura no orçamento para adição de novos gastos, dando abertura para a criação do Auxílio Brasil, programa proposto por Bolsonaro para substituir o Bolsa Família e pagar até R$ 400 às pessoas mais pobres um ano antes da eleição.

Antes de propor o valor do novo Bolsa Família, criado no primeiro governo Lula, o presidente Jair Bolsonaro, até pouco tempo, tinha opinião bem crítica em relação ao auxílio assistencial. Em 22 de março de 2019, por exemplo, Bolsonaro disse, durante uma de suas tradicionais transmissões ao vivo das terças-feiras, que filhos de beneficiários do Bolsa Família tinham menor desenvolvimento intelectual.

Enquanto era parlamentar e durante a campanha de 2018, Bolsonaro disse que "quem recebe o benefício não produz nada, são pobres coitados, e que o programa é uma mentira".

Durante a entrevista, o presidente voltou a criticar as medidas de isolamento social adotadas pelos governos estaduais para lidar com a pandemia de Covid-19.

"Esse pessoal [que decretou medidas de isolamento] levou a miséria ao nosso povo. Estamos pagando um preço caro agora. 'A Economia a gente vê depois'. E tem gente que critica a mim. Pera aí, eu não fechei um botequim sequer", declarou o mandatário, sem fazer menção às mais de 600 mil vítimas da doença no Brasil.