Flavio Bolsonaro chama de "macabra" audiência com vítimas da Covid em CPI no Senado
O senador e filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saiu em defesa do governo federal após vítimas da pandemia relatarem experiências em comissão parlamentar
22:04 | Out. 18, 2021
A penúltima sessão com depoimentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid recebeu nesta segunda-feira, 18, sete pessoas que foram atingidas direta ou indiretamente pela pandemia. O objetivo era retratar o impacto da doença na vida dessas pessoas, mas o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) não gostou do que ouviu e classificou o momento como “macabro”.
“O que estamos testemunhando é algo macabro, triste e lamentável”, disse o parlamentar. Segundo o filho 01 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pessoas foram escolhidas “a dedo” para virem a CPI falar mal do pai dele. Flávio afirmou que os depoentes teriam histórico de militância contra o mandatário e vieram à comissão com o compromisso de responsabilizar o chefe do Executivo pela morte de familiares vítimas de Covid-19.
“Isso é um desrespeito com as quase 600 mil vítimas da Covid aqui no Brasil. Bolsonaro fez e está fazendo o que está ao seu alcance”, garante o filho do presidente, esquecendo que o número de mortos no País pela doença já ultrapassou o número citado há 10 dias.
Leia mais
O senador ainda lista valores investidos na gestão da pandemia, o auxilio emergencial e a compra das vacinas pelo Governo Federal. O parlamentar fala em 65% da população completamente imunizada contra o coronavírus. O percentual real, até o domingo, era de 48,92%.
“A CPI está entrando para a história como algo que manda do Senado Federal e algo que certamente grande parte da população olhar pra cá com nojo, porque ter a audácia, ter a falta de sensibilidade de explorar a dor dessas pessoas que estão aí hoje depondo com o compromisso de que elas falassem mal do Bolsonaro, isso é muito feio”, afirma o parlamentar.
O senador termina dando condolências a todos as famílias vítimas da doença e pedindo que a comissão seja finalizada logo pois estaria “fazendo mal ao Brasil”.
Veja vídeo:
Depoimentos
“Nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade do País. Não é questão de política, nós estamos falando de vidas”, disse o taxista Marco Antônio Silva que perdeu o filho Hugo Dutra do Nascimento Silva, aos 25 anos, por conta da Covid-19.
Katia Castilho dos Santos chorou durante o depoimento lembrando a morte dos pais pela doença. A mãe dela era associada da Prevent Senior e, além de receber o “kit covid”, com remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus, teve dificuldades para ser internada e ainda foi medicada com flutamida, remédio que pode causar hepatite fulminante. A vítima, Irene Castilho, tinha sofrido de um câncer no fígado e retirado 35% do órgão, e a família havia desautorizado o tratamento.
Rosane Maria dos Santos perdeu o marido, que morreu 15 dias após apresentar os primeiros sintomas de Covid-19. Ela reclamou da compra tardia das vacinas e pediu aos senadores a criação de uma comissão nacional com civis, nos moldes da comissão da verdade, que trata sobre crimes cometidos durante a ditadura, para apurar a gestão da pandemia no país.
"Há várias maneiras do Estado matar o seu povo e a falta de política pública é uma delas", disse Rosane em depoimento na comissão.
Arquivaldo Bites Leão Leite relatou à CPI ter perdido seis integrantes da família para o coronavírus e ele mesmo ainda trata sequelas graves da doença. Enquanto estava acometido pelo vírus, ele perdeu a audição de um dos ouvidos e hoje tem problemas de equilíbrio.
Após as mortes de parentes, a família do depoente passou a protestar contra o presidente e Arquivaldo conta que um dos irmãos dele chegou a ser preso por exibir uma faixa com os dizeres “Bolsonaro genocida” no carro.
Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, perdeu pai e mãe por complicações da doença em um intervalo de 14 dias. Ficando com a guarda da irmã menor, de 10 anos.
A enfermeira Mayra Pires Lima falou sobre os cuidados que teve com a irmã internada em Manaus e morta pela doença. Ela contou que só na cidade são 80 órfãos da Covid, sendo quatro somente na família dela.
Por fim, o ativista Antônio Carlos Alves de Sá Costa, fundador da ONG Rio da Paz, falou sobre os impactos da pandemia na saúde mental, em decorrência das dívidas acumuladas, instabilidade política, medo de contaminação e falecimento de familiares. Sá Costa ainda criticou o mandatário por não ter demonstrado compaixão pelas vítimas.