Médicos da Prevent Senior relatam pressão para dar alta antes do tempo a pacientes

Os médicos fazem parte do grupo de funcionários da Prevent Senior que montaram dossiê de denúncias contra a empresa, hoje em posse da CPI da Covid

14:55 | Out. 04, 2021

Por: Alice Araújo
Prevent Senior foi alvo de protesto com tinta vermelha e dólares com o rosto de Bolsonaro (foto: DIVULGAÇÃO/LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE)

Três médicos que denunciaram a operadora de plano de saúde Prevent Senior relataram, em entrevista ao programa Fantástico, que sofriam pressão da empresa para dar alta precoce a pacientes. A ação teria objetivo de diminuir os custos e liberar mais leitos de UTI nos hospitais da Prevent. Os relatos são de George Joppert, Walter Correa e Andressa Joppert.

Durante a conversa, os três médicos mostraram o rosto pela primeira vez após fazerem denúncias contra o plano de saúde. O dossiê construído por eles e mais 12 médicos, com diversas acusações contra a Prevent Senior, está em posse da CPI da Covid, que investiga as irregularidades do caso. Os profissionais afirmam que, desde então, têm sofrido uma rotina de medo, apreensão e insegurança.

O médico Walter Correa chegou a registrar boletim de ocorrência depois que recebeu ligação do diretor-executivo da empresa, Pedro Batista Júnior. O telefonema teria sido em abril deste ano, depois que Walter foi ouvido, sem se identificar, para uma reportagem com denúncias contra a Prevent.

Os médicos também afirmaram que uma das ações da Prevent Senior era pressioná-los a dar altas aos pacientes antes do período correto. Alguns procedimentos mais caros eram evitados e existia até mesmo uma pressão para liberar leitos de UTI. “Importa é o fluxo, importa é o número, não importa o paciente. Vejo a Prevent como especialista em números e não importam as pessoas”, disse o médico Walter Correa.

Kit Covid e metas de atendimento

Além de reforçarem que foram obrigados a receitar o “kit covid”, composto por medicamentos sem comprovação científica, os médicos da Prevent Senior também afirmaram que deviam cumprir uma meta para dar celeridade no atendimento aos pacientes. De acordo com eles, o objetivo da empresa era de que 60 pacientes fossem atendidos em 12 horas, o que representa um paciente a cada 12 minutos.

Sobre os remédios do “tratamento precoce”, os médicos reforçaram que a prática era comum na Prevent Senior, e que eles eram pressionados a receitar estes medicamentos.

“Entregava a receita, entregava o kit que já ficava no consultório. Era tudo controlado. Ficava um balde com um monte de saquinho com os kits, era meio constrangedor às vezes, entregava para os pacientes a receita com kit e orientava 'olha, a gente tem que prescrever, mas é melhor usar só as vitaminas, não usa medicação'. E era assim que funcionava”, completou.

Os três médicos entrevistados defenderam sua autonomia de exercer a medicina e, mais uma vez, responsabilizaram a Prevent Senior pelas ações irregulares. “Nós estamos fazendo a coisa certa. Nós não somos criminosos. O bem social acho que tem que prevalecer acima de qualquer outra definição, ou de dinheiro ou de lucro”, afirmou George Joppert.