Michelle Bolsonaro fez pedido à Caixa para liberação de empréstimos a amigos empresários, diz revista

A intercessão de Michelle pelo grupo de empresas próximas fere um dos princípios elementares da administração pública, a impessoalidade.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro agiu pessoalmente para favorecer empresários bolsonaristas e próximos à família durante a pandemia. É o que afirma reportagem desta semana da revista Crusoé. Por meio de um atalho pessoal de dentro do seu gabinete, Michelle fez pedidos para que a Caixa Econômica Federal atendesse ao seleto grupo de empresários por meio do programa emergencial para facilitação de acesso ao crédito.

De acordo com a apuração jornalística, a primeira-dama e assessores de seu gabinete chegaram a despachar as demandas por e-mail. Embora as mensagens não especificassem qual programa de crédito as empresas deveriam receber, todos os participantes da lista foram contemplados pelo Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, o Pronamp.

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A intercessão de Michelle pelo grupo de empresas próximas fere um dos princípios elementares da administração pública, a impessoalidade. O esquema chamou atenção inclusive do próprio sistema de controle da Caixa, uma vez que estava contrariando o fluxo de etapas que costumam ser seguidas quando os pedidos são feitos por clientes comuns.

Segundo a revista, Michelle Bolsonaro tratou da questão diretamente com o presidente do banco, Pedro Guimarães, também bolsonarista. A maioria dos empréstimos era realizada numa agência de Taguatinga, cidade próxima a Brasília, após a equipe de Guimarães encaminhar as demandas da primeira-dama. No sistema de computadores da agência, havia uma pasta com título “Indicações”, com os pedidos vindo de superiores do banco.

A equipe identificou que algumas empresas tinham sido indicadas por uma PEP (pessoa exposta politicamente) e, assim, descobriram que a indicação era da própria primeira-dama do País. “Cliente veio através de lista de empresas indicadas pela primeira-dama Michelle Bolsonaro ao presidente Pedro Guimarães”, constava em um dos documentos.

Lista vip

Entre os beneficiados com as indicações realizadas pelo gabinete de Michelle Bolsonaro, está a dona de uma rede de confeitarias de Brasília, a bolsonarista e amiga da primeira-dama, Maria Amélia Campos. Maria Amélia, assumidamente apoiadora de Bolsonaro, destacou para a reportagem que evita falar de sua amizade com o clã presidencial.
A respeito do auxílio de Michelle na liberação do crédito, a doceira se limitou a responder que não tinha “nenhum empréstimo em lugar nenhum”. Maria Amélia, no entanto, conseguiu aprovação de R$ 518 mil de empréstimo, registrado em nome de uma de suas lojas, e ainda conseguiu ajuda de Michelle em favor de um casal de amigos, donos de um salão na Asa Sul de Brasília.

Waldemar Caetano Filho é sócio do salão Luiza Coiffeur, nome em homenagem a sua esposa. Sobre o empréstimo que conseguiu, o empresário também bolsonarista não negou. “O contato com a primeira-dama foi fundamental. É o famoso QI (quem indica) que fala, não é!? Foi uma parceria com a primeira-dama, ela que deu a força final. Foi a Maria Amélia, amiga da gente, que conseguiu com a primeira-dama. Precisei ir uma vez só na Caixa”, disse.

Mais um nome que figura na lista vip de Michelle é o florista Rodrigo Resende, dono de uma floricultura de Brasília. Ele admite ter a primeira-dama como cliente, mas nega que tenha obtido o financiamento através dela. Questionado, apenas desconversou.

Uma das empresas mais presentes na lista de indicações é a boutique de roupas femininas Darela Modas. A divulgação da marca é feita constantemente por Heloisa Bolsonaro, mulher do deputado Eduardo Bolsonaro, filho 03 do presidente. Sobre o empréstimo, a gerente da loja não deu explicações. Mariana Barros, a dona da boutique, é parente de Márcia Barros de Matos, administradora de uma rede de óticas de Brasília que também conseguiu empréstimos que, ao todo, somam R$ 618 mil.

A lista vip da primeira-dama traz nomes de empresários próximos à família Bolsonaro e conhecidos entre si. O florista Rodrigo Resende é amigo da boleira Maria Amélia, que é amiga dos donos do Luiza Coiffeur. A maioria fornece diretamente serviços ao clã.

A revista Crusoé procurou respostas sobre o assunto e embora a assessoria de Michelle Bolsonaro tenha informado que responderia às perguntas enviadas, não deu mais retorno. Já a Caixa Econômica emitiu nota à revista informando que “a concessão de crédito em todas as suas linhas passa por rigoroso processo de governança, compliance e análise de riscos independente.”

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