Antes de defender aumento, Bolsonaro atacava Bolsa Família e já pregou fim do programa

Em diversas ocasiões, o atual presidente depreciou o programa de distribuição de renda

18:08 | Set. 20, 2021

Por: Rose Serafim
Presidente Jair Bolsonaro vê que governo imprime sua marca na prova (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Defensor do aumento no valor do programa Bolsa Família, criado no primeiro governo Lula, o presidente Jair Bolsonaro, até pouco tempo, tinha opinião bem crítica em relação ao auxílio assistencial. Em 22 de março de 2019, por exemplo, Bolsonaro disse, durante uma de suas tradicionais transmissões ao vivo das terças-feiras, que filhos de beneficiários do Bolsa Família tinham menor desenvolvimento intelectual.

"Chegou-se à conclusão que o desenvolvimento intelectual dessa garotada, de 0 a 3 anos, filhos de Bolsa Família, equivaliam a 1/3 da média mundial", explicava o Bolsonaro, ao lado do filho dele, Eduardo Bolsonaro, deputado Federal.

De forma imprecisa, o mandatário citava dados de um estudo elaborado pelo Ministério da Cidadania. A pesquisa foi feita com 3 mil crianças e analisou o desenvolvimento cognitivo na primeira infância a partir de condições socioeconômicas. Dessa forma, a característica “filhos de beneficiários do Bolsa Família” no estudo, servia somente para indicar situação de vulnerabilidade social.

O levantamento indicou "uma defasagem no desenvolvimento cognitivo das crianças beneficiárias [do Bolsa Família] de aproximadamente 35% em comparação com outras crianças da mesma faixa etária que não se encontram em situação de vulnerabilidade social", destacou o EL País, à época.

Essa não foi a única vez que o atual chefe do Executivo se referiu de forma, no mínimo, maldosa aos beneficiários do programa de distribuição de renda.

“Não produz nada”

Em 2015, enquanto deputado federal, Bolsonaro foi filmado para um documentário e comentou o que considerava falta de planejamento familiar de beneficiários do programa.

“O cara tem 3, 4, 5, 10 filhos e é problema do Estado. Ele já vai viver de Bolsa Família, não vai fazer nada. Não produz bens nem serviços, não colabora com o PIB, não produz nada", disse o então deputado federal Bolsonaro. A cena em questão não chegou a entrar no filme, mas foi divulgada em agosto de 2020, por Carlos Juliano Barros, diretor do filme “Entre os homens de bem”.

Barros trouxe à tona as imagens em meio às discussões sobre o Renda Brasil, proposta lançada pelo governo federal à época para substituir o Bolsa Família.

Em maio de 2015, entrevistei o Presidente @jairbolsonaro. Revirando meus arquivos, achei esse trecho em que ele comenta sobre planejamento familiar e Bolsa Família - que o governo quer substituir pelo Renda Brasil, de olho nas eleições de 2022. pic.twitter.com/9oS0oU7XWK

— Carlos Juliano Barros (@CarlosJulianoB2) August 26, 2020

“Mentira”

Numa entrevista à Record News, em 2012, Bolsonaro disse que o programa social é uma mentira e sugeriu que os beneficiários não aceitam trabalhos por conta do valor recebido do governo. “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família”, afirmou.

“Pobres coitados”, “ignorantes” e “sem cultura”

Enquanto parlamentar, Bolsonaro citou o programa pelo menos 40 vezes em pronunciamentos, sempre de forma negativa, indica levantamento feito pelo Uol em 2019. Em 2011, quando buscava a Presidência da Câmara, o deputado defendeu o fim dos pagamentos, indicando que a manutenção do programa levaria a uma “ditadura do proletariado”.

"Devemos discutir aqui a questão do Bolsa Família. Devemos colocar um fim, uma transição para o Bolsa Família, porque, cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem Bolsa Família, tornam-se eleitores de cabresto do PT", pregou, antes de concluir”, disse, na ocasião.

No mesmo ano, o parlamentar se referiu aos beneficiários como “sem cultura” que seriam escravizados pelo PT, ao criticar o reajuste dos valores do programa. "Quanto mais pobre, miserável e sem cultura, mais gente com título de eleitor na mão para manter no governo, que o escraviza", resumiu. Os trechos dos discursos foram divulgados pelo Uol.

“Vote em outro candidato”

Já pré-candidato à República, Bolsonaro visitou, em 2017, a Festa do Peão, em Barretos (SP), e disse que não seria “com caridade” que o Brasil sairia da situação crítica, referindo-se ao programa. Quem quiser ampliação do programa, que vote em outro candidato, disse o parlamentar no evento.

“Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto."

Mudança de postura

Já candidato em 2018, o ex-PSL declarou, em vídeo, que incluiria uma proposta de 13º salário no programa que ele tanto criticava. No vídeo, o antes crítico ao programa disse que acabar com ele seria um "ato de desumanidade".

 

Auxílio Brasil

No último 9 de agosto, o presidente entregou à Câmara dos Deputados uma medida provisória que cria o Auxílio Brasil, um programa social destinado a substituir o Bolsa Família. A nova proposta pagaria até R$ 300 a cada beneficiário, mas o valor final só deve ser definido no final do ano pela equipe econômica destacada para isso.

Atualmente, o programa paga um valor base de R$ 192, e Bolsonaro já chegou a falar num benefício de R$ 400, o que representaria um aumento de 100% em relação ao valor máximo médio pago. Mas o mandatário afirmou que o aumento garantido, até agora, é de 50%.

Com a medida, o presidente visa recuperar competitividade eleitoral para a campanha de reeleição em 2022.