Nomes da esquerda e da direita resistem a ato unificado contra Bolsonaro no próximo dia 12

O MBL e o movimento Vem Pra Rua convocaram manifestações suprapartidárias contra o presidente Jair Bolsonaro convidando partidos historicamente rivais

11:15 | Set. 10, 2021

Por: Alice Araújo
MBL esteve à frente dos protestos que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff (foto: DIVULGAÇÃO )

O ato unificado, marcado para 12 de setembro, na Avenida Paulista, convocado pelos movimentos de direita MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua, está dividindo a opinião de representantes tanto da esquerda como da direita brasileira. As manifestações, organizadas pelos dois movimentos, têm como objetivo unir forças para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com a participação de partidos do centro e de esquerda, além das siglas de direita.

As opiniões contrárias à unificação proposta pelo ato se baseiam no histórico considerado controverso do MBL e do Vem Pra Rua. Ambos os grupos foram participantes ativos das manifestações que resultaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, causando o ressentimento da esquerda que dura até os dias atuais. Os dois movimentos apoiaram a candidatura de Bolsonaro, mas romperam a aliança no início de 2019, endossando movimentos que pedem o impeachment do chefe do Executivo.

Quem estará nos atos

Dentre os partidos confirmados para participar das manifestações, estão o Novo, o Cidadania, o PSL e o PSDB. O MBL também confirmou a presença nos palanques do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-GO) e do senador Álvaro Dias (Podemos-PR). O PDT, de Ciro Gomes, afirmou em nota que também se juntará ao ato. “É hora de unirmos forças da esquerda à direita pelo impeachment desse presidente tirano e incompetente. Todos aqueles que realmente querem a saída de Bolsonaro precisam estar juntos neste momento”, disse o presidente do PDT São Paulo, Antonio Neto.

O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), uma das lideranças do MBL, também reforçou o convite a partidos de centro-esquerda e esquerda. Segundo ele, todos serão bem-vindos aos movimentos que tem como objetivo “unificar, não segregar". Em nota oficial do MBL, os organizadores pedem que os participantes deixem “suas pautas particulares e suas preferências eleitorais de fora” e que o foco seja no pedido de impeachment de Bolsonaro.

Até agora, são esperadas as participações de políticos como Orlando Silva (PCdoB-SP) e Isa Penna (Psol-SP). Em sua conta no Twitter, a deputada confirmou sua participação e declarou que “é hora de se unir nas ruas contra Bolsonaro”. “Nós, da esquerda, precisamos estar presentes”, enfatizou na publicação.

É HORA DE SE UNIR NAS RUAS CONTRA BOLSONARO! No dia 12 de setembro estão programados atos "Fora Bolsonaro" em todo o país. Eu vou. E nós, da esquerda, precisamos estar presentes.

— Deputada Isa Penna #MarcoTemporalNão (@isapenna) September 8, 2021

Quem também confirmou presença através das redes sociais, foi o músico Tico Santa Cruz. “Dia 12 de setembro estarei nas ruas”, afirmou. “Não represento partido, não represento político, represento minha autonomia política que tem lado bem definido”, disse na postagem.

Dia 12 de setembro estarei nas ruas!
Não represento partido, não represento político - represento minha autonomia política que tem lado BEM DEFINIDO, e que não me impede de estar ao lado da Direita na Luta CONTRA O Bolsonarismo!
Hoje meu partido é FORA BOLSONARO!

— Tico Santta Cruz (@Ticostacruz) September 7, 2021

O ato não deve contar com a participação do PT, mas as bancadas do partido na Câmara dos Deputados e no Senado se reuniram, na quarta-feira (08), para discutir um ato unificado futuro e concordaram com a organização de uma manifestação nacional em defesa do impeachment de Jair Bolsonaro.

Ainda na quarta-feira (08), representantes de nove partidos (PT, PDT, PSB, PSOL, PC do B, PV, Solidariedade, Rede e Cidadania) também participaram de uma reunião, onde ficou acordado organizar duas manifestações amplas contra Bolsonaro, que devem acontecer em outubro e em novembro.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, se manifestou no twitter e frisou “enquanto construímos esta grande manifestação de unidade pela democracia, pelo Brasil e pelos direitos do povo, incentivamos todos os atos que forem realizados em defesa do impeachment”, escreveu. A união de partidos de oposição histórica, no entanto, está dividindo opiniões de esquerdistas e de representantes da direita.

Manifestações contra e a favor

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), via Twitter, demonstrou sua oposição a unificação de direita e esquerda nos atos de 12 de setembro. “Primeiro 'Nem Lula, Nem Bolsonaro'. Agora virou só 'Fora Bolsonaro'. Para quem defende 3ª via, o dia 12 está mais para 'Volta Lula'”, escreveu, pedindo a saída do Partido Novo das manifestações. “Declare o fim do apoio a um ato que agora abraçará corruptos, petistas e comunistas”, conclui.

Primeiro era "Nem Lula, Nem Bolsonaro". Agora virou só "Fora Bolsonaro". Pra quem defende 3ª via, o dia 12 já está mais para "Volta, Lula". Como filiado, que o @partidonovo30 saia dessa já e declare fim do apoio a um ato que agora abraçará corruptos petistas e comunistas. pic.twitter.com/pjuApbdfaT

— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) September 9, 2021

Políticos e movimentos de esquerda também manifestaram críticas à unificação dos rivais históricos. Uma das entidades que não irá participar é a Central Única dos Trabalhadores (CUT). A CUT emitiu nota para informar que "não convocará e não faz parte da organização de nenhuma manifestação" no dia 12 de setembro. Quem também expôs opinião contrária à união de esquerda e direita nos atos, foi o político esquerdista, Jean Wyllys (PT). Ele se manifestou no Twitter dizendo acreditar que partidos de esquerda, “blogs de esquerda e democráticos e artistas sejam capazes de fazer uma manifestação que não dependa em nada do MBL”.

Eu acredito que o @ptbrasil , o PC do B, o @psol50 , o PSB, o PDT, o @MST_Oficial , o @mtst , a @ApibOficial , os @J_LIVRES , blogs de esquerda e democráticos e artistas SEJAM CAPAZES de fazer uma manifestação que não dependa em nada do MBL. Por favor! Tudo tem limite, Dora!

— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) September 8, 2021

A escritora Marcia Tiburi, que foi candidata ao governo do Rio pelo PT nas eleições de 2018, e mora fora do País, depois de ameaças de membros do MBL, também se mostrou contra a união nos atos. Ela escreveu nas suas redes sociais: “MBL é um movimento de agitadores fascistas, uma marca do mercado do ódio essencial no golpe de 2016. Eles se construíram criando fake news e perseguindo pessoas”, ressaltou, lembrando sua saída do Brasil causada pelo grupo. “Hoje tentam reposicionar a marca usando a esquerda ingênua”.

MBL é um movimento de agitadores fascistas, uma marca do mercado do ódio essencial no golpe de 2016. Eles se construíram criando Fake News e perseguindo pessoas. O que fizeram comigo resultou na minha saída do Brasil. Hoje tentam reposicionar a marca usando a esquerda ingênua.

— Marcia Tiburi (@marciatiburi) September 9, 2021

Outro que se manifestou contrário aos protestos convocados pelos grupos MBL e Vem Pra Rua, foi o jornalista e idealizador do Mídia Ninja, Bruno Torturra. Em uma série de posts, Torturra comentou seu repúdio ao MBL, afirmando que o grupo “não é um partido, nem uma organização da 'direita democrática'. É uma startup de picaretas ambiciosos”. Segundo o jornalista, que já cobriu de perto manifestações organizadas pelo movimento, está fora de cogitação a participação nos atos de 12 de setembro. “Eu nunca vou atender o chamado desses farsantes que só não estão dando um golpe porque ainda não conseguem”, encerrou.

Rua é coisa séria. E raramente se conquista a demanda nela. Mas a rua catalisa força política e a entrega na forma de poder a quem sabe operar por cima dela. É por isso que eu nunca vou atender a chamado desses farsantes que só não estão dando um golpe porque ainda não conseguem.

— Bruno Torturra (@torturra) September 9, 2021