Para bolsonaristas, STF é o principal inimigo do presidente, aponta levantamento da USP
Pesquisa também analisou o objetivo da participação nos atos, o perfil dos manifestantes, e a opinião em relação às medidas sanitáriasUm levantamento realizado com manifestantes que participaram dos protestos de 7 de setembro, em apoio a Jair Bolsonaro (sem partido), na Avenida Paulista, revelou que, para bolsonaristas, o Supremo Tribunal Federal (STF) é o principal inimigo do presidente, com 59% do percentual total, seguidos pela esquerda (17%) e a imprensa (15%). Ainda apareceram nas respostas ao questionamento de quem seria o maior inimigo de Bolsonaro, o Congresso Nacional (3%), os governadores (1%), e a CPI da Covid, com menos de 1%.
Os dados foram coletados por pesquisadores do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), durante as manifestações. Quando analisado qual o principal motivo da participação dos manifestantes nos atos, 29% responderam pedir o impeachment de membros do STF, pauta recorrente no discurso do presidente e reforçada durante suas falas nos protestos. Ainda apareceram nas respostas declarações como: defender a liberdade de expressão (28%), autorizar o presidente a agir (24%), implementar o voto impresso (12%) e pedir intervenção militar para “moderar” conflitos entre poderes (5%).
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Ao analisar os temas apontados como motivos para atender às manifestações, o coordenador da pesquisa, o professor da USP Pablo Ortellado, lembra que "o antagonismo com o STF é o que está movendo a base bolsonarista hoje". Quanto à expressiva recorrência da liberdade de expressão nas respostas, o professor considera que o engajamento se deve à recente Medida Provisória, editada por Bolsonaro, que dificulta o monitoramento da disseminação de fake news e conteúdo impróprio nas redes sociais.
Maioria de homens, brancos e com mais de 45 anos
O perfil dos participantes protestando a favor de Bolsonaro segue o perfil do eleitorado do presidente, uma vez que, dos presentes, 88% responderam que votaram em Bolsonaro no primeiro turno da eleição de 2018: homens, brancos, com mais de 40 anos de idade. Somente 5% das pessoas que responderam a pesquisa tinham entre 19 e 24 anos, e 2% entre 13 e 18, a grande maioria eram de pessoas entre 45 ou mais, representando 53% do total.
Quanto a cor de pele, 60% eram autodeclarados brancos e 33% negros (amarelos, 2%, indígenas, 1%, 3% não responderam). O levantamento também revelou a maior presença masculina nas manifestações, com 61% da participação de homens e 39% de mulheres. A renda familiar também foi analisada, e 42% dos manifestantes afirmaram ganhar mais de cinco salários mínimos por mês, 38% entre dois e cinco, e 14% com menos de dois.
O público simpatizante ao presidente se declarou 65% como muito conservadores em relação a temas que dizem respeito à família, drogas e punição de crimes. Já 30% dos entrevistados se disseram pouco conservadores. Quanto à orientação política, 77% responderam ser de direita, contra 16% que afirmaram não se identificar como de direita, de esquerda ou de centro. Outros 5% afirmaram ser de centro, e menos de 1% de esquerda.
Contrários ao uso de máscara
Um dos aspectos analisados pelo levantamento feito nas manifestações foi o apoio ou não a medidas sanitárias, como o uso de máscaras. Dos entrevistados, 49% não faziam o uso do acessório, e 53% afirmaram ser contrários ao uso obrigatório da máscara, contra 41% que se disseram a favor.
Em concordância com o posicionamento do presidente em relação à contrariedade às medidas tomadas por governadores e prefeitos para conter o avanço da Pandemia, 87% dos entrevistados ainda alegaram ser inadequado o fechamento do comércio, e 84% disseram ser contra a imposição de restrições a quem não tomou a vacina.