Em congresso de conservadores, ministro de Bolsonaro convoca para ato do dia 7

O ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) usou o congresso CPAC Brasil, de orientação conservadora, com uma plataforma convocatória para protestos no 7 de Setembro, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Onyx fez o discurso de abertura do evento nesta sexta-feira, dia 3, e ecoou um bordão de viés autoritário que faz alusão ao Supremo Tribunal Federal (STF), alvo da revolta dos apoiadores do presidente. O ministro também criticou a Corte.
"No dia 7 vamos todos para rua, vamos de verde e amarelo, mostrar o povo ordeiro, as nossas famílias, levar nossos filhos e filhas pelas mãos, levar nossos avós, os netos, vamos levar nossa alma e nosso coração pelas ruas do Brasil para que fique muito claro que supremo é o povo brasileiro", afirmou Onyx. "Não pode nenhuma pessoa por maior sua arrogância, sua prepotência, por maior que seja seu destemor a Deus, ela achar que ela está acima do bem e do mal."
O ministro disse que a manifestação de 7 de Setembro será um recado ao Brasil e ao mundo de que não há "covardes" no governo. Usando retórica religiosa, o ministro, que é cristão protestante, disse que Bolsonaro é o presidente mais atacado do planeta. Ele discursou com uma foto de Bolsonaro ao fundo com a palavra "liberdade" em destaque, repetindo o argumento de que o presidente é vítima de ações de outros poderes.
"O presidente Jair Bolsonaro não se afastou uma linha da Constituição brasileira, são outros que venceram as quatro linhas, não o presidente", discursou o ministro, sem citar nomes. "Não há paralelo no planeta de presidente que tenha sido mais vilipendiado do que esse homem, mais atacado do que ele, mas ele tem resiliência, tem força e como a maioria de nós não tem medo de botar o joelho no chão e dizer 'meu Deus, socorre o meu País'", disse Onyx, embargando a voz.
Onyx afirmou que, ao determinar as atribuições sobre restrições de circulação da pandemia, o STF, contrariou a estrutura federativa empoderando Estados e municípios, "apenas para limitar a ação do presidente". "Qual foi o resultado do fica em casa, fecha tudo, a economia gente vê depois? As dificuldades que nós vivemos hoje", disse Onyx.
O ministro fez uma defesa extensa do governo e, ignorando fatos investigados pelo Senado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, afirmou que não há casos de corrupção no governo Bolsonaro. Sem citar os 582 mil mortos, alegou que o novo coronavírus é um "vírus chinês", nomenclatura discriminatória condenada internacionalmente, e disse que os problemas no Sistema Único de Saúde (SUS) foram "episódios pontuais" - mais uma vez ignorando mortes provocadas por demora em atendimento, filas e colapsos na rede, como o de oxigênio na região Norte. "Na regra nosso sistema funcionou muito melhor que Itália, França, Alemanha, Canadá, Espanha, ou seja, países muito mais desenvolvidos do que o nosso", disse Onyx.
Ele disse que Bolsonaro não é negacionista e deixou de comentar a demora na aquisição de vacinas, além das seguidas vezes em que desrespeitou medidas de distanciamento social e o uso de máscaras - artigo que não vinha sendo usado no auditório.
O encontro é uma plataforma de disseminação de ideias conservadoras e também repete teorias conspiratórias e informações falsas ou distorcidas. O evento foi inspirado em uma edição dos Estados Unidos e terá, segundo os promotores, a presença de Donald Trump Jr, filho do ex-presidente republicano Donald Trump, não reeleito, neste sábado. Nesta sexta, também participaram ex-ministros que são ícones da direita, como Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Ernesto Araújo (Itamaraty).
Os organizadores são o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, e Sérgio Santana, do Instituto Conservador-Liberal . Eduardo Bolsonaro, na mesma linha, disse que não há acirramento entre os poderes, mas um "tensionamento causado pelo STF". "O presidente não faz nada, o presidente só é vítima de desmandos", disse sobre o pai.
Outro tema do primeiro dia do CPAC foi o voto impresso, assunto derrotado na Câmara dos Deputados. Apesar disso, a tentativa de retomar a votação em cédulas de papel e contagem manual continua sendo uma bandeira do bolsonarismo na pauta da manifestação de 7 de Setembro. A deputada Bia Kicis (PSL-DF), que articulava a aprovação do voto impresso e foi derrotada, voltou à carga levantando suspeitas nunca comprovadas de invasão e fraude em urnas eletrônicas. Ele pediu que a Justiça Eleitoral seja alterada.
"Nunca se comprovou (fraude) porque não dá para comprovar. O sistema não deixa rastros. Se houver fraude não deixa rastros", argumentou a parlamentar. "Temos que mexer na competência do TSE. Não é possível que haja tamanha concentração de poder."
A deputada pediu que os manifestantes cobrem no dia 7 que haja adoção do voto impresso, pressionado para que o tema seja analisado novamente em outro formato na Câmara, que não uma proposta de emenda à Constituição.
"Ainda podemos por meio de lei, e aí a importância do dia 7. Se no dia 7, e há de ser gigante, o povo mostrar que está incomodado com essa decisão do Congresso, que sim queremos eleições limpas, transparentes e queremos liberdade e a verdadeira democracia, temos que continuar fazendo", disse a deputada. Bia Kicis questionou se "vivemos numa democracia" e se as "instituições estão funcionando". A plateia respondeu que não.

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