Médicos criticam invasão de vereador Carmelo Neto a UPAs em Fortaleza

O Sindicato dos Médicos do Ceará divulgou nota criticando a abordagem do vereador em ação de fiscalização filmada para as redes sociais; plantonista relata que atendia paciente com infarto quando foi surpreendido

19:45 | Set. 03, 2021

Por: Maria Eduarda Pessoa
FORTALEZA, CE, 17-02-2021: Sessao no Plenario da Camara Municipal de Fortaleza. Na foto o vereador Carmelo Neto (REPUBLICANOS). Luciano Cavalcante, Fortaleza. (BARBARA MOIRA/ O POVO) (foto: Barbara Moira)

O Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) lançou nesta sexta-feira, 3, uma nota repudiando a ação do vereador Carmelo Neto (Republicanos), que adentrou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza em ação de "fiscalização", numa tentativa de demonstrar uma suposta inação de profissionais nesses pontos. Alegando ter recebido uma denúncia de demora no atendimento, o parlamentar foi a quatro UPAs sob gestão da Prefeitura e uma do Governo do Estado.

Na Unidade da Praia do Futuro, de domínio estadual, conforme fez questão de destacar, o vereador filmou a abordagem e publicou nas redes sociais. A postura foi rechaçada pelos profissionais do local, que acionaram o Simec. Segundo membro da diretoria da entidade, Edmar Fernandes, o episódio, no entanto, repercutiu entre toda a categoria profissional. "Isso foi uma avalanche e se estendeu para toda a classe médica", afirma. 

O Departamento Jurídico do Simec encaminhou ofício para o gabinete do vereador contestando “os excessos causados à classe”, que queixou-se da abordagem. A categoria solicita uma retratação. Nenhum médico manifestou pretensão, até o momento, de ajuizar ação contra o parlamentar.

O médico emergencista Sandro Bandeira era o chefe de plantão na UPA da Praia do Futuro na ocasião da tentativa da fiscalização. Ao O POVO, o profissional contou que o vereador chegou por volta da meia-noite, quando boa parte médicos estavam em horário de descanso, o que justificaria os consultórios vazios que aparecem no vídeo. "É um horário de transição e não estava acontecendo nada", explica.

“Eu fico com pacientes mais graves, em uma área mais reclusa. Eu estava atendendo um paciente que estava infartando quando ele chegou”, conta. “Mesmo assim, (depois) eu fui falar com ele, quando cheguei ele já tinha feito um alarde”.

Bandeira afirma ainda que atendeu à queixa de suposta demora no atendimento e abriu o sistema da unidade para o vereador, demonstrando que não havia ninguém na fila de espera. “A pessoa que aparece no vídeo estava esperando o resultado de um exame, que passa para análise no HGF”, alega.

Segundo o médico, o vereador “tentou criar uma situação para se autopromover, desrespeitou os profissionais da UPA”, de médicos a seguranças e profissionais da recepção. Bandeira alerta ainda para vários riscos da abordagem, como a possibilidade de exposição e constrangimento de algum paciente que pudesse estar sendo conduzido a um exame físico em uma das salas.

Para justificar a ação, Carmelo afirmou nas redes sociais que foi orientado que a fiscalização só poderia acontecer mediante agendamento na Secretaria de Saúde.

Bandeira, por sua vez, explica que a fiscalização “nos moldes que o vereador queria” só era possível com a presença da coordenadora da unidade, que não estava presente na hora. A reportagem procurou a assessoria do vereador, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.