Ex-empregado dos Bolsonaro diz ter testemunhado série de crimes da família
Marcelo Luiz Nogueira dos Santos trabalhou 14 anos para a família e alega que a ex-esposa do presidente era encarregada dos esquemas de rachadinha antes de Fabrício Queiroz
11:52 | Set. 03, 2021
Um ex-empregado da família do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirma ter testemunhado a prática de vários crimes no período de 14 anos que trabalhou para a família em diferentes cargos. Marcelo Luiz Nogueira atribuiu os supostos crimes a Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente, e aos filhos de Bolsonaro, os parlamentares Flávio e Carlos Bolsonaro.
Em entrevista à coluna do jornalista Guilherme Amado, do jornal Metrópoles, Marcelo Luiz deu detalhes sobre os anos que passou servindo aos Bolsonaro, e sobre as quatro funções que exerceu neste período. Em 2002, trabalhou na campanha de Flávio Bolsonaro para deputado estadual, e entre os anos de 2003 e 2007 foi lotado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no gabinete de Flávio. Com a separação do presidente e de Ana Cristina Valle, Marcelo Luiz passou a cuidar de Jair Renan, filho do casal, na época com nove anos, a pedido do próprio Jair Bolsonaro.
O ex-empregado ficou no cargo até Ana Cristina se mudar para a Europa. Nos últimos anos, entre 2014 e 2021, trabalhou nas casas da ex-esposa do presidente fazendo serviços domésticos, em Resende (RJ) e, nos últimos meses, em Brasília. Marcelo Luiz pediu demissão recentemente, por não receber o salário pedido. e decidiu contar os supostos crimes que testemunhou enquanto trabalhou para a família.
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De acordo com Marcelo, a advogada Ana Cristina Valle precedeu Fabricio Queiroz no esquema das rachadinhas, e era responsável por recolher os valores nos gabinetes de Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e de Carlos Bolsonaro, vereador do município. Ambos os parlamentares passaram a assumir a responsabilidade de recolher os valores, após a separação de Ana Cristina e de Jair Bolsonaro, em 2007.
Marcelo Luiz afirma ter devolvido 80% de tudo que recebeu no gabinete de Flávio nos quase quatro anos em que foi servidor, uma quantia de cerca de R$ 340 mil. Segundo ele, a articulação do esquema na Assembleia Legislativa e na Câmara do Rio de Janeiro era serviço de Ana Cristina. Todo mês, Marcelo Luiz e todos os outros assessores de Flávio e Carlos sacavam 80% de seu salário e entregavam o dinheiro em espécie nas mãos da advogada.
Marcelo ainda afirma que o patrimônio de Ana Cristina Valle, estimado em R$ 5 milhões, teria sido formado com o uso de laranjas, incluindo a compra de sua mansão em Brasília, onde a advogada mora atualmente, com o filho Jair Renan. O ex-empregado relata que Ana Cristina não teria alugado a casa, como afirma, mas sim comprado por meio de dois laranjas, fazendo uso de um documento informal não registrado em cartório. Com o encerramento do financiamento, o imóvel seria repassado para seu nome, a fim de não chamar atenção da mídia para a compra de mais um imóvel de luxo pelos Bolsonaro.
O fim dos serviços de Marcelo Luiz para a família Bolsonaro aconteceu em junho, quando ele saiu da casa de Ana Cristina. De acordo com ele, nos meses anteriores ele acompanhou a ex-esposa do presidente em sua mudança do Rio de Janeiro para Brasília, em que estaria acordado um pagamento a Marcelo de R$ 3 mil por mês. Com o descumprimento do acordo, Ana Cristina passou a pagar R$ 1,3 mil a Marcelo, alegando falta de dinheiro.
Sem condições de sair do local, o ex-empregado acusou a advogada de mantê-lo em condições análogas a escravidão. “Falei para ela: ‘Cristina, não sou obrigado a morar na sua casa. Trabalho para ter meu canto e em Brasília tudo é caro. Você pensa que vou ficar na sua casa e ser seu escravo? A escravidão já acabou. Você é racista. Isso é racismo. Você me tirou lá do Rio só porque em Brasília eu não tenho ninguém e não conheço nada? Acha que vou aceitar o que quer fazer comigo?’”, relatou.
Em agosto, depois de conseguir chegar ao Rio de Janeiro, Marcelo Luiz denunciou Ana Cristina Valle por violações trabalhistas no Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal.