"Este tipo de gente quer voltar ao poder", diz Bolsonaro sobre manifestações indígenas
Em postagem nas redes sociais, o presidente condenou as manifestações contra o marco o temporal, que pode alterar o regime de demarcação de terras indígenas
20:27 | Ago. 27, 2021
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) compartilhou um vídeo na tarde desta sexta-feira, 27, criticando a manifestação contra o marco temporal que reúne milhares de indígenas em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.
O registro publicado pelo presidente mostra um grupo observando uma grande estrutura no formato de uma caixão incendiada com os dizeres "PLs [Projetos de Leis] da Morte", "Fora Garimpo" e "Fora Grilagem", além de uma bandeira com a frase "demarcação já!".
O ato indígena ocorre um dia após o STF (Supremo Tribunal Federal) iniciar o julgamento, que já foi adiado por cinco vezes e pode alterar a demarcação de territórios indígenas em todo o Brasil.
Na legenda da postagem, o presidente escreveu: "Agora, na frente da Presidência da República. Este tipo de gente quer voltar ao Poder com ajuda daqueles que censuram, prendem e atacam os defensores da liberdade e da CF [Constituição Federal]".
- Agora, em frente a Presidência da República. Esse tipo de gente quer voltar ao Poder com ajudado daqueles que censuram, prendem e atacam os defensores da CF e da liberdade.
- No momento me encontro no Comando de Operações Especiais em Goiânia/GO.
- Presidente Jair Bolsonaro. pic.twitter.com/rRSl247iHg
Segundo a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), cerca de 6 mil representantes de 170 povos foram enviados a Brasília para acompanhar o julgamento. Apesar do número de indígenas enviados à capital federal, a gravação divulgada pelo atual mandatário mostra apenas um grupo reduzido observando a fumaça saindo da estrutura incendiada.
Durante esta semana, quando mais indígenas se organizavam em Brasília, Bolsonaro chamou o acampamento montado pelos manifestantes de "massa de manobra" e que tem como objetivo "tumultuar".
Em entrevista a uma rádio de Pernambuco nessa quinta, 26, o chefe do Executivo falou sobre a expectativa da votação. Para ele, "não teremos mais agricultura no Brasil" se a decisão for favorável aos indígenas.
O presidente é ligado a ruralistas, que defendem, em geral, que prevaleça a tese do "marco temporal" de ocupação previsto no projeto de lei 490/2007, que da o direito à demarcação de terras indígenas apenas aos povos que estavam na área na época da elaboração da Constituição de 1988.
"Se o Supremo mudar o seu entendimento sobre o marco temporal, haverá uma ordem judicial para eu demarcar, em terras indígenas, o equivalente à região Sudeste. Ou seja, hoje nós temos algo em torno de 14% demarcado como sendo de terras indígenas, vamos passar para aproximadamente 28%", declarou.
A Apib, por sua vez, afirma se tratar de uma tese “anti-indígena”, “que pretende, na realidade, expulsar os ocupantes originários das terras para destruí-las e explorá-las à exaustão”. Lideranças indígenas pressionam para que o STF rejeite a tese, possibilitando, assim, a solução de centenas de disputas judiciais e o andamento 310 processos de demarcação de terras indígenas na Justiça.