Apoiadores de Bolsonaro em Fortaleza fazem ato a favor do voto impresso
Manifestantes reproduziram falas do presidente sem comprovação questionando sistema eleitoral. Equipe do O POVO foi hostilizada no local
18:41 | Ago. 01, 2021
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se reuniram na Praça Portugal, em Fortaleza, neste domingo, 1º, em manifestação a favor da PEC do Voto Impresso Auditável, que está em discussão na Câmara Federal. O ato foi organizado por grupos da direita na Capital e contou com a presença de porta-vozes do bolsonarismo no estado, como o deputado estadual André Fernandes e o vereador Carmelo Neto, ambos do partido Republicanos.
Vestidos nas cores verde e amarelo, a maioria dos manifestantes segurava faixas, cartazes e bandeiras pedindo “voto impresso e auditável já!”. Eles se aglomeraram ao redor de um trio elétrico estacionado no cruzamento das avenidas Dom Luís e Desembargador Moreira.
As vias tiveram trechos interditados para passeatas de ciclistas e motociclistas pró-Bolsonaro. No local, não havia agentes Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) controlando o fluxo de veículos. O POVO perguntou ao órgão se o bloqueio das avenidas havia sido autorizado, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
Logo no começo do ato, os manifestantes ouviram uma mensagem gravada por Bolsonaro, reproduzida no celular do vereador Carmelo Neto. Além de defender o que chamou de “contagem pública” dos votos, Bolsonaro repetiu que não aceitará eleições no atual sistema de votação, com urna eletrônica, em 2022.
“Não podemos permitir que meia dúzia de pessoas na sala secreta contem os votos de todos nós. Não aceitaremos eleições secretas. O voto, além de auditável, tem que ser transparente e democrático. A contagem pública é a garantia de que a pessoa eleita é aquela que foi votada em todo o Brasil”, disse o presidente, causando apoio instantâneo dos presentes.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, defensor do sistema de votação com urnas eletrônicas, foi o alvo preferencial dos discursos no ato. “Barroso, eu não tenho medo de você”, bradou o vereador Inspetor Alberto (Pros), que ainda acusou os membros da Corte de agirem em um suposto conluio a favor do ex-presidente Lula (PT). “Tiraram esse vagabundo da cadeia, colocaram ele pra ser candidato e agora querem fraudar o nosso voto”, completou.
Em tom de campanha eleitoral, André Fernandes repetiu uma notícia falsa que tem circulado nas redes sociais, sugerindo que as urnas eletrônicas utilizadas no Brasil são fabricadas na Venezuela. “Não vamos confiar em urnas eletrônicas venezuelanas”, afirmou.
A urna eletrônica brasileira, na verdade, é produzida atualmente por uma companhia nacional e nunca foi fabricada na Venezuela. Até as eleições de 2018, de acordo com o TSE, os equipamentos eram fornecidos por uma empresa norte-americana.
Após uma sequência de discursos, o ato foi encerrado com a execução do hino nacional brasileiro. Logo depois, os manifestantes desceram em caminhada pela avenida Desembargador Moreira, mesmo local onde houve atos contra Bolsonaro e a favor da vacinação em massa no último dia 3 de julho. Os organizadores não divulgaram estimativa de público.
Hostilização
Durante a cobertura do ato, a equipe do O POVO presente no local sofreu hostilidade por parte de alguns manifestantes. A reportagem foi alvo de xingamentos durante o protesto, com tentativas de intimidação ao trabalho dos jornalistas.
A todo momento, manifestantes questionavam os repórteres do O POVO sobre a presença no ato e a respeito do tipo de conteúdo que seria publicado pelo jornal. “Você vai escrever a verdade ou vai dizer que tá todo mundo sem máscara?”, insinuou uma manifestante à reportagem.
Na saída do ato, a equipe voltou a ser alvo de xingamentos e foi mais uma vez hostilizada já dentro do veículo para deixar o local.