PTB se aproxima da extrema-direita e do bolsonarismo após filiar integralistas
Atualmente receptivo a grupos extremistas, partido tinha como bandeira o trabalhismo. Mudança de perfil é conduzida por Roberto Jefferson, que incorpora um discurso "anticomunista" e armamentista
17:23 | Jul. 29, 2021
Anos após ser marcado pelo trabalhismo dos anos pré-64, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) chega em 2021 ainda mais próximo da extrema-direita no Brasil. O fenômeno acontece ao mesmo tempo em que o presidente nacional da sigla, o ex-deputado Roberto Jefferson, passou a adotar posições alinhadas com o Bolsonarismo, por meio de discursos armamentista, religiosos e anticomunistas.
As manifestações vão contra as posições tomadas nos anos 80, 90 e 2000. A legenda foi fundada em 1945 por Getúlio Vargas, tornando-se a casa das duas primeiras gerações trabalhistas, inclusive do presidente João Goulart. Historicamente, o partido vinha de uma linhagem de filiados que pouco se importavam com ideologia e colocavam no pedestal cargos e verbas.
Aleluia
Em processo de radicalização das bandeiras da extrema-direita, no mês de junho, o partido recebeu os integrantes da Frente Integralista Brasileira (FIB), entre eles o presidente Moisés José Lima. Em comunicado, o grupo conhecidos por discursos fascistas afirmou que a legenda se transformou em reduto para os integralistas que quiserem disputar eleições presidenciais e as de 2024.
O integralismo foi fundado em 1932 pelo jornalista Plínio Salgado, imitando os moldes do fascismo italiano, de Benito Mussolini. Pouco antes, o fundador até se encontrou com o líder italiano. Através do putsh, o movimento tentou derrubar o Estado Novo de Getúlio Vargas. Com o início do regime autoritário após o golpe de 1937, o momento foi bem recepcionado pelos integralistas.
Sem conseguir grandes participações no governo, o grupo atacou o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. Porém, foram presos e Salgado se exilou no Portugal salazarista. Após 80 anos, a FIB repete esse movimento ao encontrar espaço no pragmático PTB direitista.
Segundo o historiador Odilon Caldeira, autor do livro "O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo", os grupos neointegralistas sempre buscam relação com algum partido político estabelecido. A prática inicia no antigo Prona, de Enéas Carneiro, passou pelo PRTB de Levy Fidelix e agora sinaliza que deve tentar o mesmo com o PTB.
“Parece que, nesse sentido, o Roberto Jefferson virou o novo Levy. Foi Levy, na eleição de 2010, quem
ajudou a popularizar certas ideias radicais. Com a emergência das chamadas novas direitas, ele e o
PRTB fizeram um grande esforço em prol da sua radicalização”, afirma Neto ao Estadão.
Segundo o historiador, a FIB não possui muitos militantes, o que reforça a característica minoritária em que se repete em outros grupos neofascistas de outros países. Diferente do passado, eles evitam organizações de massa, como desfiles militarizados com uso de uniformes verdes e braçadeiras. Ao invés disso, passam a integrar grupos mais abrangentes e que estejam no poder.
Um grande exemplo é o advogado Paulo Fernando Melo da Costa, ex-secretário especial do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro. Ele serviu como uma espécie de guia e interlocutor da FIB com a institucionalidade e se engajou na soltura dos militantes bolsonaristas Sara Giromini e Oswaldo Eustáquio, acusados de atentar contra a democracia. Ele articulou as filiações de integralistas ao PTB.
Outro é Eduardo Fauzi, também integrante da FIB. Ele foi acusado do atentado contra a produtora Porta dos Fundos em 2019 - após a veiculação do especial de Natal em que Jesus é retratado como homossexual. Logo depois, ele fui expulso da Frente, fugiu para a Rússia e teve sua extradição pedida pelo Brasil.