Quem é padre Lino Allegri, alvo de ameaças por grupos bolsonaristas
Nascido na Itália em 1938, o sacerdote chegou a Fortaleza em 1991, quando iniciou como pároco nos bairros Genibaú e Tancredo Neves, e na comunidade das Goiabeiras, na Barra do Ceará. Atuou próximos das comunidades de base, sendo defensor dos direitos humanosA cidade de Fortaleza vivenciou nas últimas semana uma série de ataques e ameaças ao padre Lino Allegri, sacerdote da Paróquia da Paz, no bairro Aldeota. A ofensiva, realizada por bolsonaristas, aconteceu após o religioso se por manifestar criticamente às políticas do presidente Jair Bolsonaro durante sua gestão da pandemia da Covid-19, que já matou mais de 540 mil pessoas no Brasil.
Com o afastamento temporário de Lino, o mesmo grupo lotou, no último domingo, 17, a paróquia onde ele celebra, causando hostilidade e divisão entre os fiéis. Mas você sabe de fato quem é o padre Lino Allegri?
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História
Lino Allegri nasceu em 21 de dezembro de 1938, na Itália. Começou a vida religiosa ainda na infância e frequentou seminários católicos até a adolescência. O religioso estudou Teologia e foi ordenado padre em 1965. Chegou a ser vigário em paróquias italianas, onde quis ser um padre-operário. Não conseguiu por ordens superiores e, em 1970, veio para o Brasil.
No país, o sacerdote atuou em cidades interioranas da Paraíba, Bahia e Goiás, sempre em comunidades muito pobres e, a partir da Bahia, teve o irmão Ermano, também padre, ao lado. A missão o trouxe a Fortaleza em 1991, onde atuou inicialmente como pároco nos bairros Genibaú e Tancredo Neves, e na comunidade das Goiabeiras, na Barra do Ceará.
O convite para celebrar na Paróquia da Paz foi feito pelo pároco da época, o monsenhor Virgínio Asênsio Serpa. Por causa de sua condição como religioso aposentado, Lino Allegri passou a contribuir pontualmente nas capelas que atendem comunidades como a dos Trilhos e a do Campo do América. Hoje, ele celebra missas na capela de São Roque, na Sabiaguaba, na capela de Santa Terezinha, no Monte Castelo, na Comunidade do Trilho das Graças e na paróquia da Lagoa Redonda.
Allegri já foi vigário paroquial da Igreja Nossa Senhora da Conceição para a comunidade da Barra do Ceará. Atuou como diretor do Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos (CDPDH) e coordenador das Pastorais Sociais Regional do Nordeste 1, e foi assessor da Pastoral do Menor Regional Nordeste 1, ambos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele também já esteve como coordenador da Agência Anote.
O padre atuou ainda como assessor da Pastoral do Povo da Rua, sendo hoje membro da coordenação. O grupo visa estimular a promoção de ações junto à população de rua e catadores de materiais recicláveis, construindo alternativas em defesa da vida e contribuindo na elaboração de políticas públicas.
Além disso, Lino fez parte da equipe de Superação da Miséria e da Fome (Mutirão). O projeto foi criado pela CNBB, durante a celebração do seu Jubileu de Ouro (50 anos), em 2002. À época, o lançamento foi feito pelo presidente da CNBB, Dom Jaime Henrique Chemelo. A ideia do Mutirão é mobilizar, em todo o país, as dioceses, comunidades, movimentos e pastorais para, juntos com outros povos, realizar uma caminhada pela conquista do direito ao alimento e à nutrição.
Em seus trabalhos sociais, já participou da 26ª Assembleia Geral das Comunidades Eclesiais de Base do Ceará:
Sempre próximo das comunidades, o italiano costuma fazer parte de manifestações junto a movimentos sociais. Ele esteve presente em atos recentes contra o presidente Jair Bolsonaro. Em publicação, ele escreveu: "Fora Bolsonaro. Esse é o grito do povo que não quer calar".
Após décadas de sacerdócio, o padre criou ligação com o movimento Igreja em Saída, formado por sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas, que busca atender ao apelo do papa Francisco. Em 2020, Lino realizou uma reflexão sobre o Dia Internacional de luta contra a Homofobia e a Transfobia. Ele comentou como os cristãos deveriam se posicionar na luta LGBTQI+.
No vídeo, ele comenta: "Em primeiro lugar, nosso modelo é Jesus Cristo. Então ele começou a sua missão dizendo lá em Nazaré: 'Eu vim para anunciar a boa nova aos pobres, para libertar os presos, para recolocar na sociedade os excluídos'. E toda a vida deles foi o encontro continuado com esse tipo de pessoas para que que elas se sentissem valorizadas".
O padre também é defensor da Teologia da Libertação, movimento considerado apartidário e que engloba várias correntes de pensamento interpretando os ensinamentos de Jesus Cristo como libertadores de injustas condições sociais, políticas e econômicas. A vertente religiosa ganhou força no interior da Igreja Católica na década de 1960, logo conquistando a América Latina. O movimento, porém, enfrenta opositores históricos, sendo criticado e acusado de deturpar o caminho divino e adotar o marxismo como base ideológica.