Inquérito investigará ameaças de bolsonaristas a padre Lino em Fortaleza

Medida foi tomada após ataques e ameaças de apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro, contra o padre Lino Allegri, que criticou a posição de governo federal diante da pandemia

O caso de perseguição e ódio contra o padre Lino Allegri, em Fortaleza, será investigado pelas forças de segurança do Estado. Informação foi revelada pelo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), por meio das redes sociais na noite deste domingo, 18. Segundo o gestor estadual, todas as ações de bolsonaristas contra o padre integram um inquérito que ocorre sob responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), cuja abertura foi solicitada ainda na semana passada. 

"Informo que desde a semana passada determinei ao nosso secretário da Segurança para não só enviar policiais para garantir a integridade do Padre Lino como instaurar inquérito para apurar qualquer tipo de ameaça contra ele", afirmou Camilo Santana. O governador do Estado classifica o caso como "inaceitável" e frisa que não aceitará que "atitudes como essa, de ódio e intolerância, fiquem impunes". 

Conheça a história do padre italiano Lino Allegri

Em resposta ao pedido de abertura de inquérito para investigar o caso, o prefeito de Fortaleza, José Sarto Nogueira (PDT), utilizou as redes sociais para prestar apoio ao governador e desejar que os autores dos ataques e ameaças ao padre Lino "sejam devidamente responsabilizados". 

O prefeito da Capital definiu o caso como "mais um grave episódio de intolerância e uma afronta aos ensinamentos cristãos" e prestou sua solidariedade ao sacerdote ao pontuar que a hostilização sofrida pelo líder católico é "inaceitável". 

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Diante dos eventos recentes, aos 56 anos de vida sacerdotal, o padre italiano deverá solicitar o ingresso no Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (PPDDH). Na última quinta-feira, 15, o sacerdote realizou reunião virtual com membros da Defensoria Pública e do Ministério Público do Ceará (MPCE). A decisão deve-se a uma série de ameaças e ataques virtuais ocorridos na Paróquia da Paz.

O governo do estado já havia enviado duas viaturas policiais para o centro católico como forma de garantir a ordem e paz no local, além de assegurar que os apoiadores de Bolsonaro não iriam cumprir nenhuma das ameaças feitas ao padre. Durante a ocupação, O POVO, que esteve no local, registrou diversas críticas e ameaças ao padre e a igreja.

Entenda o Caso Padre Lino Allegri

No começo do mês, no dia 4 de julho, o sacerdote foi hostilizado verbalmente por pelo menos oito católicos que invadiram a sacristia. O grupo estava motivado pela revoltado contra as críticas feitas por Lino Allegri à política do presidente Jair Bolsonaro, em especial a condução desastrosa diante da pandemia da Covid-19. 

Em um sermão matutino, o padre reforçou ainda a lembrança dos mais de 500 mil mortos pela pandemia, destacando que parte de tais mortes poderiam ter sido evitadas com uma condução mais assertiva das politicas de enfrentamento ao novo coronavírus. Diante das falas do padre, alguns fiéis apoiadores de Bolsonaro retornaram após o fim da missa celebrada para rechaçar o sacerdote. 

Uma semana após o primeiro ataque, um homem, também apoiador de Jair Bolsonaro, adentrou na Paróquia da Paz gritando ofensas aos padres no domingo, 11 de julho. Na ocasião, um dos sacerdotes que comandava as celebrações era Ermano Allegri, irmão do padre Lino.

Neste caso, os fiéis se uniram em uma espécie de barreira e conseguiram expulsar o homem da igreja, que diante dos defensores dos padres, se retirou do local sob protesto. Todo ocorrido foi filmado e repercutido nas redes sociais entre aqueles que apoiaram o homem e os que criticam os ataques feitos por ele e demais apoiadores de Bolsonaro.

O caso ganhou grande adesão do grupo de bolsonaristas residente em Fortaleza, que passou a frequentar a Paróquia da Paz, no bairro Aldeota, onde o padre atua, como forma de fiscalizar a atuação de Lino. O grupo seguiu ainda com xingamentos, produzindo inclusive ameaças de agressão ao padre devido às criticas feitas ao presidente. 

Diante do ocorrido, a paróquia, em reunião com Lino, optou por afastar o padre da realização das missas, como forma de assegurar sua integridade física, mental, além de tentar evitar possíveis tumultos exacerbados pelo grupo bolsonarista dentro da igreja. 

Na manhã deste domingo, 18, um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro, vestidos em sua maioria com roupas da bandeira do Brasil e blusas estampadas com frases de apoio ao presidente, ocuparam a igreja como forma de protestar contra as atitudes do padre e o obrigar a deixar de lado às criticas a Bolsonaro. 

Em resposta à ocupação da igreja por bolsonaristas que se opõem ao padre Lino, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), revelou, por meio das redes sociais, que todas as ameaças feitas ao sacerdote estão sendo documentadas e integram um inquérito de investigação sob tutela da SSPDS. 

Padre Lino Allegri aguarda ingresso no Programa Estadual de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (PPDDH) e segue sem data determinada para seu retorno às atividades paroquiais abertas ao público. 

Lino é defensor da Teologia da Libertação, movimento considerado apartidário que engloba várias correntes de pensamento interpretando os ensinamentos de Jesus Cristo como libertadores de injustas condições sociais, políticas e econômicas. 

Acompanhe o quinto episódio do Jogo Político, com o presidente da Assembleia Evandro Leitão e a cantora carioca Teresa Cristina: 

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