Caso Lázaro Barbosa vira palanque político nas redes sociais de bolsonaristas
Movimentação recente de alguns políticos se dá porque eles têm uma "base militarizada e com forte discurso bélico", aponta especialista
12:57 | Jun. 21, 2021
A continuidade da perseguição a Lázaro Barbosa, homem foragido há cerca de duas semanas no interior de Goiás e suspeito de cometer uma série de crimes em pelo menos três estados, vem tornando-se também uma oportunidade para políticos usarem o caso como palanque nas redes sociais. No último fim de semana, dois casos chamaram a atenção e repercutiram no Brasil.
No último domingo, 20, o vereador de Fortaleza Inspetor Alberto (Pros) disse nas redes sociais que estava antecipando uma viagem para Brasília, segundo ele para um evento partidário, para ajudar a polícia na captura de Lázaro. "Eu antecipei a viagem devido a esse serial killer que está matando esse povo, lá em Goiás, resolvi sair hoje, quatro dias antes, para dar uma passada lá”, aponta o vereador em vídeo, enquanto exibe armas e munições.
Desde então, Alberto tem postado atualizações da viagem em seu perfil no Instagram. “ESTOU ORANDO PRA QUE O LÁZARO SEJA CAPTURADO ANTES DE EU CHEGAR!!!”, escreveu em publicação na qual aparece recarregando uma arma.
Outro caso foi o da deputada federal Magda Mofatto (PL-GO), que publicou vídeo nas redes sociais, no último sábado, 19, empunhando um fuzil e afirmando que está procurando Lázaro. A deputada de 72 anos apareceu a bordo de um helicóptero. "Te cuida, Lázaro. Se o Caiado (governador de Goiás) não deu conta de te pegar, eu estou indo aí te pegar", afirmou.
Na última quarta-feira, 16, o caso Lázaro virou tema de discussão nas redes sociais entre o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Rocha afirmou que Lázaro tem feito a força-tarefa policial local "quase como de boba". Caiado, por sua vez, disse não admitir desrespeitos aos policias goianos. "Se ele trata policiais do DF com grosseria, minha solidariedade a eles", rebateu.
Recentemente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aproveitou a repercussão do caso para defender a política de armamento. “Esse elemento tentou entrar numa chácara e foi repelido porque o cara tinha uma calibre doze lá dentro. Os bandidos estão armados, você não tem paz nem dentro de casa. Eu não consigo dormir, apesar de uma segurança enorme aqui no Alvorada, sem ter uma arma do meu lado”, disse.
Bolsonaro desejou sorte aos agentes de segurança que trabalham no caso. “Lázaro, no mínimo preso, é questão de tempo”, disse, dirigindo-se a policiais e demais forças de segurança; uma base social importante para a sobrevivência política do presidente. As buscas se concentram numa região de mata fechada próxima a Brasília.
Cleyton Monte, cientista político vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), analisa que uma das vertentes importantes do bolsonarismo é a relação com as forças policiais. “No Brasil todo, os grupos que têm tentáculos políticos nas polícias são aliados ao bolsonarismo. E porque eles são aliados do bolsonarismo? Porque Bolsonaro abraçou pautas dos policiais, como o excludente de ilicitude”, lembra.
Segundo Monte, a sinalização dos parlamentares se dá porque estes têm uma “base militarizada e com discurso bélico”, além da organização desses grupos nas redes sociais. “O uso político do caso ocorre porque a base desses personagens é muito engajada nas redes sociais; então você tem que fazer essa espetacularização, de todo dia ter um vídeo, uma foto, para mostrar que aquele agente está ali buscando estabelecer a ordem”, aponta.
O pesquisador conclui ainda que a postura dos políticos é também uma forma de polarizar com a esquerda. “Enquanto esses deputados e vereadores bolsonaristas defendem maior rigidez nas leis, ampliação do uso da força e publicam esses vídeos, do outro lado os agentes da esquerda discutem o caso do ponto de vista protocolar, apontando para o trabalho de inteligência da polícia e outras questões. Isso também serve para polarizar”, finaliza.
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