Baseado em fake news, Girão questiona se há células "extraídas de fetos abortados" na CoronaVac
A célula é feita com o SARS-CoV-2 inativado e replicado em outra família de células, as Vero, que são derivadas de uma linhagem de células epiteliais renais do macaco-verde africano, desenvolvida em 1962 – para cultivar o vírus utilizado na produção da vacina
15:21 | Mai. 27, 2021
*matéria atualizada às 12h55min do dia 28/5
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) questionou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante sessão da CPI da Covid, nesta quinta-feira, 27, sobre a presença de células "extraídas de fetos abortados" na CoronaVac. O boato de que vacinas são feitas com fetos abortados é antigo, tendo sendo desmentido em outras oportunidades. A CoronaVac, por sua vez, nunca utilizou esse tipo de material.
Senador da base governista, Eduardo Girão questionou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, sobre a presença de células "extraídas de fetos abortados" na Coronavac. pic.twitter.com/8Q32U4mStW
A vacina do Butantan não é desenvolvida a partir de células-tronco de fetos
Assim como explicou Dimas Covas durante sessão da CPI da Covid, a vacina é feita com o SARS-CoV-2 inativado e replicado em outra família de células, as Vero, que são derivadas de macacos. Para entender melhor, na CoronaVac, segundo artigo publicado na revista Science, foram utilizadas células Vero – uma linhagem de células epiteliais renais do macaco-verde africano, desenvolvida em 1962 – para cultivar o vírus utilizado na produção da vacina. Sendo assim, não se utilizou fetos humanos como técnica.
A vacina do Butantan é feita a partir de vírus inativados, que se multiplicam por meio da cultura das células Vero. Depois são inativados com calor ou algum produto à base de alumínio. O sistema imune vai reconhecer e responder a esse vírus, induzindo a produção de níveis de anticorpos.
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O artigo da Science que foi utilizado na propagação das fake news demonstra que, há mais de cinco décadas, embriões eram utilizados para testar ou produzir vacinas. Como linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos mais comuns temos a PER.C6, criada em 1985, obtida a partir de células da retina. E a outra, cujo nome foi alvo de boatos e distorções, é a HEK-293, criada em 1973 a partir de células renais retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda.
A partir de então, as células usadas nesses estudos passaram a ser obtidas a partir de réplicas derivadas de um embrião daquela mesma linhagem inicial e que sofreram modificações. As técnicas descritas no artigo são antigas e serviram para muitas pesquisas e testes de medicamentos e vacinas. Elas seguem sendo utilizadas até hoje, no mundo todo.
Mas é importante destacar que tais células não são componentes de vacinas; são somente utilizadas em testes para criar a proteína produzida por elas ou o vírus replicado nelas – vírus que sai da célula, fica no meio da cultura e é então coletado e purificado para a fórmula da vacina.
Girão esclarece questionamentos
Em nota, o senador justificou os questionamentos a Dimas Covas falando sobre a importância de verificar diretamente com o especialista da área as informações a veracidade ou não de algumas informações sobre células humanas e vacinas, para esclarecimento de todos.
"Foi uma ótima oportunidade para que esclarecesse essa e outras questões, pois quanto mais informações de especialistas a população tiver acesso, menor será a resistência, aumentando o estímulo à vacinação, o que contribuirá para salvar muitas vidas", disse Girão na nota.
O senador cearense agradeceu aos esclarecimentos que Covas deu durante a sessão da CPI e reforçou que todos devem se vacinar. "Isso contribuirá não só para proteger nossas vidas, mas também de outras pessoas, inclusive, de nossos familiares, e para conseguirmos debelar, finalmente, essa pandemia", complementou.
Com informações do Instituto Butantan