Quem é Mayra Pinheiro, a médica cearense que virou a "capitã cloroquina" de Bolsonaro

Atualmente secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, ela será ouvida nesta terça, 25, pela CPI da Covid. Mas a carreira política de Mayra Pinheiro não começou no governo Bolsonaro. Em 2013, a pediatra participou de movimento contra a vinda de cubanos pelo programa Mais Médicos. Crítica das gestões petistas, atuou como presidente Sindicato dos Médicos do Ceará e se candidatou para cargo no Congresso Nacional duas vezes pelo PSDB

A médica cearense e secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro será ouvida nesta terça-feira, 25, pela CPI da Covid. Ela é a oitava pessoa a depor na comissão, que entra na sua quarta semana de trabalhos. Mayra seria ouvida na semana passada, mas uma mudança ocorreu após o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello ser suspenso e remarcado para a última quinta-feira, 20.

Já candidata ao Senado Federal em 2018 pelo PSDB no Ceará, quando conquistou mais de 882 mil votos, foi no dia 21 de março deste ano que a pediatra ganhou maior projeção nacional, após ganhar o apelido de "capitã cloroquina" ao defender o amplo uso de medicamentos sem comprovação científica para a doença, como a ivermectina e a hidroxicloroquina. Eles formam o chamado do “tratamento precoce”. Conheça a história da secretária.

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Críticas ao programa Mais Médicos

Em 2013, a pediatra cearense participou de movimento contra a vinda de cubanos pelo programa Mais Médicos . A principal demanda do grupo, à época, era o fim do programa, que proporcionou a entrada de 8 mil médicos cubanos sistema de saúde pública do Brasil. Por meio de um acordo de cooperação com o governo de Cuba, os profissionais da ilha caribenha eram chamados a trabalhar em municípios onde faltavam médicos. Muitas das vagas eram rejeitadas por profissionais locais. 

Conhecida pela posição contrária ao Mais Médicos, Mayra foi uma das que participou da manifestação que recepcionou com vaias e xingamentos os médicos cubanos na chegada a Fortaleza, em 2013, para trabalhar no programa.

Sindicato dos Médicos do Ceará

Em março de 2015, Mayra assumiu o comando do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) para o triênio 2015-2018. Já filiada ao PSDB, ela comandou a cerimônia de posse, no Centro Eventos. À frente do sindicato, ela liderou movimentos contra o governo federal. Em vídeo do Facebook, ela aparece em manifestação com o Dr. Carmelo Silveira Carneiro Leão Filho, presidente da Associação Médica Cearense (AMC).

O apoio da Associação Médica Brasileira a ajudou durante sua candidatura como senadora em 2018. Nas redes sociais, ela apareceu em vídeo da instituição falando sobre temas relacionado à categoria médica. 

 

Eleições

Mayra se candidatou duas vezes para o Congresso Nacional. Em 2014, disputou eleição para o cargo de deputada federal pelo PSDB, mas não se elegeu. Em sua campanha, ela focou discurso crítico contra a gestão Dilma Rousseff (PT), tendo como alvo principal o programa Mais Médicos. Terminou o pleito como segunda mais votada candidata do PSDB, com 25,8 mil votos, mas não foi eleita. Desde então, prosseguiu com atos contra a petista na Capital.

Em 2018, a médica foi candidata a senadora pelo mesmo partido, porém. Ficou em quarto lugar, com 11,3% dos votos, mas isso foi suficiente para aumentar o capital político da médica. Ela formou chapa com Eduardo Girão (Pros), que também buscava assento no Congresso Nacional e acabou eleito, impondo histórica derrota ao então senador Eunício Oliveira (MDB)

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O nome de Mayra ganhou força após a desistência do ex-senador Luiz Pontes, principal cotado para a vaga. Ele deixou a disputa após pedido da família. Antes dele, o ex-governador do estado, Lúcio Alcântara, também havia negado convite. A pediatra apoiou o ex-candidato tucano ao Governo do Ceará em 2018, General Theophilo, que perdeu o pleito para o atual governador Camilo Santana (PT). 

Veja entrevista de Mayra Pinheiro ao programa Live Política: 

Governo Bolsonaro

Sindicalista e ex-candidata tucana, Mayra simpatizava e mantinha proximidade com o então deputado federal Jair Bolsonaro. Com a eleição de 2018, ela entrou no governo Bolsonaro por uma espécie de “cota” reservada ao movimento médico apoiador do presidente desde a época da campanha eleitoral. Logo, o futuro ministro da Saúde, Henrique Mandetta, convidou a ex-presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará para assumir a Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde (SGTES). Nas redes sociais, a médica compartilha fotos com o presidente da República.

É esta Secretaria que administra o programa "Mais Médicos", sempre criticado por Mayra. Ela chegou a sugerir que Mandetta alterasse o nome do programa para "Mais Saúde", visto que o projeto tem uma abrangência para além dos profissionais da medicina. Sob supervisão de Mayra, foi lançado um edital com 8.500 vagas, somente para médicos brasileiros. A iniciativa não foi exatamente um sucesso: apenas 53% das vagas foram preenchidas e 31 municípios não receberam médico algum.

Cloroquina

Com a pandemia do coronavírus, durante  sua atuação na Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde (SGTES), Mayra se agarrou à cloroquina e à efetividade do “tratamento precoce”. Seu tom de defesa dos medicamentos passou a aumentar após Bolsonaro insistir, em vários momentos, que era possível combater a Covid-19 com drogas feitas, por exemplo, para tratar malária. 

Em vídeo postado nas redes sociais em maio de 2020, Mayra afirmou que quem não receitasse o coquetel cloroquina e azitromicina – um antibiótico –poderia ser acusado de “crime contra a humanidade”. Em meio à reclamações de médicos que atuam na linha de frente no combate à pandemia e da própria Organização Mundial da Saúde, ela permaneceu na defesa da cloroquina. O auge foi a criação do aplicativo TrateCov. 

O aplicativo foi lançado em Manaus – onde pacientes morriam às dezenas por falta de oxigênio. Segundo o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e Mayra, a ferramenta serviria para auxiliar o diagnóstico dos doentes. Porém, simulações feitas por jornalistas mostraram que o aplicativo prescrevia cloroquina até para bebês. Com a imensa repercussão negativa, Pazuello se apressou em dizer que o aplicativo foi colocado no ar por um hacker. 

CPI da Covid

No dia 6 de maio, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), protocolou requerimento à presidência da Comissão para a convocação de Mayra Pinheiro à Casa para falar sobre o estímulo ao uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. A secretária afirmou que iria à comissão, no Senado, para prestar esclarecimentos sobre a gestão da pandemia. Ela recebeu um total de quatro requerimentos de convocação.

A CPI citou a ida da cearense a Manaus (AM), dias antes do colapso no sistema de saúde local, para onde teria viajado para disseminar o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. Em entrevista à imprensa, Pinheiro chegou a dizer que pretende “ falar a verdade para 210 milhões de brasileiros”. "Vou contar a verdade. Os fatos reais. Aqueles que nunca tivemos a oportunidade de falar. A população recebe narrativas que nem sempre condizem com a verdade”, afirmou. Entretanto, ela acabou conseguindo um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) e poderá permanecer em silêncio apenas quando questionada sobre fatos ocorridos entre dezembro ano passado e janeiro deste ano, quando estourou a crise de desabastecimento de oxigênio hospitalar em Manaus. 

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