Igreja Universal sinaliza ruptura com governo Bolsonaro após omissão em crise na Angola
Religiosos apontam falta de esforços do governo federal para resolver o problema da deportação de pastoresO governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode perder o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus. A possível ruptura pode acontecer após religiosos manifestarem a falta de respostas diante da deportação de pastores de Angola. O alerta foi feito a partir de pessoas próximas ao bispo Edir Macedo, fundador da igreja, e de congressistas do Republicanos, partido ligado à instituição evangélica.
Nesta sexta-feira, 14, o bispo Renato Cardoso, responsável pela Igreja Universal no Brasil e genro de Macedo, criticou diretamente o governo Bolsonaro em entrevista ao Jornal da Record, emissora do fundador da Universal. Cardoso falou em “decepção” e apontou “omissão” por parte do governo brasileiro no caso envolvendo conflitos sobre a permanência de pastores da Igreja Universal em Angola.
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Mais um grupo de missionários da Igreja Universal deportados de Angola chega ao Brasil #JornalDaRecord #JR24H pic.twitter.com/256ZIjuKvM
“O que mais nos indigna não é o que está acontecendo lá em Angola. É a ausência de autoridades brasileiras para interceder pelos pastores, pelos brasileiros em um país estrangeiro. Até quando o governo brasileiro vai ficar calado, passivo, diante desta situação?”, disse Cardoso.
O pastor disse que os religiosos são parcela importante da base de apoio do governo. Nas eleições de 2018, Edir Macedo apoiou e continua manifestando a defesa de Bolsonaro.“[O governo] já deveria estar fazendo cumprir os seus tratados internacionais com a Angola. Esse é o protesto, especialmente do povo cristão, do povo evangélico, do povo católico, que apoiou esse governo, faz parte da base do governo. Mas, agora recebe em troca uma omissão. É muito triste e decepcionante para o povo cristão no Brasil”, declarou Renato Cardoso.
O conflito entre evangélicos da IURD e o governo foi a alegada inação das autoridades brasileiras à ordem de deportação de 34 brasileiros do país africano. A medida foi imposta depois que a instituição religiosa disse ter identificado comportamento impróprio de angolanos e afastado essas pessoas do comando da Igreja Universal do Reino de Deus naquele país africano.
Em 2020, os angolanos determinaram o fechamento de templos da igreja da IURD no país, após a instituição ser acusada de atos ilegais, entre eles fraude fiscal e exportação ilícita de capitais. A igreja respondeu que recorreria da decisão. Bolsonaro chegou a enviar, em julho de 2020, carta ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, demonstrando preocupação e solicitando a resolução do conflito.
No Congresso Nacional, cerca de 1/3 da bancada de 33 deputados do Republicanos tem proximidade com a Igreja Universal. O partido tem um ministro no governo federal: João Roma, na pasta da Cidadania. Apesar da cúpula da sigla descartar um rompimento com o governo por causa desse caso de Angola, nos próximos dias, o grupo deve adotar tom mais crítico ao governo.
Na última quinta-feira, 13, um dos deputados ligados à Universal, Márcio Marinho (Republicanos-BA), discursou no plenário da Câmara contra a ausência do governo brasileiro na polêmica. “Até agora, nós não vimos nenhum comportamento de apoio aos missionários brasileiros por parte desse governo”, disse.
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