Entenda por que o conflito entre palestinos e israelenses se arrasta há anos e não está perto do fim

Independentemente da época, a lógica permanece: a disputa entre árabes e judeus envolvendo questões religiosas e disputas territoriais

A escalada de violência mais recente entre as forças de segurança de Israel e os palestinos vêm se intensificando dia após dia durante toda esta semana. Entretanto, o conflito entre as duas partes é antigo e se arrasta ao longo de décadas com pontos de maior tensão em determinados períodos da história. Independentemente da época, a lógica permanece: a disputa entre árabes e judeus envolvendo questões religiosas e disputas territoriais.

Jerusalém, a cidade Santa, é o ponto de convergência das feridas ainda não cicatrizadas entre os povos do Oriente Médio. O local. onde estão santuários de cristãos, judeus e muçulmanos, tem uma capacidade singular de acirrar os ânimos. O simbolismo dos locais sagrados e sua proximidade, literalmente lado a lado, de tempos em tempos geram crises.

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O estopim para o atual choque, o mais violento dos últimos anos na parte árabe da cidade, foi a ameaça de despejo de pelo menos quatro famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em favor de colonos judeus. A lei de Israel determina que se judeus provarem que familiares viviam em Jerusalém Oriental antes de 1948, podem reivindicar propriedades. Pelo menos 67 pessoas morreram na Faixa de Gaza e sete em Israel nos atuais confrontos.

Além disso, houve forte vigilância israelense sobre os palestinos durante o período do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. Granadas de choque foram utilizadas dentro da Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, superado apenas por Meca e Medina. O Hamas deu o passo incomum de emitir um ultimato a Israel para retirar suas forças do complexo de Al-Aqsa e de Sheikh Jarrah e, posteriormente, disparou foguetes contra territórios judeus. Após a ofensiva, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu disse: "As organizações terroristas em Gaza cruzaram a linha vermelha... Israel responderá com grande força".

Israel bombardeou territórios palestinos com aviões, destruindo um prédio de 13 andares, na Faixa de Gaza e suas adjacências. O Hamas, grupo que controla a localidade, revidou com mais de 800 foguetes e, apesar do sistema de defesa antimísseis israelense, conhecido como Domo de Ferro, ter conseguido interceptar cerca de 90% deles, alguns atingiram o centro do país, Tel Aviv. A intensidade da ofensiva dos grupos Hamas e Jihad islâmica marca uma virada nos ataques vindos de Gaza e revela o poderio ofensivo dessas organizações.

Histórico

Em sua fase moderna, o confronto entre Israel e Palestina volta ao ano de 1947, quando a Organização das Nações Unidas (ONU), após a II Guerra Mundial, propôs a criação de dois Estados, um judeu e um árabe, no território comandado pelos britânico à época. O acordo não vingou e o Estado de Israel foi proclamado no ano seguinte (1948), dando início a uma série de eventos violentos.

Países como Egito, Jordânia, Síria, Iraque e Líbano invadiram o território na sequência, gerando a primeira guerra árabe-israelense, também conhecida pelos judeus como a “guerra de libertação”. A vitória israelense fez com que o território originalmente planejado pela ONU para o estado árabe fosse reduzido pela metade. Começava o que os palestinos chamam de “Nakba”, palavra árabe equivalente a "catástrofe". A data é lembrada como o dia em que mais de 700 mil árabes-palestinos foram forçados a fugir para países vizinhos.

Vinte anos mais tarde, em 1967, ocorreu a batalha que transformaria a geografia na região: a Guerra dos Seis Dias. O novo conflito entre judeus e uma coalizão de países árabes terminou com Israel tomando o controle de diversos locais, dentre eles a Cisjordânia (inclusive Jerusalém Oriental), além das Colinas de Golã, na então Síria, e da Península do Sinai e da Faixa de Gaza, sob administração egípcia à época.

Posteriormente, em 1973, estourou a Guerra do Yom Kippur, que colocou Egito e Síria unidos contra Israel, numa tentativa árabe de recuperar territórios ocupados na disputa anterior. O resultado final, entretanto, foi favorável a Israel. Em 1979, os egípcios tornaram-se o primeiro país árabe a chegar a um acordo de paz com Israel.

Solução possível(?)

Uma solução imediata - e distante - apontada por membros de referência da comunidade internacional é a criação de um Estado palestino que coexista em paz com o estado judeu de Israel. Entretanto, alguns fatores embarreiraram o processo, como a distribuição de novas fronteiras e o direito de retorno dos refugiados palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas terras na ocupação judias, fator rechaçado por Israel, que alega que isso acarretaria na perda de sua identidade.

Além disso, interesses políticos de ambos os lados têm travado a resolução para manter posições internas. Na prática, nenhum dos lados tende a ceder em nome da paz. Centros de pesquisa como o Carnegie Endowment for International Peace e o US/Middle East Project publicaram relatório conjunto argumentando que a primeira prioridade deve ser garantir direitos iguais para palestinos e israelenses.

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Desde 2015, os episódios de violência entre palestinos e israelenses: 

2015

A tensão entre o movimento islâmico palestino Hamas e Israel aumentou recentemente após vários dias de confrontos em Jerusalém Oriental. A seguir, os principais episódios de violência entre israelenses e palestinos desde 2015.

Em setembro de 2015, um ano após a terceira guerra entre a Faixa de Gaza e Israel, três dias de confrontos foram registados entre palestinos e policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.

Em 1º de outubro, dois colonos foram mortos a tiros por palestinos em seu veículo na Cisjordânia. No dia 9, a violência se espalhou para Gaza, onde sete jovens palestinos foram mortos por tiros israelenses. No dia seguinte, Israel afirma ter frustrado um ataque e realizado uma incursão em represália ao lançamento de um foguete, matando uma mulher palestina grávida e sua filha.

Entre outubro de 2015 e o final de 2016, os ataques mataram mais de 240 palestinos e 36 israelenses. De acordo com Israel, a maioria dos palestinos mortos eram autores ou supostos perpetradores de ataques, muitas vezes realizados com arma branca.

2017

Em 14 de julho de 2017, três árabes israelenses mataram dois policiais na Cidade Velha de Jerusalém, antes de serem mortos na Esplanada das Mesquitas. Israel diz que as armas usadas estavam escondidas na praça e fecha o acesso ao terceiro local mais sagrado do Islã por dois dias.

No dia 16, novas medidas de segurança são estabelecidas, incluindo detectores de metais e câmeras de vigilância. As tensões se transformam em confrontos entre manifestantes palestinos e forças israelenses em Jerusalém Oriental (3 palestinos mortos) e na Cisjordânia.

Sob forte pressão internacional, Israel retira as novas medidas de segurança.

2018

Em 30 de março de 2018, manifestações palestinas começam ao longo da barreira que separa a Faixa de Gaza de Israel para denunciar o bloqueio e exigir o "direito de retorno" dos palestinos expulsos de suas terras ou que fugiram na época da criação de Israel, em 1948.

Em 14 de maio, dia da transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém, o exército israelense mata pelo menos 62 palestinos durante manifestações na Faixa de Gaza.

Em 11 de novembro, um ataque das forças especiais israelenses em Gaza mata sete palestinos e um oficial israelense.

2019

De 4 a 5 de maio de 2019, um surto de violência entre grupos armados palestinos e Israel custou a vida de 25 palestinos, dos quais pelo menos nove são combatentes, e quatro civis israelenses.

Grupos palestinos disparam centenas de foguetes contra Israel, aos quais o exército israelense responde atingindo centenas de alvos em Gaza.

De março de 2018 até o final de 2019, os disparos do exército israelense mataram quase 350 palestinos. Oito israelenses morrem.

2021

Em 3 de maio de 2021 começam os confrontos no bairro Sheikh Jarrah, perto da Cidade Velha de Jerusalém Oriental, durante uma manifestação em apoio às famílias palestinas ameaçadas de despejo de suas casas em favor de colonos judeus.

De 7 a 10 de maio, mais de 700 palestinos foram feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas.

Na noite de 10 de maio, Israel lança ataques mortais na Faixa de Gaza, em resposta aos disparos de foguetes deste enclave palestino controlado pelo Hamas.

Desde então, vários grupos armados em Gaza dispararam mais de 1.000 foguetes contra várias cidades israelenses, incluindo Tel Aviv.

De acordo com o ministério da Saúde de Gaza, os ataques israelenses mataram pelo menos 48 pessoas no enclave, incluindo 14 crianças.

Em Israel, os foguetes disparados de Gaza mataram cinco pessoas e feriram dezenas, de acordo com a polícia e serviços de emergência.

Segundo fontes oficiais palestinas, dois palestinos foram mortos nesta quarta-feira em confrontos com o exército israelense na Cisjordânia ocupada.

E o Hamas anunciou a morte de vários de seus comandantes, incluindo Bassem Issa, chefe de seu braço militar em Gaza.

O balanço total de vítimas é de pelo menos 50 vítimas no novo episódio de violência.

 

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