Massagem, sakê e cerveja: entenda por que a picanha ostentada por Bolsonaro é tão cara

Valor elevado se dá devido ao processo de criação do boi, que envolve fatores como a idade para o abate e o longo tempo de confinamento, em que o animal alimenta-se apenas de ração especial

15:04 | Mai. 11, 2021

Por: Vítor Magalhães
Boi Wagyu, de raça nobre de origem japonesa, tem um dos cortes de carnes mais caros e saborosos do mundo, sendo disputado nas cozinhas da alta gastronomia (foto: Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu/Divulgação)

O churrasco promovido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no último domingo, 9, que teve picanha de cerca de R$ 1,8 mil o quilo, deu o que falar nas redes sociais. A picanha de gado da raça wagyu, de origem japonesa, é cara por fatores que englobam os métodos de criação dessa raça de boi. O valor da peça de carne utilizada no churrasco presidencial foi revelado em reportagem da coluna Cozinha Bruta, da Folha de S.Paulo.

Na tradução literal, wagyu é “gado japonês", mas nem toda carne do Japão pode ser considerada wagyu. A carne desse animal é cara devido ao restrito número de criadores, se comparado a outras raças de gado mais tradicionais, e ao processo de criação do boi, que envolve fatores como a idade para o abate e o longo tempo de confinamento, no qual o animal não pasta e alimenta-se apenas de ração especial. A raça também é responsável pela produção direta do lendário Kobe Beef, que tem esse nome por causa da cidade japonesa de onde o boi é originário.

A engorda do gado é técnica e leva em consideração a ração, o ambiente favorável e o conforto para os animais. A transferência para o confinamento implica na imposição de uma série de alterações na dieta e na redução do espaço disponível por animal.

Há relatos de que produtores menores dão cuidados especiais aos animais, com administração de sakê ou cerveja em suas dietas, ou ainda massagens para aliviar a tensão e deixar os músculos mais relaxados. A gordura do Wagyu possui um sabor melhor, chegando a ser adocicada, além de derreter a temperaturas menos elevadas. 

Outro ponto importante que valoriza a carne é a desossa. Por ser uma carne nobre, é necessário um processo bem mais cuidadoso. Some a isso os custos de inseminação artificial e também certificação.

De acordo com o site da Associação brasileira dos criadores de Bovinos da Raça Wagyu, esse tipo de gado foi introduzido no Japão no século II com a finalidade de tração animal no cultivo de arroz. Devido a região em questão ser montanhosa e de difícil acesso, a introdução do gado foi restrita. O resultado, com o passar do tempo, foi uma melhoria genética da raça com habilidades para entremear gordura na carne, o que é chamado de "marmoriazação". 

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Com o passar do tempo, geneticistas desenvolveram métodos para selecionar touros que tinham habilidade e potencial genético de transmitir essa característica própria de entremear gordura na carne para seus descendentes. Essa seleção natural foi melhorando até chegar ao patamar atual que, nesse quesito, supera todas as outras raças.

No Brasil, ainda segundo a associação, existem aproximadamente 37 mil animais com a genética wagyu, sendo 30 mil cruzados com outras raças e aproximadamente 7 mil puros. De acordo com a entidade, que também tem a missão de identificar e certificar cada um dos bichos "preciosos", os primeiros exemplares chegaram ao País nos anos 1990.

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