Telegramas mostram que Ernesto Araújo mobilizou Itamaraty para garantir cloroquina
Araújo, que deixou a pasta no fim de março, será ouvido pela CPI da Covid do Senado na próxima quinta-feira, 13 de maioTelegramas diplomáticos revelaram que o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, mobilizou o Itamaraty para garantir fornecimento de cloroquina ao Brasil, mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) interromper testes clínicos com a droga posteriormente constatada como ineficaz para o tratamento da Covid-19. A mobilização ocorreu após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falar em “possível cura para a doença”, em março do ano passado. Os documentos foram obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo.
"Hospital Albert Einstein e a possível cura dos pacientes com Covid-19. Agora há pouco, os profissionais do hospital Albert Einstein me informaram que iniciaram um protocolo de pesquisa para avaliar a eficácia da cloroquina nos pacientes com Covid-19", escreveu. No dia anterior, o hospital havia anunciado que tinha iniciado estudos com o medicamento.
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Em declaração durante reunião do G-20, em 26 de março, relatada em um telegrama, Bolsonaro falou em “testes bem-sucedidos, em hospitais brasileiros, com a utilização de hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados pela Covid-19, com a possibilidade de cooperação sobre a experiência brasileira”.
No mesmo dia, um telegrama do Itamaraty pediu a diplomatas que tentassem “sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas antes referidas [EMS, Eurofarma, Biolab e Apsen] e outras que se encontrem em igual condição, cujo desabastecimento no Brasil teria impactos muito negativos no sistema nacional de saúde”, segundo a Folha. À época, o governo indiano restringia a exportação do medicamento.
Em outra comunicação, no dia 15 de abril, o ministério pediu à embaixada na Índia para fazer gestões junto ao governo local para liberar uma carga de hidroxicloroquina comprada pela empresa Apsen antes de a exportação ser vetada por Déli. Durante todo o mês de abril, houve inúmeros pedidos do Itamaraty para obtenção de cloroquina
Em janeiro, telegramas obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, pela agência Fiquem Sabendo, comprovavam que o Itamaraty intermediou a compra de hidroxicloroquina entre empresas brasileiras e indianas. Foram revelados emails trocados ainda no começo da pandemia no País, entre o diplomata Elias Luna Santos, da embaixada do Brasil em Nova Délhi, com empresas indianas. Em uma das conversas, Santos fala sobre acordo em que empresas indianas forneceriam ingredientes de hidroxicloroquina a empresas brasileiras que, em contrapartida, venderiam comprimidos da substância à Índia.
Araújo, que deixou a pasta no fim de março, será ouvido pela CPI da Covid do Senado na próxima quinta-feira, 13, para explicar temas ligados à sua gestão e se houve prejuízo na aquisição de insumos e vacinas por causa da política externa adotada por ele.