Conheça os países que ainda apostam no lockdown para conter o contágio e as mortes por Covid-19
Nesta semana, o Reino Unido iniciou o processo de flexibilização do seu terceiro lockdown, abrindo pubs, academias, lojas e cabeleireirosO Brasil vem enfrentando uma alta constante no número de mortes pela Covid-19, chegando a 365 mil óbitos até esta quinta-feira, 15 . Na contramão de muitos países como Inglaterra e Portugal, que adotaram o lockdown nacional, o governo brasileiro tem demonstrado resistência em implementar tal medida. No último dia 3, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que "evitar o lockdown é a ordem". No ano de 2021, mesmo com as campanhas de vacinação tendo iniciado na maior parte do mundo, alguns países ainda estão adotando o lockdown como medida para reduzir o número de contaminação e, consequentemente, óbitos.
O lockdown nacional como medida de combate a novas variantes do vírus
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Na Europa, devido a nova variante do Reino Unido, a B.1.1.7, que se mostrou mais contagiosa, os casos de covid-19 tiveram um aumento significativo, o suficiente para preocupar as autoridades. Esse está sendo o caso da Alemanha, na qual a variante é responsável por 90% dos registros de contágios atuais da doença. O ministro da saúde do país, Jens Spahn, apelou para que os estados alemães imponham medidas mais restritivas como o lockdown, isso em meio a 9 mil infecções a mais que as contabilizadas na quinta da semana passada, chegando a 29.426 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas.
Para o professor de medicina e epidemiologista Antônio Lima, doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), a medida restritiva é de fundamental importância para a redução do surgimento de novas variantes.
“Os vírus mutam ao longo da sua transmissão (...). O lockdown inibe a possibilidade de novas variantes na medida em que ele diminui a circulação viral, que é o fundamento do surgimento de variantes.” afirmou o epidemiologista.
Em Portugal, após imposição de lockdown rígido de dois meses, iniciado em janeiro, o país diminuiu a marca de quase 900 infecções por 100 mil habitantes para menos de 30. o primeiro-ministro António Costa, em pronunciamento, afirmou que o plano de retomada das atividades "é conservador, a conta gotas, de forma a não correr riscos", tendo a previsão de resultar na volta de certa "normalidade" da vida pública e privada dos portugueses a partir de 3 de maio, dia em que as últimas restrições seriam eliminadas.
O lockdown como prevenção do aumento de casos
Na Oceania, a Austrália decretou lockdown de três dias na região metropolitana de Brisbane, uma das maiores cidades da Austrália, no fim de março. A medida foi tomada após terem sido detectados 10 casos de coronavírus no estado de Queensland, quatro por transmissão local. A atitude das autoridades segue a política de imposição de lockdown em curto período sempre que aparecem casos de transmissão local de Covid-19. O país teve apenas um óbito nos últimos quatro meses.
O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Moacir Tavares, acredita que o lockdown aliado ao atendimento antecipado e vacinação é fundamental nesse momento. “O lockdown é a medida mais restritiva não farmacológica, ele sozinho não (consegue conter a contaminação). Ele é coadjuvante a vários outros processos, entre eles atender todas as pessoas, monitorar, isolar, vacinar e atender precocemente.” disse o doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.
Lockdown e campanha de vacinação em massa
O Reino Unido já enfrentou três confinamentos, tendo maiores resultados no último lockdown, que foi iniciado em janeiro e estava alinhado à campanha de vacinação em massa. Os números reduziram drasticamente do maior pico diário de mortes em toda a pandemia, 1.359 óbitos em 19 de janeiro, para 36 mortes no dia 23 de março. O fim do lockdown e reabertura gradual da economia começaram nesta segunda-feira, 12. Quase 60% da população britânica já recebeu a primeira dose da vacina e as autoridades estão prevendo que, até julho, todos os adultos tenham recebido uma das doses.
Israel, assim como o Reino Unido, também passou por três confinamentos, o último começou a ser flexibilizado em fevereiro deste ano. Lá, mais de 55% da população já foi vacinada com as duas doses. Ainda assim, o ex-diretor-geral do Ministério da Saúde de Israel, Gabriel Barbash, em entrevista à BBC News Brasil, falou sobre o lockdown e a vacinação. "Em nenhum lugar do mundo, vacinação é tudo. É preciso restringir a mobilidade das pessoas. Só vacinar não é suficiente. Se deixarmos o vírus correr solto, aumentamos a chance de que novas variantes mais resistentes surjam", conclui Barbash.
Na França, desde o último dia 3, foram impostas regras mais restritivas para frear o avanço dos casos de Covid-19 em todo o País. Durante um mês, a circulação de pessoas será limitada, com as escolas e o comércio não essencial ficando fechados.
A população não pode sair depois das 19 horas ou se deslocar, a qualquer momento, a mais de 10 quilômetros de suas casas, exceto por motivos de trabalho ou médicos. Creches e escolas primárias e secundárias estão fechadas até 26 de abril, pelo menos, assim como lojas não essenciais.
A situação piorou após a disseminação da variante britânica do vírus. Agora, essa cepa, que é considerada mais contagiosa e mortal, se tornou a versão majoritária do vírus na França. Segundo o ministro da Saúde, Olivier Véran, a cepa britânica já responde por "80% das infecções". Para tentar evitar a expansão de outras cepas, principalmente a brasileira, conhecida como P1, a França anunciou a suspensão de todos os voos com o Brasil até pelo menos 19 de abril.
O país ultrapassou 100.000 mortes nesta quinta-feira (15), informaram autoridades de saúde, quando enfrenta uma terceira onda com hospitais sob forte pressão. Apenas o Reino Unido (127.000 mortos) e a Itália (115.000) já haviam ultrapassado essa marca simbólica na Europa, mas outros países, como Bélgica e Portugal, apresentam maior taxa de mortalidade per capita.
"Todas as nossas forças estão posicionadas na batalha contra a epidemia (...) mas chegará a hora de homenagens e luto pela Nação", disse o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, na quarta-feira."No momento não superamos a terceira onda" e "não atingimos o pico de internações, o que significa que ainda temos dias muito difíceis pela frente", acrescentou.
Atualmente, cerca de 6.000 pacientes com Covid estão sendo tratados em unidades de terapia intensiva (UTI), o que tem forçado vários estabelecimentos a adiar cirurgias não urgentes. É a primeira vez desde abril de 2020 que essa taxa de ocupação de leitos na UTI foi atingida.
O Irã iniciou neste sábado, 10, um lockdown de dez dias para conter a quarta onda de infecções por coronavírus no país. A força-tarefa do governo iraniano encarregada de determinar as medidas de combate à pandemia ordenou o fechamento da maioria das lojas em cidades declaradas como "zonas vermelhas", ou seja, com alto perigo de contágio.
Na América Latina, o Chile se destacou no enfrentamento à pandemia que, assim como os países citados, também apostou na campanha de vacinação massiva. Contudo, mesmo após mais de 45% da população já ter recebido a primeira dose da vacina, o país contabilizou mais de 5.000 contágios diários em março, passando de 8.000 nos primeiros dias do mês de abril. O relaxamento nas medidas de segurança e a excessiva confiança dos cidadãos, derivada da rápida campanha de vacinação, foram apontados como causa dos aumentos. Com isso, ainda em março, 70% da população chilena entrou em confinamento. Algumas regiões que antes estavam em lockdown apenas aos fins de semana, como a costeira Viña del Mar ou a distante Iquique, passaram a ter a medida em todos os dias da semana.
“O lockdown é utilizado como medida última quando você tem um padrão de crescimento de casos que pode tender ao exponencial e o número elevado de morte e pressão assistencial. (...) O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Boris Johnson, disse que o lockdown lá foi mais importante do que a própria vacina para derrubar os casos. O lockdown tem a sua importância, agora desde que feito oportunamente, sobretudo para reduzir a transmissão comunitária e desafogar os hospitais”, explicou o doutor Antônio Lima.
(com agências)
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