Justiça condena tio de Michelle Bolsonaro por envolvimento em milícia e grilagem de terras

Indícios apontam que os policiais militares eram milicianos e atuavam para beneficiar esquema ilegal de parcelamento de terras. Esse é o terceiro parente de Michelle envolvido com o mundo do crime. Ela já teve uma avó presa por tráfico de drogas e a mãe investigada por falsificação ideológica

11:40 | Abr. 13, 2021

Por: Filipe Pereira
Segundo a mulher do presidente Jair Bolsonaro, tais ofensas seriam repercussão de um texto publicado sobre sua relação conjugal (foto: AGÊNCIA BRASIL )

A Justiça do Distrito Federal condenou, nesta terça-feira, 13, sete policiais militares a 10 anos de prisão por organização criminosa, sendo um deles o primeiro-sargento João Batista Firmo Ferreira, tio da primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro. Os militares foram presos no âmbito da Operação Horus, deflagrada em maio de 2019 pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF)  e que desarticulou o grupo envolvido em grilagem de terras. Esse é o terceiro parente de Michelle envolvido com o mundo do crime. Ela já teve uma avó presa por tráfico de drogas e a mãe investigada por falsificação ideológica.

João Batista e outros membros, no entanto, ganharam liberdade em abril de 2020. Ele é acusado de participar de uma milícia responsável pelo esquema. As investigações também tiveram apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Indícios apontam que os policiais militares eram milicianos e atuavam para beneficiar esquema ilegal de parcelamento de terras.

A ação foi batizada de Horus – o deus do sol, segundo a mitologia egípcia - como uma referência ao Sol Nascente, local onde acontecia o parcelamento ilegal de terras. Na região, vivia também a avó de Michelle, Maria Aparecida Firmo Ferreira. Ela veio a óbito em agosto do ano passado, aos 80 anos, vítima da Covid-19, e já foi presa por tráfico de drogas. A mãe de Michelle, Maria das Graças Firmo Ferreira, também tem ficha na polícia, sendo investigada por falsificação ideológica. 

Segundo as investigações, os acusados foram responsáveis pelo surgimento de dezenas de loteamentos ilegais na área. Ao portal Metrópoles, a PMDF informou que colaborou com as investigações e que o caso corre sob sigilo de Justiça.

A denúncia do MP descreve que o tio de Michelle Bolsonaro, assim como os demais membros, “negocia lotes de ‘beco’ [áreas destinadas originalmente para passagens de pedestres] e outros terrenos de áreas públicas ‘griladas’”. Um dos diálogos, conforme a investigação, revela o modo de funcionamento do esquema criminoso, que se valia de violência para expulsar pessoas dos lotes de interesse.

Em um trecho da denúncia, do dia 31 de julho de 2015, revelado pelo Metrópoles, o primeiro-sargento comenta “que tem um vagabundo querendo invadir a chácara de novo”. “João narra que falou para o cara ligar para ele cedo, porque ele vai ‘arruma’ (sic) uns pistoleiros. João diz que já mobilizou ‘uns polícias’ (sic) lá para ajudá-lo”, diz. 

A participação de Batista na venda de lotes é evidenciada em outros diálogos. Em 16 de junho de 2015, ele disse que vendeu um barraco “na 115” por R$ 60 mil. O interlocutor questiona se o governo não demoliu e ele afirma “que derrubou, mas já construiu novamente, murou e tem gente morando lá e que a pessoa que comprou vende por R$ 80 mil”.

A operação é um desdobramento de investigação iniciada na 19ª Delegacia de Polícia em 2013. Ao longo do trabalho, foi identificado, dentro da organização criminosa, um núcleo que atuava como braço armado para cometer crimes relacionados às invasões de terras – entre eles, ameaças e homicídios.