"Difícil tomar a decisão sem apoio federal", diz Cabeto sobre lockdown
O secretário da Saúde do Ceará avaliou que as medidas tomadas pela esfera federal não foram adequadas para o combate a pandemia, tanto em relação à promoção do isolamento social como para a imunização contra a doença
21:52 | Abr. 12, 2021
O secretário da Saúde do Ceará, Carlos Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, disse que o Estado, em um “mundo ideal”, deveria continuar em lockdown devido ao atual cenário epidemiológico do novo coronavírus. Ele reclamou da falta de apoio do governo federal no combate à pandemia, assim como no suporte para que as pessoas consigam cumprir as medidas de isolamento social e impedir a disseminação do vírus.
“Essa é uma decisão muito difícil, principalmente quando você toma uma decisão sem qualquer apoio federal. O ideal é fazer o isolamento rígido, com bloqueio de fronteiras, mas para isso você precisa dar apoio à população para que ela sobreviva”, disse o secretário durante reunião do Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19 no Grande Bom Jardim e demais Periferias de Fortaleza.
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Cabeto ponderou que a maior parte da arrecadação de impostos dos cearenses é destinada aos cofres da União, o que dificulta que a federação se articule para dar apoio financeiro e logístico para que as pessoas fiquem em casa durante o período de lockdown. “Ninguém consegue deixar um País como o nosso em isolamento (rígido) de 60 ou 90 dias. A comunidade não tolera, você passará a ter indicadores sociais gravíssimos”, ponderou o secretário.
Secretário considera que Brasil errou na estratégia de vacinação: “Chegou tarde”
Durante o evento, o secretário ainda avaliou negativamente a forma como o Brasil tem executado a política de vacinação contra a Covid-19. Ele considerou que o País errou na estratégia para imunizar a população e enfrenta uma “falta de coordenação nacional” para aplicação das doses.
No início das reuniões com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), em agosto do ano passado, Cabeto afirma que já se falava sobre a possibilidade de incorporação tecnológica para produção de vacinas e de parcerias com a indústria internacional. “Isso evidentemente não aconteceu. Infelizmente, o Brasil chegou tarde e errou na estratégia (de vacinação)”, ressaltou.
Para o gestor, as mudanças deveriam começar com o público que seria vacinado. Ele analisou que seria mais efetivo vacinar em massa pessoas de regiões que enfrentam um cenário epidemiológico mais crítico e impedir que a doença se espalhasse para outros territórios. "Isso é inteligência em saúde e está sendo feita em alguns lugares do mundo”, disse.
A atual política de vacinação do Plano Nacional de Imunização (PNI), coordenada pelo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é baseada em grupos prioritários de cada federação e não leva em conta a situação dos indicadores de cada território. Os grupos vacinados atualmente variam de acordo com cada estado ou cidade. Neste domingo, por exemplo, Fortaleza começou a vacinar profissionais da segurança pública.
Cabeto falou ainda sobre o projeto de lei chamado de “camarote das vacinas”, que foi aprovado na Câmara dos Deputados e pretende flexibilizar a compra de vacinas por empresas privadas. O secretário argumenta que a vacinação é um problema “eminentemente público" e o projeto pode acabar ocasionando um “erro de equidade” na escolha da população de risco que será vacinada.
Em relação às vacinas russas da Sputnik V, compradas diretamente pelo Ceará, o secretário disse que o Estado cederá as doses para o PNI caso seja solicitado pelo governo federal. Caso isso não ocorra, as vacinas serão aplicadas exclusivamente na população cearense, representando um avanço significativo na imunização do Estado.
Nesta segunda, o governador Camilo Santana (PT) entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para autorização da entrada dos imunizantes no Brasil. Ele tomou a decisão após declarar publicamente, em transmissão ao vivo em que a flexibilização do lockdown foi anunciada, que avaliava tomar o caminho judicial para liberação das doses. Na última semana, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também adotou a mesma definição.