Os 20 erros de Bolsonaro durante a pandemia

No dia em que o País chega à triste marca de 300 mil mortes pela Covid-19, O POVO listou 20 pontos que revelam como o presidente da República se posicionou em alguns momentos da pandemia, e de que forma isso prejudicou o combate ao novo coronavírus no País

Com o sistema de saúde em colapso, o Brasil é hoje o segundo país com mais mortos pela covid-19 do mundo, com número de óbitos diários batendo consecutivos recordes. Nesta quarta, 24, chegamos a uma marca assustadora: 300 mil mortes.

Uma das saídas para essa tragédia seria a imunização em massa da população. Mas o País só aplicou sua primeira vacina contra a Covid-19 em 17 de janeiro de 2021, graças à atuação do Instituto Butantan e do governador de São Paulo João Dória (PSDB). Após pouco mais de dois meses e meio, cerca de 6% da população havia recebido uma das duas doses necessárias, e apenas 2% estavam totalmente imunizados, segundo dados levantados pelo consórcio de veículos de imprensa.

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Na comparação com países como Israel, Reino Unido e Chile, o ritmo é bastante lento, e as vacinas, por enquanto, são insuficientes para atender a população durante o avanço da pandemia.

Recusa e críticas à CoronaVac, falta de acordos e diálogo com governadores e negação da gravidade da doença. O POVO listou 20 pontos que revelam como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se posicionou em alguns momentos na pandemia e como isso agravou a crise sanitária no País. Acompanhe:

1. Menosprezo pela doença e a “gripezinha”


Exatamente um ano atrás, em 24 de março de 2020, Bolsonaro chamava a pandemia de "gripezinha" em pronunciamento em cadeia nacional. "O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Devemos, sim, voltar à normalidade".
"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho", afirmou durante pronunciamento.

2. Recusa para comprar a CoronaVac


O governo Jair Bolsonaro aceitou a proposta da Fiocruz (o único de 2020), mas, em outubro do ano passado, rejeitou uma proposta do Butantan que previa a entrega de 45 milhões de doses da CoronaVac até dezembro de 2020 e outras 15 milhões no primeiro trimestre de 2020. O acordo garantiria ao menos 60 milhões de doses na primeira fase de vacinação.

A vacina estava sendo desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Na época, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, defendeu fechar o acordo, mas o presidente Jair Bolsonaro foi contra. Pesaram na decisão uma disputa política com o governador de São Paulo, João Doria, e a pressão de militantes de direita que levantavam desconfiança sobre uma vacina produzida na China.

"Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso", disse Bolsonaro no dia 21 de outubro, em entrevista à rádio Jovem Pan.

Bolsonaro também manifestou publicamente sua opinião contrária à vacina chinesa. Em resposta a usuários do Facebook, o presidente reforçou que o Brasil não comprará o imunizante da China e falou até em “traição“.

Mais cedo, em mensagens a seguidores no Facebook que criticavam o anúncio do Ministério, Bolsonaro já afirmava que a compra não seria realizada:

"Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Eu só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da Ditadura chinesa", comentou um seguidor. Na sequência, Bolsonaro respondeu: "Não será comprada"

Bolsonaro também se manifestou em outra publicação, na qual o seguidor disse que o presidente traiu os eleitores ao comprar a vacina. "Qualquer coisa publicada, sem qualquer comprovação, vira traição", respondeu Bolsonaro, afirmando que as notícias publicadas sobre a intenção de compra eram mentirosas.

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3. Isolamento internacional

Em maio de 2020, junto aos EUA, o Brasil não aderiu ao projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS) que visava acelerar o desenvolvimento de uma vacina e de remédios contra o novo coronavírus. Com o mundo há dois meses em estado de pandemia, a iniciativa foi lançada em conjunto com governos de aproximadamente 40 países e entidades privadas, o ACT Accelerator — uma plataforma de cooperação internacional. O projeto visava facilitar o acesso global a novos remédios e kits de testagem.

4. Ausências de respostas ao TCU

Por volta do mês de agosto do ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) estipulou um prazo de 60 dias para que a Casa Civil do governo federal apresente um plano detalhado de vacinação da população brasileira. Não houve resposta do governo, cuja manifestação afirmou que a requisição deveria ser feita ao Ministério da Saúde.

5. Recusa para aquisição da Pfizer

O laboratório americano Pfizer fez a primeira proposta de venda de 70 milhões de doses para o Brasil em agosto de 2020. A oferta foi reforçada outras vezes. Apesar do CEO da farmacêutica enviar uma carta a Bolsonaro, o governo recusou as propostas. Na época, o Ministério da Saúde justificou que as cláusulas do contrato com a Pfizer eram abusivas. Os negociadores da empresa denunciaram a inabilidade do governo na negociação.

6. Bolsonaro: “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”

No mesmo mês, diversos países começam a intensificar as discussões em torno da vacinação, logo, o presidente voltou seus discursos neste sentido. Porém, as falas de Bolsonaro focaram na defesa da liberdade de escolha daqueles que não querem se vacinar. Ao ser questionado por apoiadora sobre a segurança das vacinas, em 31 de agosto de 2020, o presidente afirma: “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”.

A Secretaria de Comunicação da Presidência reproduziu a frase do presidente em uma rede social com as seguintes mensagem: "o governo do Brasil preza pelas liberdades dos brasileiros” e “Impor obrigações definitivamente não está nos planos”.

 

O Governo do Brasil investiu bilhões de reais para salvar vidas e preservar empregos. Estabeleceu parceria e investirá...

Publicado por SecomVc em Terça-feira, 1 de setembro de 2020

Para a imprensa, a Secom reforçou a fala de Bolsonaro "Pesquisas revelam que cerca de 90% dos brasileiros tomarão vacina contra a Covid-19. Assim, o governo federal estabeleceu parcerias e investirá pesado pela vacina. Porém o Brasil é uma democracia, o governo é liberal e seu Presidente não é um tirano", disse.

7. Em embate com Dória, presidente desautoriza Pazuello sobre CoronaVac

Em 20 de outubro de 2020, Eduardo Pazuello anuncia a compra pelo governo federal da vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o instituto Butantan, ligado ao governo paulista, comandado por João Doria (PSDB). No dia seguinte, Bolsonaro desautoriza o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e refere-se à Coronavac como “a vacina chinesa de João Doria” e diz que ela “não será comprada”.

- A vacina chinesa de João Dória: - Para o meu Governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população,...

Publicado por Jair Messias Bolsonaro em Quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Bolsonaro chegou a criticar Dória: “Querido governador de São Paulo, sabe que sou apaixonado por você. Poxa, fica difícil né? Ninguém vai comprar tua vacina na marra, tá ok? Procura outro. Eu que sou governo, o dinheiro não é meu é do povo. Procura outro para pagar tua vacina”.

8. Bolsonaro comemora incertezas sobre CoronaVac

Próximo do fim de 2020 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu por dois dias os testes da Coronavac. A empresa queria confirmar a falta de ligação entre a morte de um voluntário e o imunizante. Depois, a desconexão dos fatos foi confirmada. Apesar da notícia ser recebida com preocupação pelo governo de São Paulo, Bolsonaro comemora vitória, reforçando posição contra o imunizante.

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu o presidente em comentário no Facebook.

Bolsonaro sobre vacinação
Bolsonaro sobre vacinação (Foto: Reprodução)

9. Vacinação e o jacaré

No começo de dezembro de 2020, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anuncia em entrevista ao canal CNN Brasil um acordo de intenção de compra de vacinas da Pfizer/BioNTech. Também afirma que é possível que o uso do imunizante no país comece em dezembro de 2020 ou no mês seguinte. Todavia, as negociações não avançam.

Durante declaração dada num evento na Bahia na mesma época, Bolsonaro falou uma frase que virou piada. O presidente afirmou que não se responsabilizaria por qualquer efeito colateral, com pessoas podendo “virar um jacaré”.

“Lá no contrato da Pfizer, está bem claro: ‘nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral’. Se você virar um jacaré, é problema seu”, disse.

10. Plano impreciso

No final de 2020, atendendo à determinação do ministro Lewandowski, o governo federal entrega ao tribunal um documento que prevê a disponibilização para grupos prioritários de 108 milhões de doses. Na lista de imunizantes, está incluída a CoronaVac. Sem datas definidas para início e término do plano, Pazuello promete apenas que as vacinas serão distribuídas aos estados em até cinco dias após a autorização da Anvisa para seu uso.

O programa revoltou um grupo formado por 36 cientistas que aparecem como integrantes do plano. Os pesquisadores dizem que não endossaram plano de vacinação do governo.

O Ministério da Saúde informou que os pesquisadores que tiveram seus nomes citados no plano nacional de vacinação contra a covid-19 foram convidados a discutir a estratégia, mas não tiveram "poder de decisão na formalização do plano".

11. Bolsonaro: “Eu não vou tomar vacina e ponto final”.

Prestes a terminar o ano de 2020, Bolsonaro concedeu entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes. Na ocasião, disse: “Eu não vou tomar vacina e ponto final. Se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu. Desde o começo eu falei pro meu pessoal, esse vírus é igual uma chuva vai chegar e pegar em todo mundo".

12. “Pressa da vacina não se justifica”

Durante declaração em dezembro de 2020 em uma entrevista que concedeu a um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente Jair Bolsonaro disse: “A pandemia, realmente, está chegando ao fim. Temos uma pequena ascensão agora, que chama de pequeno repique que pode acontecer, mas a pressa da vacina não se justifica”

13. Bolsonaro sobre compra de vacinas por empresas privadas: “Eu não vejo nada demais nisso aí”

Em fevereiro de 2021, a Anvisa dá autorização definitiva para o uso e comercialização da vacina da Pfizer no Brasil. É a primeira aprovação do gênero (a Coronavac e a vacina de Oxford tinham apenas autorização emergencial, para uso exclusivo do setor público). Logo, o Congresso Nacional aprova um projeto que prevê critérios para a compra de imunizantes pela rede privada.

Um mês antes da aprovação, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em live que a clínica privada que desejar comprar vacinas contra a covid-19 podem fazê-lo. O chefe do Executivo ainda ressaltou que “não criará problemas” em relação às aquisições.

“Eu não vejo nada demais nisso aí [compra de vacinas por empresas privadas] (...). A gente não vai criar problema no tocante a isso aí, se uma empresa quiser comprar lá fora e vender aqui, quem tiver recursos vai e toma vacina lá, mas nós vamos oferecer de forma universal e não obrigatória”.

14. "Lamentamos as mortes, a vida continua", diz Bolsonaro após 200 mil óbitos da Covid-19

No dia em que o Brasil atingiu a marca de 200 mil mortos pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse lamentar os óbitos, mas que "a vida continua". O mandatário usou pouco mais de um minuto para comentar a marca, em uma live nas redes sociais que superou uma hora de duração.

"A gente lamenta hoje, estamos batendo 200 mil mortes. Muitas dessas mortes com Covid-19, outras de Covid-19, não temos uma linha de corte no tocante a isso aí. Mas a vida continua. A gente lamenta profundamente, estou preocupado com minha mãe que tem 93 anos de idade. Se contrair o vírus, [ela] vai ter dificuldade pela sua idade, mas temos que enfrentar isso aí", disse o presidente.

15. Presidente: “Vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe!”

Sem um plano nacional organizado de imunização, os Estados negociam a compra de doses independentemente do governo federal. No Nordeste, governadores negociam a compra da Sputnik V, da Rússia, ainda não aprovada pela Anvisa.

Ao responder em março de 2021 a apoiadores que o acompanhavam em um vento na cidade mineira de Uberlândia, Bolsonaro diz: “Tem idiota nas redes sociais, na imprensa, ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe! Não tem para vender no mundo!”

16. Aglomerações

Desde o ano de 2020, o presidente vem promovendo aglomerações durante suas passagens por regiões do Brasil. A prática não é recomendada durante a pandemia, pois a transmissão da Covid-19 ocorre porque a transmissão pelo vírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas. Mesmo assim, o presidente ignorou regras sanitárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por decretos estaduais. 

A visita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Ceará gerou aglomeração no município de Tianguá, a cerca de 315 quilômetros da Capital. A agenda do gestor, para assinatura de ordens de serviço para obras em estradas federais, incluiu passagens por Caucaia e Fortaleza.

 

17. Atraso na criação de um comitê de crise para Covid-19

O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira, 24, a criação de um comitê que ser reunirá semanalmente para decidir e direcionar os rumos do combate à pandemia do novo coronavirus. Contudo, a iniciativa é tomada após um ano de pandemia, momento em que o Brasil bate mais uma marca na pandemia, registrando mais de 3 mil mortes por Covid em um dia pela primeira vez. Foram 3.158 mortes pela doença nas últimas 24 horas. 

Em diversos momentos, o chefe do Executivo nacional evitou diálogo com governadores - tensionando sua relação com os mesmos - e com representantes dos Poderes. O comitê aparece após constantes cobranças do presidentes da Câmara de Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e seus respectivos parlamentares. 

18. Troca consecutiva de ministros 

O cardiologista Marcelo Queiroga é o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro. Já passaram por lá os também médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Ambos deixaram a pasta depois de desentendimentos com o presidente. Com a saída de Teich, o general da ativa Eduardo Pazuello assumiu a pasta –ainda interinamente– em 15 de maio. Foi efetivado em 16 de setembro, ficando lá até o dia 15 de março. A troca constante foi motivo de críticas, revelando a constante instabilidade da Pasta. 

 

19. Defesa do "tratamento precoce" e compra em massa de cloroquina

Mesmo após membros da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) refutarem a existência de tratamento precoce contra a covid-19, o presidente da República continua defendendo o tratamento preventivo da doença.

"Não desisto do tratamento precoce. Não desisto. A vacina é para quem não pegou ainda. E essa vacina é 50% de eficácia. Jogar uma moedinha para cima, é 50% de eficácia [...] E o tratamento precoce, mais uma prova que dá certo, é que, em questão de poucos meses, nós éramos um país que tinha mais mortes por milhão de habitantes. Agora estamos, se não me engano, em 25º lugar. Só tem uma explicação", disse o presidente em janeiro na saída do Palácio da Alvorada.

Mesmo alertado por técnicos do Comitê de Operações de Emergência (COE)  a não adquirir e produzir cloroquina em massa durante a epidemia causada pelo novo coronavírus, o Ministério da Saúde contrariou a decisão em produziu em massa o remédio, sem eficácia comprovada para tratar a Covid-19. 

O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército ampliar a produção de cloroquina, gastando mais de R$ 1,5 milhão na fabricação do medicamento. Na época, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que não participou da decisão. O Laboratório chegou a ser alvo do Tribunal de Contas da União (TCU) por suposto superfaturamento nas compras de cloroquina em pó. 

20. Presidente vai ao STF contra decretos dos governadores

Até o dia 22 de março, o presidente Jair Bolsonaro disse que continua sem acreditar na efetividade do lockdown, isso é, da medidas de restrição à circulação de pessoas e funcionamento de comércio e serviços para tentar frear o avanço da pandemia de covid-19.

Além de promover aglomerações, o presidente se manteve contra às medidas de isolamento mais severas decretadas por governadores. O argumento é que a prática atrapalha a produção de emprego e auxilia no aumento da fome. Com a escassez de vacinas hoje, a medida é uma das mais eficazes para frear o crescimento da pandemia no Brasil. 

 

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