Após defender novo lockdown e ser ignorado, Nicolelis deixa comitê científico do Nordeste
As informações são da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo. A comunicação da decisão teria sido feita há duas semanas.O neurocientista Miguel Nicolelis deixou a coordenação do comitê científico do Consórcio Nordeste, responsável por pensar e propor medidas de combate à transmissão do novo coronavírus. As informações são da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo. A comunicação da decisão teria sido feita há duas semanas. Até o momento, ele não quis comentar a decisão.
Segundo pessoas próximas a Nicolelis, ele teria tomado essa decisão após ficar insatisfeito com os governos que não adotaram as orientações elaboradas pelo comitê, como a decretação de novos lockdows. Alguns decidiram pelo toque de recolher, como foi o caso do Ceará e da Bahia, algo que ele considera paliativo e sem eficácia para barrar a disseminação da Covid-19.
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"Acabou. A equação brasileira é a seguinte: ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021", afirmou Nocolelis no início de janeiro, em suas redes sociais.
Em 4/01/21 eu postei:
— Miguel Nicolelis (@MiguelNicolelis) February 18, 2021
Acabou. A equação brasileira é a seguinte:
Ou o pais entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021.
Desde então, múltiplas cidades entraram em colapso e estamos chegando a 250 mil mortos!
E agora José?
Em entrevista à rádio O POVO CBN no último dia 6 de janeiro, o cientista defendeu que a medida seria essencial para "evitar segunda leva de mais de 300 mil mortes em 2021".
Questionado sobre o embasamento estatístico para sugerir um novo lockdown em todo o Brasil, Nicolelis trouxe à tona o recente caso de Manaus, que decretou estado de emergência por 180 dias e sofre com a sobrecarga de hospitais e cemitérios. "O prefeito teme que nos próximos dois meses possa ter um colapso funerário, ou seja, não seria possível dar conta do número de corpos resultantes da pandemia. A cidade está completamente fora de controle, possui taxa de ocupação hospitalar próxima de 100% e com filas de espera já", afirma.
PÁGINAS AZUIS | Miguel Nicolelis: A peleja da ciência contra a besta-fera da ignorância
"Naquele momento (em que publicou nas redes sociais), eu tinha terminado uma análise de todas as capitais brasileiras e visto que, por exemplo, no Nordeste, oito, das nove capitais, apresentavam tendência de crescimento do número de casos de coronavírus. Isso antes mesmo da gente computar o efeito das festas natalinas e de réveillon", explica. "Nós tínhamos, pelo menos, três capitais com velocidade de contaminação maior do que no começo da primeira onda, em março e abril, mostrando claramente que nós temos que agir antes que o efeito das festas de final de ano seja sentida, que vai ser nas próximas semanas", complementa o neurocientista, que também cita maiores taxas na região Sul e em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.
Na percepção de Nicolelis, a questão mais emergencial com o novo avanço da pandemia recai nos sistemas hospitalares, que podem não suportar as altas demandas de infecção em um futuro breve. Ao constatar que a taxa de crescimento das contaminações pelo vírus está atingindo índices superiores aos registrados no início da pandemia, ele sugere isolamento social mais rígido: "o Brasil precisaria seguir o exemplo do Reino Unido e fazer um lockdown de duas a três semanas, para baixar o crescimento e evitar o colapso até que nós tenhamos a campanha nacional de vacinação nas ruas".
O médico ainda demonstrou forte oposição às ações do governo federal, do qual chama a atenção. "Nós temos que ter um Comitê Nacional com todas as instituições e lideranças essenciais para que esse plano seja posto em prática o mais rápido possível. O Ministério da Saúde precisa entender e o Governo Federal precisa entender que não há mais tempo a perder, acabou a margem de manobra", defende. "Não temos mais nenhum tempo a perder para evitar uma segunda leva de mais duzentos ou trezentos mil óbitos em 2021, e evitar com que a pandemia se estenda até 2022."
Ouça a entrevista de Miguel Nicolelis à rádio O POVO/CBN na íntegra: