Eleições 2020: entenda o que é um empate técnico nas pesquisas
Você já deve ter ouvido falar sobre o conceito, mas sabe o que significa? Com a chegada das eleições, é importante que, além de conhecer as propostas dos candidatos, saibamos também como as pesquisas eleitorais são realizadas
11:28 | Out. 28, 2020
Depois de explicar o que são margem de erro e intervalo de confiança nas pesquisas eleitorais, O POVO agora vai falar um pouco sobre outro termo bastante utilizado nesse período eleitoral: empate técnico. Você já deve ter ouvido falar sobre o conceito, mas sabe o que significa? Com a chegada das eleições, é importante que, além de conhecer as propostas dos candidatos, saibamos também como as pesquisas eleitorais são realizadas, já que elas são importantes instrumentos para a democracia.
Segundo o próprio Ibope, é considerado empate técnico quando a diferença entre os candidatos se encontra dentro das margens de erro das pesquisas, ou seja, quando há superposição dos respectivos intervalos de confiança dos candidatos.
Então, por exemplo: vamos supor que em uma determinada pesquisa a margem de erro seja de três pontos percentuais. O candidato A tem 27% das intenções de voto e o candidato B tem 30%. Nesse cenário, o candidato A pode ter um índice entre 24% e 30%, enquanto o candidato B terá de 27% a 33% das intenções de voto. Portanto, ambos poderão ter seus indicadores entre 27% e 30%, em uma superposição que caracteriza o empate técnico.
Em uma outra pesquisa, realizada nas mesmas condições, o candidato A poderia ter 29% e o candidato B também 29%, ou o candidato A ter 30% e o candidato B 27% das intenções de voto.
Esse mesmo raciocínio também vale para dizer se uma eleição acabará ou não no primeiro turno. Considerando uma pesquisa cuja margem de erro é de três pontos percentuais, o candidato A tem 38% das intenções de voto e a soma dos demais candidatos é 35%, não se pode afirmar que a eleição acabará no primeiro turno, pois a diferença entre o índice do primeiro colocado e a soma dos demais está dentro da margem de erro da pesquisa.
Para poder afirmar que uma eleição acabará no primeiro turno, a diferença entre a intenção de voto do primeiro colocado e a soma das demais candidaturas deve ser superior à margem de erro da pesquisa.
Exemplos de empate técnico em pesquisas eleitorais
A eleição presidencial de 2014 é um ótimo exemplo para entendermos o que é um empate técnico. Durante todo o processo eleitoral, as intenções de votos para os presidenciáveis se alteraram bastante, o que possibilitou a construção de vários cenários diferentes.
O Datafolha fez uma série de pesquisas presidenciais naquele ano, que mostravam o crescimento de Aécio Neves e a perda de votos de Marina Silva. A partir da quarta pesquisa realizada pelo instituto, as intenções de voto dos dois candidatos passaram a se sobrepor. Esta é situação em que dizemos que dois (ou mais) candidatos estão empatados tecnicamente, com Aécio chegando a 26% de intenções de votos e Marina com 24%.
Já a pesquisa divulgada pelo Ibope naquele primeiro turno indicava Aécio Neves com 30% dos votos válidos, mas o percentual real do candidato foi de 33,55%. Novamente, considerando a margem de erro máxima de 2 pontos (na verdade essa margem é menor do que os 2 pontos divulgados, na medida que o percentual do candidato é mais baixo) e o nível de confiança de 95%, poderíamos argumentar que a probabilidade de que as intenções de voto do candidato fossem maiores que os 33,5% obtidos, de acordo com a pesquisa, era menor que 0,1%.
Interessante notar, entretanto, que não só o instituto Ibope, como todos os demais grandes institutos de pesquisa capturaram com precisão a tendência de crescimento do candidato Aécio Neves nos últimos dias de campanha, que o levaram a desbancar a candidata Marina Silva (na época pelo PSB) na busca de uma vaga para disputa do 2⁰ turno com a candidata Dilma Rousseff.
Diferenças dessa magnitude, ou mesmo maiores, não são incomuns quando se analisa outras pesquisas ou mesmo outras eleições, aumentando o nível de descrença geral dos eleitores nesses levantamentos. Mas o descrédito pode vir da má compreensão de termos estatísticos e não de erros metodológicos dos institutos em si.
Um outro ponto dessa mesma eleição é o segundo turno, que foi disputado por Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Às vésperas do segundo turno, os candidatos apresentavam, segundo as principais pesquisas, percentuais de intenção de votos bem próximos. A pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha na noite de sábado antes do segundo turno, indicava a candidata Dilma Rousseff com 52% dos votos válidos, contra 48% do candidato Aécio Neves. Como a margem de erro da pesquisa era de 2 pontos percentuais, o empate técnico entre os dois candidatos era anunciado.
Dito dessa forma, a interpretação casual indicaria que havia uma probabilidade razoável, ou ao menos considerável, de que Dilma estivesse atrás de Aécio. Mas se pararmos para analisar que o nível de confiança da pesquisa é de 95%, podemos interpretar, de uma forma não tão rigorosa, que a probabilidade real de Dilma ter menos de 50% dos votos naquele momento era de apenas 2,5%. Muito menor, portanto, que o termo “empate técnico” pode deixar transparecer.
Na mesma eleição, é interessante analisar os resultados das pesquisas de boca-de-urna do primeiro turno de 2014, em comparação aos resultados reais obtidos. De forma geral, uma pesquisa boca-de-urna, feita no dia da eleição, deveria ser a que melhor retrata os percentuais de intenção de votos reais de cada candidato, pois é feita de forma concomitante com a votação em si. As informações são de sites especializados em pesquisas eleitorais e estatísticas, como Ibope, Opus - Pesquisa e Opinião e a Giant Steps Capital.
Agora que você já conhece alguns termos técnicos das eleições, fique atento/a para a segunda pesquisa O POVO/Datafolha para Prefeitura de Fortaleza, que será anunciada nesta quarta-feira, 28.
Consulta ouviu 868 pessoas entre os dias 26 e 27 de outubro. A margem de erro é de três pontos percentuais, enquanto a taxa de confiança é de 95%.