Moro justifica silêncio durante reunião ministerial: "não existe espaço ali para o contraditório"
O ex-ministro avaliou também que faltou ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), "impulso" no combate à corrupçãoEm entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, justificou seu silêncio durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, tornada pública na última sexta-feira, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito que apura a suposta interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Moro criticou a falta de espaço para opiniões que divergiam com as do presidente da República.
Questionado sobre sua saída da reunião após ter ficado em silêncio e de braços cruzados em todo o período que esteve presente, Moro disse: “Eu estava bastante desconfortável e incomodado com a reunião, como eu já disse não tinha espaço para o contraditório e eu acabei saindo porque queria ter saído antes”.
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Sobre silêncio após o ministro Abraham Weintraub (Educação) defender cadeia a ministros do STF, Moro afirmou não ser “presidente da reunião”. “Eu não estava confortável, parece muito claro, me sentia incomodado por vários aspectos. Veja, eu estou dentro de um governo e eu tenho algumas limitações do que posso externar publicamente, e eu já tinha esse problema que vinha há tempos em relação à Polícia Federal”. comentou.
Em relação a falta de diálogos com Bolsonaro sobre temas que envolvessem a PF, o ex-ministro disse que preferiu esperar outro momento.“Quando em relação das coisas relativas a interferência na Polícia Federal eu tinha uma reunião com o presidente na quinta-feira, no dia seguinte e sinceramente acho que esses assuntos eram mais apropriados a serem discutidos numa reunião entre eu e o presidente” disse.
Moro afirmou ter percebido uma “subida de tom nos últimos meses” por parte de Bolsonaro. O ex-ministro também comentou sobre a ausência da discussão sobre formas de enfrentamento ao novo coronavírus na reunião, afirmando que o presidente tem uma posição “negacionista em relação a pandemia” e que outros aspectos relacionados aos conteúdos do encontro “deveriam ser questionadas ao presidente da República”.
Sérgio Moro avaliou que faltou ao presidente da República, Jair Bolsonaro, "impulso" no combate à corrupção. Segundo Moro, a situação é diferente da imaginada por bolsonaristas. "Me desculpem aqui os seguidores do presidente, se essa é uma verdade inconveniente, mas essa agenda anticorrupção não teve um impulso por parte do presidente da República para que implementássemos", disse. Moro deixou o ministério em 24 de abril, acusando Bolsonaro de querer interferir na direção da Polícia Federal.
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >Segundo o ex-ministro, o presidente exige subserviência do ministério, o que contrariaria suas próprias convicções. "Eu acho que a minha lealdade ao próprio presidente demanda que eu me posicione com a verdade, com o que eu penso, e não apenas concordando com o presidente. Se for assim, não precisa de um ministro; precisa de um papagaio", disse.
Perguntando sobre o ato de Bolsonaro de olhar em sua direção ao falar em 'interferir' na reunião, Moro afirmou achar que “o vídeo fala por si”. “Isso evidencia que ele tava falando do assunto da Polícia Federal. Tem que analisar os fatos que aconteceram anteriormente” disse.